Quem é Bar Harel, o membro das IDF a estudar em Coimbra~ 12 min

Por F

No seguimento de um evento insólito que teve lugar no início do mês, descobrimos que há um criminoso de guerra a viver em Coimbra. Chama-se Bar Harel e está a tirar o Mestrado em Engenharia de Software no Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra.

Com vários anos ao serviço das IDF e de uma unidade de ciber-espionagem, expô-lo publicamente é um serviço à comunidade de uma cidade que se quer inclusiva e segura. Toda a informação aqui compilada está disponível para consulta pública em vários sítios da web, primeiramente no seu perfil de LinkedIn.

Outra fonte de informação sobre Bar é o alegado “artigo científico”, assinado pelo próprio, sobre os “autocolantes e cartazes anti-semitas em Coimbra”. Neste, afirma ser um “indivíduo judeu-israelita a estudar na Universidade de Coimbra, tanto antes como durante a presente guerra”. Escrevendo sobre si mesmo na 3ª pessoa, Bar afirma que, “como um dos únicos israelitas a estudar na instituição (…), o investigador tem uma perspectiva vastamente diferente e cresceu num ambiente completamente diferente do da maior parte dos seus colegas”.

A “diferença vasta” entre a experiencia de vida dos seus colegas e a de Bar é que este cresceu num regime colonial – que impõe sobre a população nativa um sistema de apartheid e ocupação há 77 anos – e serviu nas IDF durante o genocídio em curso.

Não encontrámos informação sobre onde nasceu mas, no seu perfil no LinkedIn, a sua localização marca “Los Angeles, Califórnia”. No tal “artigo científico”, Bar refere um episódio em que uma manifestante pró-Palestina lhe perguntou de onde era, ao que, temendo a reacção caso respondesse “israel”, respondeu: “The United States.”

Que confortável deve ser viver em terra roubada, tendo sempre uma segunda casa a que recorrer caso algo corra mal.

6 anos ao serviço das IDF

Bar serviu nas IDF, de forma contínua, entre 2014 e 2019, ocupando vários cargos relacionados com a informática e a “cibersegurança”.

No seu LinkedIn, Bar afirma ter servido nas IDF entre Outubro de 2014 e Outubro de 2016 como engenheiro de software e investigador na área da cibersegurança. Entre Outubro de 2016 e Agosto de 2017, ocupou o cargo de comandante nas áreas da administração de sistemas e cibersegurança. Entre Agosto de 2017 e Dezembro de 2019 foi “líder de projecto” nas áreas de arquitectura de software e cibersegurança.

Ainda segundo o seu LinkedIn, Bar voltou às IDF em Outubro de 2023 para apoiar o esforço de guerra genocida imposto sobre Gaza. Até Abril de 2024, desempenhou a função de “Arquitecto Superior de Software”.

No entanto, no seu “artigo científico”, Bar afirma ter regressado a Coimbra “algum tempo depois da explosão da violência”, passando a relatar como, em Novembro de 2023, as cantinas do campus estavam “cheias de estudantes a cantar slogans anti-Israel”.

Se serviu nas IDF como “arquitecto de software” entre Outubro de 2023 e Abril 2024, mas regressou a Coimbra em Novembro de 2023, quererá isto dizer que Bar esteve, em regime remoto, a desenvolver software para a máquina de guerra sionista desde a nossa cidade?

Unidade 8200

Uma das informações mais substanciais disponíveis no seu LinkedIn não é revelada pelo próprio, mas por um colega. No final do mês passado, Oren R. escreveu uma recomendação no perfil de Bar em que afirma ter tido o privilégio de trabalhar com ele na unidade 8200.

Tive o privilégio de trabalhar com algumas das pessoas mais talentosas da 8200 – mas o Bar Harel está num nível à parte.

A 8200 é, segundo os israelitas, “a principal unidade de espionagem das IDF”, responsável por operações clandestinas, espionagem militar, SIGINT (intercepção de comunicações), desenvolvimento de tecnologias de vigilância, ciber-espionagem e monitorização das comunicações de milhões de palestinianos que vivem nos territórios ocupados, do rio ao mar. Embora a maioria das suas operações decorram no mundo virtual e tecnológico, os seus membros também participam em operações no terreno.

A Unidade 8200 é frequentemente comparada com a NSA, a agência norte-americana de vigilância em massa. Enquanto a Mossad e o Shin Bet (equivalentes à CIA e ao FBI, respectivamente) estão sob controlo do primeiro-ministro, a 8200 faz parte da Aman, o  órgão de espionagem militar das IDF.

Em 2014, um grupo de veteranos da 8200 assinou uma carta, publicada pelo The Guardian, em que criticavam o papel da unidade na manutenção da ocupação militar dos territórios palestinianos.

Nós, veteranos da Unidade 8200, actuais e ex-soldados reservistas, declaramos que recusamos participar em acções contra palestinianos e recusamos continuar a ser usados para intensificar o controlo militar sobre os Territórios Ocupados. (…)

A população palestiniana sob regime militar está totalmente exposta a espionagem e vigilância pelos serviços secretos israelitas (…) [que] é usada para perseguição política e para gerar divisões na sociedade palestiniana ao recrutar colaboradores e criar discórdia no seu seio.

A Unidade 8200 é oficialmente composta por jovens israelitas entre os 18 e os 21 anos – escolhidos pelo seu talento nas ciências, matemática ou informática –, mas muitos parecem continuar a ser agentes do regime sionista após esse período.

Na verdade, centenas de veteranos da 8200 estão em posições importantes em inúmeras empresas do sector tecnológico. Como explica Alan MacLeod, jornalista da MintPress News:

Há, literalmente, centenas de ex-oficiais e funcionários da Unidade 8200 que detêm agora posições importantes em empresas de alta tecnologia, incluindo dezenas na Google, dezenas na Amazon, dezenas na Facebook, Microsoft, etc. Qualquer grande empresa em Silicon Valley tem lá montes de espiões.

E não foi muito difícil descobrir estas pessoas. Limitei-me a ir a bases de dados de emprego como o LinkedIn. E depois escrevi “Unidade 8200 Facebook” e vi o que apareceu. Quando se faz isso, encontram-se dúzias e dúzias de resultados com pessoas destas. E tenho a certeza de que o número é bastante maior, porque, ao abrigo da lei israelita, é um crime revelar que se pertenceu à Unidade 8200. (…) Por isso, cada uma das pessoas que coloca isso no seu currículo está, de facto, a violar a lei.

No entanto, os veteranos da 8200 não estão só nas gigantes da tecnologia, mas em muitas outras empresas e start-ups – cooperando com autoridades dos EUA e do Reino Unido, assim como do mundo árabe, nas áreas de cibersegurança, análise de dados e vigilância em massa. Como se não bastasse, veteranos desta unidade têm relações próximas com a elite política britânica, tanto nos Tories como no Labour.

Além de tudo isto, fontes libanesas, israelitas e ocidentais sugerem o envolvimento da Unidade 8200 nos assassinatos de Hassan Nasrallah e Fuad Shukr, bem como no ataque dos pagers – o maior ataque terrorista da História recente, que feriu ou matou mais de 5 mil pessoas no Líbano, incluindo mulheres e crianças.

Weizmann

Segundo o seu perfil de LinkedIn, Bar Harel estudou biologia entre 2010 e 2013 no Instituto Weizmann, que recentemente chegou às manchetes após ter sido destruído em retaliação pelo assassinato de vários cientistas iranianos nas primeiras horas da agressão israelita contra o Irão.

O Weizmann era conhecido por ser um dos mais importantes centros académicos e científicos do regime sionista – mas, como aponta um artigo da euronews, “o instituto não é apenas uma instituição académica; é visto como parte da infraestrutura de segurança nacional de israel, desempenhando um papel fundamental no apoio às forças armadas através da investigação” e do desenvolvimento de tecnologia “nos campos da inteligência artificial, drones e tecnologia militar avançada”.

O Instituto Weizmann, fundado em 1934 por Chaim Weizmann como “Daniel Seif Research”, foi rebaptizado em 1949 com o nome do seu fundador, que mais tarde se tornou o primeiro presidente de Israel.

O instituto é financiado pelo governo israelita e recebe “apoio significativo” de organizações internacionais, “o que reforça a sua capacidade para atrair cientistas de topo e desenvolver projectos ao serviço do progresso científico e militar”.

Voluntariado

Bar afirma ter feito “trabalho voluntário” na organização United Hatzalah of israel, cujo fundador, Eli Beer, desempenhou um papel importante na hasbara israelita do pós-7 de Outubro.

Três semanas após a ofensiva lançada pela resistência palestiniana em Gaza, Beer viajou até aos EUA para discursar na convenção da Coligação Judaica Republicana, em Las Vegas, e aí espalhar histórias fabricadas para demonizar os combatentes palestinianos.

Beer afirmou ter visto com os seus próprios olhos “crianças pequenas decapitadas”, “bebés colocados num forno ligado” e “uma mulher grávida” a quem teria sido aberta a barriga, e o feto retirado e esfaqueado, antes de esta ser executada junto com os seus filhos.

Nenhuma destas histórias tem qualquer fundamento na realidade. Todas foram provadas falsas.

Questões, cumplicidade e provocações

O que é que faz um criminoso de guerra israelita, que nega o genocídio transmitido nos ecrãs de todo o mundo há 21 meses, a caminhar livremente pela nossa cidade? O que está ele exactamente a fazer no Departamento de Engenharia Informática da UC?

Será a UC cúmplice nos crimes de guerra israelitas? Não surpreenderia – por alguma razão a UC se mostrou inflexível na recusa em cortar relações académicas com universidades israelitas, e silenciou repetidamente estudantes pró-Palestina da instituição.

Quando este assunto foi discutido pela primeira vez em Assembleia Magna, em Janeiro de 2024, várias vozes se ergueram contra a proposta de apelar a um boicote académico, invocado os sentimentos dos estudantes israelitas – entre elas, estudantes de uma juventude que se afirma de esquerda e pró-Palestina. 

Hoje, vemos como a inexistência de um boicote académico permite a personagens como Bar estudarem em instituições pagas pelo suor do nosso trabalho, aproveitando a sua estadia para tentar silenciar quem exprime a sua oposição ao Holocausto dos nossos tempos.

Como se não bastasse, Bar foi avistado repetidamente a passear-se pela universidade com uma quipá com o design da bandeira israelita – e até com uma bandeira de israel atada à mochila. Por que outra razão passearia ele casualmente com a bandeira de um regime genocida, senão para tentar provocar alguma agressão que depois pudesse usar nos seus artigos sobre o “anti-semitismo em Coimbra”?

Há que deixar claro – nenhum de nós tem qualquer problema com a estrela de David. Quanto à bandeira de israel, a história é diferente.

Afinal, em que é que levantar uma bandeira israelita hoje difere de levantar uma bandeira nazi nos anos 40 do século passado? Ambas representam ideologias que professam o extermínio de povos semitas.

Das câmaras de gás à inteligência artificial

Os sistemas israelitas de inteligência artificial e de vigilância em massa jogam hoje um papel central no extermínio do povo palestiniano, tal como os campos de concentração e as câmaras de gás nazis estiveram no centro do extermínio do povo judeu.

Como parte da Unidade 8200, Bar pertence a esse aparato tecnológico de vigilância e extermínio.

E, para quem ficar escandalizado pela exposição pública deste pobre estudante, deixo uma pergunta: qual a diferença entre o papel de Bar e o papel de um engenheiro nazi que, não tendo matado um único palestiniano, fosse responsável por desenhar componentes das câmaras de gás?

Reitero a minha disponibilidade para um debate público com Bar Harel – adorava ouvi-lo responder a estas perguntas.

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