País Basco // Greve de fome e sede pelos direitos dos prisioneiros~ 5 min

Retrato de Patxi Ruiz, presentemente em greve terminal de fome e sede

Por Valdemar Gomes e Uxue Corpas

Amnistiaren Aldeko eta Errepresioaren Aurkako Mugimendua (O Movimento Pró Amnistia e Contra a Repressão) deu a conhecer que o preso político basco Patxi Ruiz começou uma greve de fome e de sede na passada segunda-feira, dia 11 de Maio, em resposta às ameaças e perseguições contra ele dos guardas prisionais e do superior hierárquico do módulo 8 da Prisão de Múrcia II.

Antes de decretar o Estado de Excepção no Estado Espanhol (14 de Março), as autoridades já tinham começado a suspender os direitos políticos e sociais dos presos, com a proibição de qualquer visita às prisões (12 de Março). O Estado Francês demorou só cinco dias mais a implementar a mesma medida.

Além da proibição de visitas, reduziram a comunicação que os presos tinham com os familiares e advogados, desta forma isolando-os ainda mais. À anulação das actividades lúdicas ou de exercício físico, soma-se também a falta de meios de protecção contra o Covid-19 e o risco de contágio por parte dos guardas prisionais, o que piora as já parcas condições nas prisões.

Perante as medidas tomadas pelo Estado Espanhol, os presos do módulo 8 da Prisão de Múrcia II começaram a protestar. Da mesma maneira que denunciaram as condições nas prisões, reivindicaram a libertação dos presos doentes e dos com a pena quase cumprida; o direito a receber visitas; a garantia de meios para evitar o contágio; testes para detectar o Covid-19 em presos e guardas prisionais, e no caso de morte de algum familiar, o direito a assistir ao cemitério ou de ir à morgue.

Os protestos ocorreram sem grandes confrontos até ao dia 9 de Maio. Daí em diante, Os guardas prisionais e o chefe do módulo começaram a ameaçar Patxi, incriminando-o de ser o dinamizador dos protestos. No mesmo dia, ele cortou-se nos seus próprios braços em forma de protesto, e depois de não ter recebido a atenção médica do doutor, teve de aguentar insultos por parte deste: “levem este merdas de aqui”. O doutor rejeitou igualmente dar-lhe um calmante mais suave para as dores e afirmou que não se importava com o que lhe poderia acontecer.

É importante relembrar que não é a primeira vez que o Patxi faz protestos políticos dentro da prisão. Já em Dezembro, fez cortes no braço para denunciar a atitude violenta de um guarda contra os presos políticos bascos e os presos árabes.

Neste contexto, o preso político Patxi, além de pedir protecção judicial, começou no dia 11 de Maio uma greve de fome e sede. É importante esclarecer que numa greve de fome e sede, os órgãos começam a falhar em poucos dias. Dia após dia são mais os que se juntaram à sua luta, ora dentro, ora fora das prisões.

Nas prisões, o preso político basco Ibai Aguinaga está auto-isolado na sua cela desde o 12 de Maio. No mesmo dia, os presos políticos Dani Pastor, Oskar Barreras e Aitor Cotano renunciaram a bandeja de comida. No 14 de Maio, Jon Kepa Preciado e Mikel San Sebastián juntaram-se ao mesmo protesto, ainda se o último leva em greve de fome desde o 16 de Maio, sendo que findará no dia 18 o seu jejum. Os presos políticos Oier Andueza e Mikel Izpurua também rejeitaram bandeja de comida em Múrcia II, junto com as presas políticas Itziar Moreno e Saioa Sánchez desde Rennes (dia 17).

Fora das prisões, em Biscaia há mais de 20 pessoas a fazer jejum em solidariedade com o Patxi. Quatro membros do AAEAM (Movimento Pró Amnistia e Contra a Repressão) começaram a greve de fome desde o 12 de Maio, ainda se uma teve de deixá-la por razões de saúde. Ainda assim, duas pessoas mais se lhes juntaram no fim de semana (16 de Maio). Aos quatro jovens de Ondarru (Biscaia), juntaram-se oito pessoas mais no 15 de maio, e em Bilbao vários jovens começaram a jejuar neste fim de semana. Desses jovens, seis concluíram o jejum de 48h.

As mobilizações e os gestos de solidariedade estão-se a estender pelos cantos do País Basco também. Porém, as forças policiais já identificaram pelo menos sete pessoas; cinco numa manifestação em Legutio (Araba) e duas em Donosti (Gipuzkoa), quando colocavam uma faixa. Não bastando, com a negação das liberdades políticas sob o Estado de Alarme e com a desculpa de não respeitar as medidas sanitárias, este domingo foi proibida a manifestação em solidariedade com o Patxi no bairro onde ele cresceu, em Txantrea (Nafarroa).

No mesmo sentido, todos os partidos políticos do País Basco, em véspera das possíveis eleições em Julho, condenaram escritos em paredes em denúncia da situação do Patxi.

A AAEAM informou que na sexta-feira (15 de Maio), na última hora do quinto dia, e na manhã do dia a seguir, o Patxi teve assistência médica. No entanto, médicos de confiança não puderam entrar em contacto com ele.

Além disso, dois companheiros de Patxi foram até à prisão dele, a 735km de Txantrea (Nafarroa). Pela manhã tentaram visitá-lo e, após serem rejeitados, pela tarde puderam estar com Patxi. Ao sair da prisão, a Guardia Civil comunicou-lhes que iam ser multados por romper com o confinamento.

Patxi, que se encontra em estado grave de saúde, confirmou-lhes que continuará com a luta, se for preciso, até ao fim. Hoje (18 de Maio) é o seu oitavo dia.

Organizações internacionalistas assinaram um manifesto apoiando Patxi e as suas reinvindicações.

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