Iraque // EUA assassinam comandantes do Irão e Iraque que combateram o ISIS~ 3 min
Por Duarte Guerreiro
É difícil fazer sentido do assassinato do líder das forças Quds do Irão, Qassem Soleimani, junto com o líder das Forças de Mobilização Popular iraquianas, Abu Mahdi al-Muhandis por qualquer perspectiva que não o puro oportunismo eleitoral.
Tanto Soleimani como Mahdi foram instrumentais na derrota do ISIS; o primeiro ao coordenar e apoiar as forças que se opuseram à barbárie salafista e ao imperialismo norte-americano que a apoiou; o segundo como líder das forças irregulares que foram cruciais para destruir o ISIS no território iraquiano, bastião territorial da organização. Inclusive, estas forças foram também importantes na protecção do povo Iazidi do genocídio promovido pelos jihadis.
Destruir estes dois homens, bem amados como heróis pelas populações resgatadas dos fanáticos salafistas (não só no Irão e Iraque, mas também na Síria), no mesmo inferno explosivo só terá como efeito aproximar ainda mais o povo iraquiano e iraniano e reduzir as tensões sectárias que os EUA tanto fizeram para promover, agora substituídas pelo ódio ao inimigo comum que tanta miséria trouxe à região.
Tornando o ataque ainda mais estúpido, matá-los nada irá fazer para mudar o que quer que seja. As suas missões estavam cumpridas, as suas ideias cimentadas nas instituições. Tudo o que lhes bastava era tornarem-se mártires para ascenderem ao estatuto de lendas. Os EUA fizeram o favor.
Para nada dizer da atrocidade diplomática representada por este ataque. Os Estados Unidos bombardearam sem aviso o aeroporto da capital de um dos seus aliados, matando um dos seus principais líderes militares.
“O patriotismo é o último refúgio de um canalha.” Tal como Erdogan apostou em começar uma guerra contra os curdos para garantir a sua reeleição em termos favoráveis (com sucesso), Trump parece ter apostado numa jogada semelhante. Certamente não deverão ter faltado vozes de apoio na sua administração e aparelho de Estado cheio de neocons e especuladores que vêem numa guerra com o Irão uma oportunidade de ouro de encher os bolsos às custas de sangue inocente.
Veremos como a situação se desenvolve, até porque o Irão não é conhecido por responder de cabeça quente, mas responder irá. Até lá é importante ficar atento à forma como os media vão tentar vender-nos mais um acto de agressão imperialista. Soleimani é apresentado como um “bad guy” que gosta de matar americanos porque sim, a mesma retórica para débeis mentais com envenenamento cerebral terminal provocado por excesso de Fox News que levou à destruição do Afeganistão, Iraque e Síria.
Onde estavam esses americanos? A beber cocktails nas praias da Flórida? Ou a ocupar, destruir e pilhar a terra dos outros? Quem com ferros mata, com ferros morre.