Libertem Elias Rodriguez: construam o berço popular da resistência~ 11 min

Por Guilhotina.info

No passado dia 21 cumpriram-se 5 meses desde que Elias Rodriguez assassinou dois funcionários da embaixada sionista em Washington DC. Elias aguardou serenamente a chegada da polícia ao local e, quando estava a ser detido, gritou várias vezes «Palestina Livre». Horas depois, o manifesto que deixara escrito foi publicado pelo jornalista Ken Klippenstein.

No Ocidente, Elias Rodriguez foi, além de Aaron Bushnell, quem mais arriscou para materializar a sua solidariedade com a Palestina e a sua oposição ao genocídio em curso. Apesar disso, num mundo em que até a acção política se converteu em espectáculo, o seu nome é desconhecido e o seu acto é invisibilizado, quando não mesmo condenado, por muitos dentro dos meios ditos “pró-Palestina”.

Elias Rodriguez enfrenta a possibilidade de ser condenado a pena de morte. Independentemente de concordarmos ou não com os métodos que escolheu, Elias merece a solidariedade de todos. O que se segue é uma tradução de um texto publicado pelo Comité Organizador Libertem Elias Rodriguez a 26 de Maio.

Libertem Elias Rodriguez: construam o berço popular internacional da resistência

por Unity of Fields

ESCREVAM AO ELIAS RODRIGUEZ!
Elias Rodriguez #394346, 1901 D Street SE, Washington, DC 20003
Depositem fundos na sua conta na prisão: doc.dc.gov/service/automated-inmate-deposits
Lembrem-se de que toda a correspondência recebida será revistada, e que a correspondência pré-julgamento pode ser usada como prova em tribunal – não digam nada incriminatório nem falem sobre o alegado crime. Mostrem a vossa solidariedade e apoio!

O ataque de Elias Rodriguez tendo como alvo dois funcionários diplomáticos israelitas em 21 de Maio de 2025 foi um acto legítimo de resistência contra o Estado sionista e a sua campanha genocida em Gaza. Após vinte meses de violência apocalíptica ininterrupta perpetrada pelo movimento sionista, infligida aos civis palestinianos que lutam pela libertação nacional, bem como aos combatentes pela liberdade que promovem essa libertação nacional; após vinte meses de repressão política e jurídica por parte desses mesmos sionistas contra o nosso movimento internacional que se opõe à sua campanha de destruição total — chegou agora o momento de consequências reais. Não nos deixaram outra opção para nos opormos eficazmente à sua violência e total desrespeito por quaisquer limites, sejam eles de decência humana ou fronteiras políticas, ao reprimirem até mesmo a possibilidade de protestos não violentos em toda a aliança imperialista liderada pelos chamados Estados Unidos.

Vejam a proibição total de protestos e manifestações de apoio à libertação palestiniana na Europa, em particular na Alemanha e em França, países também eles perpetradores de genocídio. Vejam as prisões, detenções e deportações arbitrárias de palestinianos e muçulmanos por toda a América do Norte e na Europa. Vejam a guerra jurídica direccionada e as designações artificiais de «terrorista» e «falsa instituição de caridade» contra a Rede de Solidariedade com os Prisioneiros Palestinianos Samidoun, pela sua defesa inabalável do Eixo da Resistência e dos prisioneiros encarcerados nos campos de concentração sionistas. Vejam as listas de terroristas que criminalizam a solidariedade internacional. Vejam a proibição da Students for Justice in Palestine (Estudantes pela Justiça na Palestina) em várias universidades, os processos civis contra estudantes para desmobilizar a parte mais activa do movimento, a colaboração entre vigilantes sionistas e forças policiais militarizadas, a divulgação de informações pessoais e as ameaças de morte e expulsões. Vejam o terror de atacar os meios de subsistência dos opositores, usando bullying para os expulsar dos seus empregos e instituições. Vejam os prisioneiros políticos do movimento de solidariedade com a Palestina presos por causa das suas consciências, dos Holy Land 5 a Casey Goonan. Vejam o brutal homicídio do palestiniano Wadea al-Fayoume, de seis anos, em Chicago, cuja foto estava afixada na janela do apartamento de Elias Rodriguez. Vejam a total impunidade com que fazem tudo isto — escondendo-se cinicamente atrás da absurda afirmação de que os sionistas são as verdadeiras vítimas, enquanto contam com o apoio do império mais militarizado da história da humanidade, os EUA.

Não se limitando a esta repressão no Ocidente, o movimento sionista usa todos os meios para reprimir a oposição entre os povos e os Estados que existem fora ou nas fronteiras do domínio ocidental. Eles têm usado meios diplomáticos, económicos e até militares, através do fornecimento de armas, mercenários e treino a quaisquer agentes que possam usar como ferramentas para os seus interesses. Ultrapassaram todos os limites e fronteiras, atacando o Irão, a Síria, o Líbano, o Iémen e o Iraque. Envolveram-se em perfídia em todo o mundo, matando civis e assassinando até mesmo negociadores, muitas vezes sob uma bandeira de trégua. Vejam os seus ataques diplomáticos e económicos a África do Sul, através do seu principal parceiro em crimes contra a humanidade, o governo dos EUA. O movimento sionista, tal como concentrado e formalizado no estado israelita, é explícito ao afirmar que não respeitará quaisquer limites, que tudo e qualquer coisa é permitido para promover a sua visão supremacista do mundo e cimentar a colónia que, temporariamente, estabeleceram em terras palestinianas.

Nesta perspectiva, a operação levada a cabo por Elias Rodriguez contra os funcionários diplomáticos de israel em Washington DC — pessoas activamente envolvidas na facilitação desta violência generalizada em todo o mundo, criando o espaço diplomático para a continuar e aprofundar — foi, de acordo com o seu próprio relato, uma declaração de BASTA! Parafraseando um grande revolucionário, protesto é quando dizemos «não gostamos disto», resistência é quando pomos fim àquilo de que não gostamos.

Para sermos claros, o que estamos a afirmar é mais do que um reconhecimento de que a violência e a opressão infligidas pelo movimento sionista inevitavelmente darão origem a uma contraviolência, uma verdade indiscutível. Estamos a dizer que essa contraviolência é legítima. É justiça.

O acto de Elias Rodriguez foi totalmente justificado, naquele espaço onde os deveres legais e morais se juntam. É evidente que o direito internacional, que o próprio Ocidente estabeleceu e cujas instituições são dominadas pelos interesses destes imperialistas, estabelece o dever de agir para pôr fim ao genocídio, inclusivamente através do uso da violência. Segundo o direito internacional, este dever é atribuído aos Estados — não cabe a actores não estatais reivindicá-lo. Então e se nenhum Estado ocidental tomou medidas suficientes para impedir a devastação, se um genocídio se desenrola perante os olhos de todos, transmitido em directo tanto na carnificina de Gaza como nas admissões explícitas e implícitas do governo israelita e do movimento sionista em geral? Neste caso, o nosso caso, os únicos actores que se atrevem a impor consequências têm sido, por designação dos próprios imperialistas, actores não estatais, além do Irão.

É neste ponto que recai sobre os povos livres do mundo o cumprimento dessas obrigações legais, derrogadas e não cumpridas pelos responsáveis. Elias Rodriguez impôs uma consequência, uma mera gota no oceano de consequências devidas ao movimento sionista e à guarnição militar a que chamam estado. Que isso sirva para ensinar uma lição e dar o exemplo. Para finalmente fazer os sionistas reflectirem que há limites e que a impunidade não será permitida em lugar nenhum.

A luta palestiniana é a ponta da lança contra o imperialismo global. Como o imperialismo transformou o mundo inteiro no seu campo de batalha, é justificado combatê-lo, por todos os meios necessários, sem levar em conta a geografia. Isto é especialmente verdade para aqueles de nós que lutam atrás das linhas inimigas, dentro dos EUA, uma entidade que é responsável em igual medida por todos os crimes cometidos pelos sionistas. Seja na Faixa de Gaza sitiada, no Mar Vermelho, no sul do Líbano ou no coração dos EUA, tem de haver consequências para o imperialismo sionista genocida, e essas consequências são justas.

A força moral que nos obriga a pôr fim à brutalidade sem precedentes do genocídio de Gaza — e do sistema imperialista mundial como um todo — é motivo para afirmar uma nova lei, uma lei criada por actores revolucionários, e desafiar a lei estabelecida, que se mostrou inadequada e fundamentalmente ilegítima. Perante a violência imperialista e colonial incompreensível exercida com absoluta impunidade sobre um povo faminto e aprisionado, temos a obrigação de romper com a autoridade que tornou essa violência possível. Elias Rodriguez fez exactamente isso, e o seu acto de resistência colocou a própria lei em julgamento.

Mas isto é apenas o início da sua batalha, e ele precisa do apoio de todas as pessoas livres por todo o mundo. Os opositores do imperialismo, do sionismo e do genocídio devem unir-se para defender Elias Rodriguez e, através dessa defesa, apoiar a legitimidade e a necessidade da própria resistência. O que acontecer com o seu caso nos próximos meses e anos alterará fundamentalmente a trajectória do movimento internacional contra o sionismo e o imperialismo liderado pelos EUA. Revolucionários e pessoas de consciência em todo o lado têm interesse nesta luta.

O Estado norte-americano irá, sem dúvida, pedir a pena de morte para o seu caso, tal como fez com Rodney Hinton Jr. e Luigi Mangione, cujas alegadas acções também ajudaram a equilibrar a balança da justiça. Os sionistas irão transformar Elias Rodriguez num avatar do nosso movimento, distorcendo a sua mensagem e a nossa, procurando incutir ainda mais medo, intimidar-nos ainda mais para nos silenciar, levando-nos a um «protesto» infeliz e sem esperança. Se permitirmos que matem silenciosamente Elias Rodriguez, se ficarmos parados a assistir ou nos permitirmos esquecer a sua resistência, então eles terão matado também uma parte do nosso movimento, uma parte de nós; aquela parte que anseia por justiça contra a impunidade ultrajante e humilhante deste sistema de genocídio e, na verdade, de biocídio.

Mais uma vez, não temos outra escolha senão defender Elias Rodriguez. Tanto melhor que as suas acções sejam claramente defensáveis e moralmente justas.

Por isso apelamos a todas as pessoas de consciência, aquelas para quem as atrocidades dos últimos 20 meses são simplesmente insuportáveis, que se reúnam em apoio a Elias Rodriguez. Participem no seu acto de justiça, apoiando a sua luta até ao fim. Enviem-lhe apoio moral enviando cartas. Enviem-lhe apoio financeiro depositando fundos na sua conta na prisão e apoiando a sua defesa legal. Reúnam-se nas suas audiências judiciais. Reúnam-se nas masmorras onde o mantêm preso. E, em todos os casos, ergam as vossas vozes para fazerem ecoar as palavras e acções de Elias em nome da justiça e da responsabilização, para que este genocídio contra o povo palestiniano termine agora e a Palestina seja livre. Façam-no com orgulho e sem vergonha. Esta é também uma forma de impor consequências e enviar uma mensagem aos genocidas e seus cúmplices de que a responsabilização está a chegar e, a partir de agora, será rápida, implacável e imparável.

LIBERTEM ELIAS RODRIGUEZ!

LIBERTEM-NOS A TODOS!

CONSTRUAM O BERÇO POPULAR INTERNACIONAL DA RESISTÊNCIA!

GLOBALIZEM A INTIFADA!

– Comité Organizador Libertem Elias Rodriguez (free.elias.rodriguez@proton.me)

Assinaturas

  • Cultural Workers Against Empire
  • Tariq El-Tahrir Youth and Student Network
  • Bronx Anti War
  • Resistance News Network
  • Unity of Fields
  • JDPOD
  • Nidal Seattle
  • Third World Solidarity Front (TWSF)
  • Resistance Archives
  • Free Radical
  • Chorley4Palestine
  • Collectivize!
  • People’s Defense Charlotte
  • Crown Heights Bites Back
  • Teatro de la Psychomachia
  • Montgomery County for Palestine
  • Mateo Feliciano, Diaspora Pa’lante Collective
  • Kamau Franklin
  • DSA Liberation Caucus
  • Civilian Freedom Movement worldwide (CFM)
  • Costurero Anarquista Popular Nueva York
  • Jewish Bund at Brandeis
  • Community Liberation Programs (Bay Area)
  • Palestine News Network (PNN)
  • Brevard Vanguard
  • Gegar Amerika (GEGAR)
  • 巴勒斯坦团结行动网络 Palestine Solidarity Action Network
  • The United Liberation Front for Palestine
  • Masar Badil: The Palestinian Alternative Revolutionary Path Movement

Nota: Entendemos que pessoas preocupadas com a segurança possam questionar por que motivo estamos a recolher uma lista de assinaturas. Acreditamos que, neste momento, é importante mostrar o máximo apoio público possível ao Elias, especialmente por parte de organizações políticas anti-imperialistas e anti-repressivas. Encorajamos especialmente organizações e figuras públicas a assinarem. Outras pessoas, especialmente aquelas menos conhecidas pelo Estado, devem estar atentas à sua segurança e considerar assinar anonimamente com uma conta de e-mail Proton anónima, caso queiram receber actualizações do Comité Organizador Libertem Elias Rodriguez.

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