EUA entram na guerra contra o Irão com um ataque a centrais nucleares~ 10 min

Por F
Mais de uma semana após o regime sionista dar início à sua agressão contra o Irão, os EUA entraram oficialmente na guerra com um ataque contra as instalações nucleares iranianas em Fordow, Isfahan e Natanz – estas últimas já atacadas pelas forças israelitas ao longo da semana.
O ataque deliberado contra instalações nucleares é apenas mais um numa longa lista de crimes cuja normalização terá consequências inimagináveis.
Os acontecimentos dos últimos 10 dias mostram-nos que tanto o regime sionista (que tem um programa nuclear “secreto” e dezenas de ogivas nucleares) como os EUA (o único país na História que usou bombas atómicas) estão determinados a atacar repetidamente instalações nucleares do Irão, um estado que não tem armas nucleares, faz parte do NPT1 e da AIEA2, e não está em busca de uma bomba nuclear3.
A incapacidade de provocar fracturas na sociedade iraniana durante a primeira semana de agressão israelita parece ter feito o Império focar todos os seus esforços em provocar um desastre nuclear que crie o caos no Irão e na região.
Esta noite, foram os EUA que lançaram as bombas – mas, durante os últimos dias, os estados europeus abriram os seus espaços aéreos e as suas bases militares para facilitar o trânsito de centenas de caças, aviões militares de carga e aviões de reabastecimento aéreo norte-americanos para a região. Isso torna-nos a todos cúmplices e parte desta guerra.


E não foram só bases do Reino Unido e da Alemanha que foram usadas, mas também a base aérea de Morón, perto de Sevilha, nesse estado espanhol “pró-Palestina” com um “governo progressista”, e a Base das Lajes, nos Açores, que já tinha sido instrumental para a invasão do Iraque em 2003.
Uma reportagem da RTP emitida anteontem revelou a presença de 20 aviões de reabastecimento aéreo norte-americanos, dos modelos KC135 e KC46, na base aérea da ilha Terceira.

A BBC publicou esta tarde imagens de uma conferência de imprensa conjunta do Secretário da Defesa, Pete Hegseth, e do chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA, Dan Caine. As imagens mostram que os bombardeiros usados esta noite no ataque a Fordow passaram por cima dos Açores.
Os KC135 e KC46 norte-americanos estacionados nas Lajes muito provavelmente foram usados para reabastecimento aéreo dos bombardeiros B2 usados no ataque.

No presente momento, qualquer estado com o mínimo de bom senso e sentido de autopreservação teria de cortar relações diplomáticas e comerciais não só com israel, mas com os EUA, a Alemanha, o Reino Unido e todas as instituições dominadas pelas potências ocidentais que parecem confortáveis em arrastar o mundo para uma catástrofe nuclear.
E era isso que os movimentos no Ocidente deviam estar a exigir – saída da NATO e da UE, expulsão dos embaixadores israelitas, norte-americanos, alemães e britânicos (no mínimo), e encerramento do espaço aéreo e dos portos às potências ocidentais.
Em vez disso, convocam-se buzinões e cordões humanos pelo reconhecimento da Autoridade Palestiniana de Mahmoud Abbas.
Duas faces da mesma moeda
Segundo a ABC News, os EUA e israel treinaram o ataque desta noite durante um exercício militar há cerca de um ano, quando Joe Biden ainda era presidente.
Vamos voltar a repetir o óbvio: os EUA (assim como as potências europeias) não estão a ser arrastados para a guerra pelo malvado do Netanyahu – esta guerra está a ser levada a cabo por vontade do Ocidente colectivo.
Como vínhamos alertando, todo o teatro das negociações não passa de um circo, e os EUA e israel são duas faces da mesma moeda. A Axios admitiu-o abertamente no primeiro dia do ataque, quando anunciou que “Trump e os seus assistentes estavam só a fingir opôr-se ao ataque israelita em público” com o objectivo de “convencer o Irão de que não estava iminente um ataque, e assegurar que os iranianos na lista de alvos israelitas não se moveriam para novos locais”.
O que se sabe sobre o ataque a Fordow?
- Apesar do anúncio inflamado de Trump de um “grandioso ataque”, meios de comunicação como o Guardian, a CBS ou a CNN não publicaram uma única imagem deste – nos seus sites há extensos artigos e coberturas minuto a minuto, mapas e fotos do Trump, mas nenhuma foto ou vídeo do ataque.
- A emissora estatal iraniana IRIB afirma que Fordow e outras instalações nucleares iranianas “tinham sido evacuadas há algum tempo, e o urânio enriquecido movido” para outros locais, não havendo risco de contaminação radioactiva. Não foi registada, nem pelas autoridades iranianas nem pelos restantes países do Golfo Pérsico, qualquer radiação como consequência dos ataques.
- A ideia de um ataque a Fordow era atingir com múltiplas bunker-busters um ponto específico para tentar abrir caminho até à infraestrutura reforçada construída debaixo de dezenas de metros de rocha. Segundo Dan Caine, 14 bombas bunker-buster de 15 toneladas foram usadas no ataque.
- No entanto, a imagem de satélite mais definida publicada até ao momento mostra 6 buracos diferentes na montanha que alberga a central iraniana, parecendo que duas bombas terão atingido cada ponto. O próprio New York Times afirma que o ataque não conseguiu destruir as instalações de Fordow, mas “danificou-as gravemente”.

- Um repórter da IRNA afirmou, a partir das imediações da central nuclear de Fordow, que “se ouviu um som ténue em Qom, mas não se sentiram quaisquer tremores”. Segundo habitantes de um complexo residencial próximo com quem falou, “ouviram-se cerca de 6 explosões, mas o som das explosões não foi nada de extraordinário”.
- Isfahan, segundo fontes norte-americanas, foi atacada com mísseis Tomahawk disparados desde submarinos no Oceano Índico. No entanto, não é certo quais os danos causados por este ataque – meras horas após o ataque, a correspondente-chefe da Fox News para a Segurança Nacional, Jennifer Griffin, publicou o seguinte tweet:
Peritos dizem-me que o túnel subterrâneo de Isfahan é um alvo MUITO mais difícil do que Fordow, e não é claro se os Tomahawks foram capazes de o destruir.
“É impossível que tenham entrado naquele túnel. É mais profundo do que Qom – e de rocha mais dura”, disse uma fonte bem colocada à Fox.
- A Central Nuclear de Natanz, muito menos profunda que as outras duas, é a única que parece ter sido realmente destruída – fontes iranianas concordam que as imagens de satélite sugerem que a estrutura subterrânea foi penetrada por bunker-busters norte-americanas.
- As notícias circuladas no sábado sobre o envio de vários bombardeiros para a base de Guam, no Pacífico, foram mais uma manobra de diversão: o ataque foi lançado a partir do território continental dos EUA, com bombardeiros B-2 a atravessar o Atlântico, o Mediterrâneo e parte do Médio Oriente para entrar pela parte ocidental do Irão, onde as forças israelitas conseguiram destruir uma parte considerável dos sistemas de defesa antiaérea desde que deram início à sua campanha contra o Irão.
- Obviamente, nada disto tem que ver com o programa nuclear iraniano que, ao contrário do israelita, tem estado sob vigilância regular de inspectores internacionais da AIEA – e o Irão tem uma fatwa, emitida pelo Ayatollah Khamenei em 2003, que proíbe o desenvolvimento de armas nucleares por estas violarem a lei islâmica. O Irão está a ser atacado por ser um entrave aos planos do Império para a região, e pelo seu incansável apoio à resistência palestiniana.
É urgente romper a normalidade
Vivemos numa era em que o activismo e a “luta” se tornaram quase puramente performativos, e por isso pode ser difícil imaginar como. No entanto, num momento histórico como este, urge abandonar as acções simbólicas e optar pela resistência material ao Império.
As pessoas e as organizações que tiverem interesse em apoiar a Palestina, e evitar uma catástrofe nuclear com consequências inimagináveis, não podem continuar a marchar do ponto A ao ponto B com cartazes na mão, apenas para serem mais uma vez ignoradas.
É preciso urgentemente romper a normalidade:
- perturbar o funcionamento das empresas que lucram com a barbárie;
- cercar as bases militares e indústrias de armamento e impedi-las de operar;
- e as embaixadas de todos estes estados deviam ser, no mínimo, bloqueadas – assim como os governos e ministérios cúmplices nestes crimes.
Enquanto trabalhadores e trabalhadoras, devíamos também pressionar os sindicatos, principalmente os afectos à CGTP, a passar dos comunicados à acção: se não houver condições para convocar uma greve geral, pois façam-se piquetes diários em sectores estratégicos da economia para mostrar que não estamos de acordo e não vamos ser cúmplices de tudo isto sem, pelo menos, impor um custo às elites que nos empurram a todos e todas para um abismo sem fundo.
Notas
- Tratado de Não-Proliferação, de que israel não é signatário. ↩︎
- Agência Internacional de Energia Atómica, que inspecciona regularmente as instalações nucleares iranianas, mas não tem acesso ao programa nuclear israelita. ↩︎
- Algo que pode mudar como consequência de todos estes eventos. O artigo 10.º do Tratado de Não-Proliferação reserva aos estados-membros o direito de abandonarem o NPT caso ocorram “acontecimentos extraordinários (…) que ponham em causa os interesses do seu país”. ↩︎

