Guerra no Líbano: desmontando alguns dos mitos da propaganda~ 4 min
Por F
No Ocidente, quando ligamos a televisão, ou abrimos um jornal, somos frequentemente transportados para uma realidade paralela sem qualquer relação com o mundo real à nossa volta.
Vejamos então se a escalada de violência no Líbano é, como nos dizem, uma “guerra contra o Hezbollah”, e se a resistência libanesa foi devastada pelos recentes ataques terroristas israelitas e o assassinato de Nasrallah.
1. Esta guerra não é contra o Hezbollah, mas contra quaisquer organizações críticas de Israel
Durante as últimas semanas, os “assassinatos selectivos” atingiram não só membros do Hezbollah, mas também do Grupo Islâmico, um partido e organização sunita libanesa afiliada com a Irmandade Muçulmana, e várias organizações palestinianas – não só o Hamas e a Jihad Islâmica mas também a FPLP (de esquerda secular) e as Brigadas Mártires de Al-Aqsa (afiliadas à Fatah de Mahmoud Abbas). Várias das vítimas pertencem às alas políticas destas organizações, não fazendo parte das suas estruturas militares. Familiares, incluíndo mulheres e crianças, também foram assassinados nestes ataques.
2. Esta guerra não é contra o Hezbollah, mas contra o Líbano como um todo
Durante a última semana, os bombardeamentos israelitas atingiram centenas, se não milhares, de edifícios residenciais de norte a sul do Líbano, obliterando famílias inteiras numa fracção de segundo. Embora a maior parte tenha atingido zonas de maioria xiita, a base de apoio do Hezbollah, têm sido registados um crescente número de ataques contra aldeias e bairros sunitas [1], cristãos [1] e druzes.
3. Os bombardeamentos não têm como alvo principal instalações do Hezbollah e locais de armazenamento de rockets e mísseis
Isto torna-se evidente face à ausência de detonações secundárias na grande maioria dos ataques, e face ao enorme número de ataques contra hospitais, clínicas, ambulâncias, equipas de paramédicos, bibliotecas, estradas utilizadas por civis em fuga e muitas outras infraestruturas civis.
Depois de ter assassinado, na passada segunda-feira, dois jornalistas libaneses – Hadi Al-Sayed, da Al-Mayadeen, e Kamel Karaki, da Al-Manar TV –, Israel bombardeou ontem um edifício que albergava os escritórios do canal de televisão cultural e religioso Al-Sirat, em Beirut. Por outro lado, durante a madrugada de ontem, na capital síria, um ataque aéreo israelita assassinou Safaa Ahmad, uma importante pivô da televisão estatal síria.
4. As capacidades operacionais do Hezbollah não parecem severamente afectadas
As informações que chegam do terreno contradizem as declarações de fontes israelitas replicadas pela maioria dos media ocidentais. O número de operações levadas a cabo diariamente pelo Hezbollah manteve-se constante mesmo depois do assassinato de Nasrallah, tendo-se registado um aumento significativo nos últimos dias.
Ontem, poucas horas antes do ataque iraniano, o Hezbollah lançou mísseis contra uma base da Mossad em Tel Aviv, provocando vários feridos entre os colonos, numa operação que mostra que a resistência libanesa ainda só utilizou uma pequena fracção das suas capacidades ofensivas.
Esta manhã, nas primeiras tentativas de penetrar a fronteira libanesa, as forças de ocupação foram emboscadas por combatentes do Hezbollah, sofrendo um grande número de baixas. Segundo o exército libanês, as forças israelitas bateram em retirada em pelo menos uma das aldeias fronteiriças. As IDF admitiram pelo menos 8 mortes e 7 feridos graves nas suas fileiras em “incidentes” durante a manhã.
5. Está em vigor em Israel uma apertada censura militar
Os media israelitas estão proibidos de publicar imagens dos resultados dos ataques contra território controlado pelo regime sionista. Esta censura tem como objectivo criar a ideia de que tudo está bem em Israel, procurando evitar quebras de moral na população israelita e alimentar, no seio da comunidade internacional, a ideia de invencibilidade das forças israelitas.
O Genocídio em Gaza continua
Por fim, mas não menos importante, a escalada do conflito no Líbano pretende também retirar o Genocídio em Gaza do centro das atenções, apesar de este continuar a um ritmo constante. As incursões israelitas continuam também na Cisjordânia.