Falácias da prostituição: moralismo~ 3 min

Por Aline Rossi

Parte dois de três. Parte um sobre revisionismo e branqueamento.

A falácia do moralismo

Primeiramente, vale a pena ressaltar que é no mínimo curioso que enquanto abolicionistas do sistema prostituinte argumentam contra indústrias, opressões e noções prejudiciais de direitos civis citando estatísticas e estudos, as pessoas pró-regulamentação da demanda falam contra… abolicionistas, especialmente feministas. E entre seus argumentos mais frequentes está a acusação de moralismo.

É um estilo argumentativo interessante rebater estatísticas e análises estruturais com acusações de moralismo e alcunhas como “antissexo”, mas, sendo assim tão comum, é importante desmontar essa falácia.

Essa é uma argumentação que dobra não pela lógica ou pela coerência, mas pela vaidade. Ninguém quer ser comparado aos conservadores. Ninguém quer ser um moralista. Não nos círculos de esquerda, pelo menos.

A frente de mulheres anarquistas em Espanha, Mujeres Libres, que lutaram durante a Guerra Civil Franquista, também apontava a prostituição como uma opressão patriarcal capitalista à mulher.

Agora, ninguém tem medo de ser acusado de moralista ou “anti-amor” por criticar o casamento: nós sabemos que a crítica não é sobre pessoas que se relacionam, mas sobre uma instituição que privatiza o trabalho reprodutivo e alimenta o sistema económico e político capitalista. E não assumimos que alguém é anti-comida ou anti-alimentação porque essa pessoa critica a indústria fast food. Mas quando criticamos a indústria do sexo, seja pela prostituição tradicional ou a prostituição tecnologizada (aka: pornografia) – vale ressaltar, uma das maiores do mundo, que fatura mais que Amazon, Netflix, Google e Microsoft JUNTOS – somos chamados de “moralistas”.

Aparentemente, existe um campo em que a análise estrutural materialista não é permitida. Mesmo que esse campo seja uma indústria bilionária feita sobre tráfico humano e trabalho alienado.

Nenhuma abolicionista ou crítica à indústria do sexo escapa à acusação de moralismo. Nem mesmo Andrea Dworkin, autora feminista reconhecida pela sua militância antipornografia e antiprostituição e que foi prostituta “por escolha” durante anos, evitou ser acusada de moralismo. O que dizer de mulheres que foram prostitutas, que foram militantes pela regulamentação inclusive, e hoje são abolicionistas? Mulheres como Sabrinna Valisce, na Nova Zelândia, Nomonde Mihali, na África do Sul, Rachel Moran, na Irlanda, e Vednita Carter, nos Estados Unidos?

Abolicionistas do sistema prostituinte não criticam a prostituição porque é “sexo fora do casamento”, porque “sexo tem que ter amor” ou qualquer romantização esdrúxula. Abolicionistas criticam a industrialização do sexo e a comodificação do corpo humano. Porque a prostituição, como a pornografia, distorcem e obliteram os direitos civis e humanos das mulheres a partir do momento em que legitima que o acesso sexual aos seus corpos pode ser conseguido através do poder financeiro – algo que, por si só, deveria ser um sinal alarmante para movimentos que se dizem anticapitalistas. Se encontrar algum conservador moralista que faça essa argumentação – QUALQUER UM – eu jogo a toalha.

Terceira parte: “Falácias da prostituição: consentimento e escolha”

Aline Rossi escreve no blogue Feminismo com Classe, onde também publica de forma prolífica traduções de textos feministas de todo o mundo. Recomendamos a visita.

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