Protestos contra a Cimeira da NATO, este fim-de-semana em Madrid~ 6 min

Por Víctor Boaventura

A Plataforma Estatal por la Paz “OTAN NO” está a organizar uma cimeira alternativa pela paz e duas manifestações, em oposição à cimeira da Aliança Atlântica – que se realiza na próxima semana em Madrid. 

A Cimeira para a Paz é composta por 16 eventos, que estão a decorrer entre hoje e amanhã no Auditório Marcelino Camacho da sede das CCOO em Madrid, como um apelo à desescalada militar e à resolução de conflitos através do diálogo e de meios diplomáticos e pacíficos.

Algumas das ideias que serão debatidas na cimeira pela paz são as alternativas de segurança colectiva sem corpos militares, a relação entre militarismo e patriarcado, as consequências globais da guerra na Ucrânia e o impacto económico dos gastos militares, bem como uma posição crítica de rejeição à Aliança Atlântica – que será o fio condutor de todos os actos. O culminar deste evento será uma manifestação contra a NATO, no domingo  em Madrid, onde será lido um manifesto unitário defendendo a sua dissolução.

Quem apoia este protesto?

O protesto do dia 26 tem um amplo apoio de vários sindicatos, associações, movimentos sociais e partidos de esquerda. O apoio a esta iniciativa da Unidas Podemos, sócio da actual coligação do governo espanhol, é tímido, embora líderes da Izquierda Unida tenham comunicado que irão participar no evento. Posição claramente contrária tem o PSOE, que em várias ocasiões destacou a importância desta reunião ser realizada no Estado Espanhol, porque colocará o país “no centro do mundo”. É de salientar também que uma dirigente do partido irmão do “Livre”, o “Más Madrid”, veio dizer que é um prazer e orgulho receber a cimeira da NATO em Madrid. 

Manifestação do dia 29

Poucos dias depois e uma vez iniciada a cimeira da NATO em Madrid, está convocada uma nova manifestação, desta vez às 20h00 e com um percurso que começa na rotunda de Atocha e acaba na Plaza de Jacinto Benavente. “Imaginamos que menos pessoas virão a esta porque é durante a semana, mas parece-nos importante mostrar a rejeição da cimeira enquanto está a decorrer”, diz Célia, que faz parte da OTAN No Madrid. Segundo as previsões dos organizadores, esta manifestação será a que terá menos participação das duas convocadas pela plataforma. 

Marco Fernández, porta-voz do Movimento Anti-Repressivo de Madrid (MAR Madrid), define a NATO como “uma das maiores organizações criminosas do mundo, ao serviço do imperialismo ianque que defende os seus privilégios e interesses”. O seu coletivo, que já não faz parte da plataforma da OTAN No Madrid, apela também à mobilização do dia 29.

“Temos que mostrar nosso repúdio a uma organização que vem devastando países inteiros há décadas, saqueando os seus recursos naturais e massacrando os seus povos”, explica o activista.

A delegação do governo proibiu esta quinta-feira a manifestação de dia 29 “por motivos de segurança” já que os senhores da guerra vão estar a jantar nas imediações da rota da manifestação, no Museu del Prado. A delegação do governo alega que, como ambas as manifestações têm os mesmos convocantes e os lemas são muito similares, e tendo a manifestação de dia 26 sido permitida, “fica garantida a difusão das ideias e dos motivos”. Este orgão acrescenta ainda que não há possibilidade de um trajecto alternativo para a manifestação de quarta-feira devido às restrições à mobilidade.

O curioso é que também a Jusapol, uma associação de polícias e guardas civis conotada com a extrema-direita, anunciou vários protestos entre o dia 25 e 30 de Junho, aproveitando a cimeira da NATO para fazerem ouvir as suas reivindicações salariais. Também a Jupol, o maior sindicato policial, anunciou que vai realizar concentrações “móveis” com menos de 20 pessoas em pontos estratégicos da cidade, como os hotéis onde vão estar alojadas as delegações internacionais, onde mostrarão cartazes em inglês e outras línguas. Naturalmente, nenhum destes protestos foi proibido, tendo apenas sido alterados os trajectos de vários deles.

Maior destacamento policial da história do Estado Espanhol

A realização da cimeira da NATO em Madrid, servirá, uma vez mais, para restringir liberdades e aumentar o gasto no policiamento. As diferentes Forças e Órgãos de Segurança, sob a coordenação da Polícia Nacional, vão blindar Madrid para esta cimeira internacional que vai reunir mais de 40 líderes mundiais, sem saber se o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, participará online ou pessoalmente. Cerca de 10 000 agentes vão ser mobilizados, tornando este evento o maior destacamento policial da história do Estado Espanhol. Só para termos uma noção da brutalidade destes números, o dispositivo policial deslocado para toda a Catalunha, na altura do referendo sobre a independência, foi de 6000 efectivos no total. 

O tratado de Schengen será suspenso durante os dias da cimeira para “detectar pessoas com perfil radical”, seja lá o que isso for. O dispositivo, no entanto, ganha intensidade à medida que a inauguração se aproxima: das fases preventiva e de alerta passará no dia 27, segunda-feira, à ativação da “fase crítica”. Enquanto os líderes da Aliança Atlântica são recebidos num mega banquete no Palácio real, é de esperar que quem se queira manifestar seja alvo de repressão e violência policial.

A cimeira dos senhores da guerra em Madrid vai custar à população do Estado espanhol cerca de 50 milhões de euros. 

A Guilhotina.info vai estar a acompanhar em directo as manifestações de dia 26 e de dia 29 de Junho.

Cartaz de Maquis

Manifesto da Plataforma Estatal por la Paz, OTAN NO – aqui e aqui.

“As vossas guerras, a nossa morte, a nossa miséria”
Convocatória da CNT, traduzida para português pelo Portal Anarquista – aqui.

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