Portugal // Austeridade contra os bombeiros sapadores~ 3 min

Por Duarte Guerreiro

Imagine-se um trabalho que requer disponibilidade permanente para fazer coisas peculiares como correr para dentro de edifícios e florestas em chamas com várias dezenas de quilos de equipamento às costas. Um trabalho onde se lida com a vida e a morte de forma regular e se enfrenta a possibilidade real de um dia deixar a pele no serviço, ou de ver o mesmo a acontecer a companheiros ou desconhecidos que não se conseguiu salvar.

Pensar-se-ia que a tais profissionais se prestaria o respeito mínimo de lhes dar condições condignas de trabalho e subsistência. Como a todos os outros que cumprem um papel social indispensável. Fala-se claro dos bombeiros sapadores, mas poderiam ser os professores, os médicos, os enfermeiros, os recolhedores de lixo e os varredores de rua; todos aqueles que zelam pelo bem-estar, instrução e saúde da sociedade.

Aos olhos de sucessivos governos, estas profissões não passam de massas salariais a cortar. Ao que não se dá em termos de condições de trabalho da parte do Estado é pedido que seja compensado pelos trabalhadores em ética cristã. O trabalho socialmente útil é visto como um privilégio de quem o faz, uma forma de caridade, indigno sequer pedir condições de trabalho.

Foi por isso que no dia 25/10/2018, o governo PS aprovou um novo estatuto para os bombeiros profissionais, sem consultar nem aceitar reuniões com sindicatos, que representam a maioria dos bombeiros profissionais.

Resumidamente, a nova regulamentação irá traduzir-se em:

  • Idade de reforma sobe 10 anos para os 60. Pensem nas pessoas com 60 anos que conhecem e imaginem-nas a escalar prédios para chegar a um incêndio em turnos de 12 horas.
  • Mais de 1 400 horas de formação (o equivalente a 58 dias contínuos) para um trabalho que irá pagar menos que o salário mínimo (580€), depois de descontados os suplementos de risco, penosidade e disponibilidade permanente.
  • Fim da progressão na carreira em termos práticos. São criadas novas posições remuneratórias mas não é possível aceder-lhes.
  • Eliminação de cargos necessários ao funcionamento da organização, de modo a evitar promoções.
  • Introdução de chefias sem experiência prática, abrindo caminho a surgirem os mesmos problemas de direcção e capacidade de resposta que se têm verificado noutras estruturas de resposta a emergências civis.

É transparente que as medidas visam cortar novamente na massa salarial de funcionários públicos e nada têm que ver com o bom funcionamento da instituição. Depois, quando vierem os fogos de Verão, os bombeiros sapadores logo serão pagos em likes de Facebook e abraços em frente às câmaras de televisão enquanto andam aí pelos montes e vales a fazer a sua forma peculiar de caridade.

Segunda-feira 14, os bombeiros sapadores irão concentrar-se às 14:30 em frente ao Ministério do Trabalho na Praça de Londres em Lisboa.

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