Em fuga da Palestina, israelitas rumam ao Chipre, Grécia e Portugal~ 15 min

Por F
Desde 7 de Outubro de 2023, o regime sionista enfrenta a maior vaga de emigração de colonos da história recente – segundo números oficiais, até ao final de 2024, pelo menos 82 mil israelitas abandonaram a Palestina ocupada – e há que lhe acrescentar milhares de colonos que escaparam, tanto por terra como por mar, durante a recente confrontação militar entre o regime sionista e o Irão. O número real é, provavelmente, muito maior.
Em 2024, o número de israelitas a pedir nacionalidade alemã duplicou relativamente a 2023, enquanto os pedidos de nacionalidade canadiana mais que triplicaram. Entre os destinos mais comuns para os colonos em fuga encontram-se também a Austrália, a Grécia, o Estado Espanhol e Portugal.
Mas é o Chipre, a nação europeia geograficamente mais próxima da Palestina ocupada, que vive a situação mais preocupante – e que mais se assemelha a um novo processo de colonização.
A colonização israelita do Chipre
Nas últimas semanas, meios de comunicação cipriotas e internacionais publicaram vários artigos e reportagens sobre a crescente presença de israelitas no Chipre.
Em Junho, durante um congresso do partido cipriota AKEL, Stefanos Stefanou, o seu secretário-geral, denunciou a compra de negócios e de grandes áreas de terra por cidadãos israelitas, alertando para os seus perigos:
Recentemente, temos assistido a um fenómeno de criação de zonas fechadas, guetos, por parte de cidadãos israelitas, com a criação de escolas e sinagogas sionistas, e com numerosas aquisições de importantes unidades económicas e de grandes áreas de terra, enquanto relevantes jornais israelitas falam de uma política orientada para a expansão de israel no Chipre.
Segundo o Turkiye Today, a organização ultra-ortodoxa Chabad é uma das mais activas entre os colonos que chegam da Palestina ocupada, tendo já estabelecido sinagogas, infantários, lojas kosher e cemitérios judaicos.
A Chabad Cyprus afirrma que, em apenas 10 dias de confrontação entre o regime sionista e o Irão, mais de 12 mil israelitas passaram pelos seus centros – uns ficaram presos no Chipre depois do encerramento do Aeroporto de Ben Gurion, outros chegaram nos iates que ofereceram uma rota de fuga clandestina aos colonos aterrorizados ao descobrir que os mísseis podem cair não só em Gaza, no Líbano, no Iémen e no Irão, mas também nas cidades e colonatos israelitas na Palestina ocupada.

Observadores alertam para o facto de não se poder assumir que todos os israelitas que chegam são meros civis. Alguns poderão ser agentes envolvidos em operações de espionagem ou influência.
Turkiye Today
Segundo uma longa reportagem publicada no site GreatReporter.com, 6500 israelitas residiam na República do Chipre em 2018. Hoje, serão entre 10 e 15 mil – incluindo “famílias inteiras, proprietários de empresas e colonos que fogem dos colonatos da Cisjordânia devido à instabilidade regional”. Muitos dizem não ter intenção de voltar.
Crise habitacional
Entre 2021 e 2025, quase 4 mil propriedades foram compradas por israelitas – mais de 1400 em Larnaca, 1150 em Limassol e 1290 em Paphos. Segundo o Cyprus Mail, os israelitas constituem o terceiro maior grupo entre os compradores estrangeiros de propriedades no Chipre.
No entanto, Pavlos Loizou, CEO de uma consultora imobiliária, alerta para o facto de estes números não incluírem propriedades adquiridas por empresas cipriotas detidas por israelitas. De acordo com Loizou, os israelitas tendem a comprar grandes parcelas de terra, com spas e resorts, e Pyla tornou-se o seu centro não-oficial.
A compra de enormes quantidades de propriedades por estrangeiros, seja para habitação ou para converter em empreendimentos turísticos, está a provocar uma profunda crise habitacional, exacerbando uma tendência de inflação galopante que já se verificava antes de Outubro de 2023.
Em Dezembro de 2024, um artigo no jornal israelita Yedioth Ahronoth não só incentivava o público à compra de propriedades no Chipre, como apontava a inflação galopante nos preços da habitação como um factor aliciante, garantindo um retorno fácil do investimento, quando é essa mesma inflação que torna cada vez mais proibitivo para a classe trabalhadora cipriota viver nestas cidades.
Segundo o AKEL, de linha marxista-leninista e o segundo maior partido do Chipre, este não é um processo “de migração comum”, mas a construção de um “enclave satélite de influência, poder económico e potencial infraestrutura de espionagem israelitas, fora do alcance dos mísseis”. O seu secretário-geral denuncia:
Não são só casas de férias. São colonatos em tudo menos no nome.
«O mesmo modelo de colonização utilizado na Cisjordânia parece estar agora a criar raízes em lugares como Pyla e Limassol»
Este é um cenário preocupante para o Chipre – que tem o norte sob ocupação turca, 250 km² sob ocupação britânica, e uma longa história de interferência estrangeira.
Na verdade, a colonização do Chipre não é uma ideia inédita na história do sionismo – Theodor Herzl, considerado o pai do movimento sionista moderno, terá inicialmente considerado o Chipre como um dos possiveis destinos para o projecto colonial sionista, especialmente apetecível por daí se poder facilmente lançar uma invasão da Palestina. [1] [2]
A reportagem do GreatReporter.com apresenta a realidade nua e crua:
O padrão é familiar. Surgem enclaves. A população local é expulsa pelos preços proibitivos. As infraestruturas – sinagogas, supermercados kosher, escolas privadas – são construídas rapidamente. O mesmo modelo de colonização utilizado na Cisjordânia parece estar agora a criar raízes em lugares como Pyla e Limassol. (…)
Muitos dos israelitas que se mudam para o Chipre não rejeitam o sionismo – exportam-no. Trazem com eles as ideologias, as infraestruturas e as estratégias de investimento que transformaram a Palestina numa manta de retalhos de enclaves. E agora, à medida que se enraízam no Chipre, muitos locais receiam estar a assistir às primeiras fases de um novo projecto de colonização.
Aquilo a que alguns chamavam uma “segunda casa” parece agora um “segundo israel”.
Grécia: da gentrificação às escolas sionistas
Contudo, nem a imigração massiva de israelitas, nem a compra de propriedades em grande escala, se restringem ao Chipre.
Em Atenas, na última década, fundos imobiliários, empresários e colonos israelitas tiveram um papel importante na gentrificação de Exarchia, o histórico bairro que foi o epicentro de repetidas revoltas populares desde a ditadura militar grega. Entre 2009 e 2018, a nacionalidade mais numerosa entre os compradores estrangeiros de propriedades neste bairro ateniense foi a israelita.


O cenário repete-se noutras zonas da capital grega e do país. À enorme presença israelita no sector do turismo e do imobiliário, acresce um número crescente de colonos que fugiram da Palestina ocupada desde Outubro de 2023.
Muitos optam por entrar com um visto gold, que concede uma autorização de residência de 5 anos em troca de um investimento de 250 mil euros no mercado imobiliário. Segundo o Ministério do Interior grego, o número de vistos gold emitidos a israelitas aumentou 70% desde 7 de Outubro.
Em Outubro de 2024, um artigo publicado pelo Le Monde traçava já, em linhas gerais, o perfil dos colonos israelitas que se estão a estabelecer na Grécia: carregam traumas e “stress pós-traumático”, alguns dizem opôr-se a Netanyahu e à “extrema-direita” israelita, um ou outro diz discordar do que se passa em Gaza, mas nenhum afirma ter abandonado a Palestina por discordar do regime sionista de apartheid e ocupação.
Uma das israelitas entrevistadas pelo Le Monde lançou, no verão passado, um projecto educativo que conjuga aulas online da plataforma “Israeli Z-School” e aulas presenciais, no qual se inscreveram mais de 70 alunos. Katziri afirma “sentir-se desalinhada com as políticas do seu país”, mas a escola que criou “segue o mesmo programa que é dado em israel, para tornar mais fácil um possível regresso”.
Segundo os números mais recentes, cerca de 10 mil israelitas abandonaram a Palestina e estabeleceram-se na Grécia desde Outubro de 2023.
Portugal: um destino apetecível
E desengane-se quem pensar que estes fenómenos vão ficar lá longe – na verdade, embora os detalhes sejam diferentes, já cá chegaram. Portugal, graças aos vistos gold e à lei que permite a naturalização de judeus sefarditas, tornou-se um destino apetecível para os investidores israelitas e para os colonos que desejam abandonar a Palestina.
Por um lado, nos últimos anos, pelo menos duas empresas israelitas entraram em força no mercado imobiliário português, com especial foco na região do Porto. Por outro, desde Outubro de 2023, há um número cada vez maior de israelitas a mudar-se para Portugal, com muitos a escolherem o interior do país para se estabelecerem.
Como na Grécia e no Chipre, a aquisição de um grande número de propriedades por colonos israelitas contribui para fazer disparar os preços da terra, tornando-os cada vez mais incomportáveis para a larga maioria da população portuguesa.
Há ainda muitas outras formas em que a presença de israelitas pode ser prejudicial para as nossas sociedades. Continuarmos a ter não só relações diplomáticas e comerciais com o regime sionista, mas também cooperação entre universidades portuguesas e israelitas, normaliza a presença de membros das IDF e apologistas do genocídio nas nossas cidades.
É o caso de Bar Harel, um colono israelita que actualmente estuda no Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra. Bar, de acordo com o seu próprio perfil no LinkedIn, serviu vários anos nas IDF, incluindo durante o genocídio em curso na Faixa de Gaza.
Agora, prossegue os seus estudos numa universidade pública portuguesa, financiada pelo dinheiro dos nossos impostos, e utiliza essa oportunidade para publicar um suposto “artigo científico” em que ataca os autocolantes e cartazes que têm sido espalhados durante o último ano pelas paredes de Coimbra. O método é clássico: igualar anti-sionismo a anti-semitismo.

Todos estes autocolantes e cartazes, como qualquer pessoa que caminhe por Coimbra pode confirmar, lançam críticas às IDF, ao regime sionista, ao genocídio e aos turistas israelitas, mas não se encontra um único que ataque o povo judeu como um todo.
Como já toda a gente percebeu, o verdadeiro anti-semitismo está nestas tentativas de associar todo o povo judeu às acções genocidas do regime sionista e das IDF.





Israelitas não são bem-vindos
É por todas estas razões, e muitas outras, que é importante que as nossas cidades estejam repletas de mensagens que causem desconforto a sionistas e apologistas do genocídio, para que estes não se sintam tentados a vir estabelecer-se entre nós.
Abrir as portas a israelitas em fuga da Palestina ocupada traz um outro perigo – aqueles que trarão consigo as suas ideologias supremacistas criarão alianças com outras forças supremacistas e investirão os seus esforços e recursos em projectos políticos e mediáticos que atirarão as nossas sociedades para um caminho ainda mais bizarro do que aquele em que já estamos.
Num vídeo gravado recentemente nas ruas da Grécia, um companheiro mostra um autocolante, espalhado por todo o país, que diz: «Todos os soldados israelitas são criminosos de guerra – ocupantes, violadores, assassinos. Não vos queremos aqui.»


Este é exatamente o tipo de solidariedade de que precisamos – e isto acontece por toda a Grécia. Em todo o país.
Manter os soldados israelitas e os sionistas fora da Grécia torna todo o país muito mais seguro, especialmente para as mulheres e as crianças – porque todos sabemos o que os sionistas fazem às mulheres e às crianças.
Fonte

Por último, mas não menos importante, uma palavra de reconhecimento à minoria de israelitas em Portugal que expressam publicamente a sua oposição ao genocídio e a sua solidariedade com Gaza.



Infelizmente, após 20 meses de genocídio, a esmagadora maioria dos israelitas continua a advogar a utilização do genocídio e da limpeza étnica contra os palestinianos.
E a sua entrada massiva em Portugal constitui uma ameaça não só à população portuguesa, mas também às comunidades imigrantes que aqui habitam – em especial aos imigrantes árabes e muçulmanos, por quem os sionistas e a extrema-direita portuguesa nutrem um ódio de estimação.

