Aldeia de Barco na rua contra a mina na Serra da Argemela~ 5 min
Por Francisco Norega
O Barco tem feridas recentes infligidas pela exploração mineira. Há cerca de 50 anos, houve perto da aldeia uma exploração mineira de sílica, que durou apenas 5 anos. A grande maioria das pessoas tem familiares que morreram de silicose. «Houve inclusivamente contaminação de águas e com isso um surto de febre tifóide em que morreram várias crianças», conta um manifestante. «Temos memória, não nos podemos esquecer disto».
Este domingo, mais de uma centena de pessoas saiu às ruas desta aldeia do município da Covilhã para contestar o projecto de mina para a Serra da Argemela, a apenas 1 km das casas mais próximas. Os impactos na saúde e na agricultura, a par com a preservação da fauna, da flora e da própria serra, foram as principais preocupações partilhadas ao megafone e em entrevistas. As pessoas vindas de várias povoações no sopé da serra alertaram também para as poeiras dos rebentamentos que contaminariam as águas e os solos, impediriam as pessoas «de abrir as janelas» e matariam a Natureza.
Há, no entanto, algo que inexplicavelmente ainda não provocou nenhum tipo de protesto mais veemente da parte das populações urbanas, especialmente de Lisboa. É que esta exploração mineira está projectada para próximo do rio Zêzere, o rio onde é captada a água que corre pelas torneiras da capital.
O lítio é usado como máscara ecológica e verde deste projecto, encobrindo a real intenção de extracção de 15 minerais. Seria muito mais difícil conseguir a aceitação pela opinião pública de uma mina destas dimensões (a área concessionada tem 403 hectares), não houvesse aquela que agora parece ser uma protecção sagrada – o lítio e essa “transição energética” que vai salvar o mundo trocando a frota mundial de automóveis por carros eléctricos, esventrando montanhas e contaminando terra, água e ar.
Isto acontece também com as outras explorações mineiras contempladas neste plano de fomento mineiro, chamado oficialmente “Programa de Prospecção e Pesquisa de Lítio”, mas que na verdade pretende abrir uma nova era de extracção de todo o tipo de minérios (inclusive urânio) e, pelo caminho, destruir uma grande parte do interior e contaminar a maior parte das principais bacias hidrográficas. Como explica uma companheira do Movimento Não às Minas – Montalegre, «o que está em causa é a extracção de todos os minerais necessários não só à electrificação mas também à digitalização. Em nenhum pedido de prospecção ou exploração é referido só Lítio, mas vários outros minerais que continuam camuflados no mais “limpo” dos minerais».
Depois de um Verão Quente de luta contra as minas no Barroso, esta é primeira acção de rua de um outono que promete resistência contra o plano do Governo de vender a maior parte do interior do país a preço de saldo às empresas mineiras. A 1 de Outubro, na Serra d’Arga, realizara-se já um acto simbólico, o hastear das bandeiras “Mulheres à Serra d’Arga” e “Minas Não!” na povoação de Covas, e ouve-se já um burburinho que promete mais manifestações noutros pontos do território. Viana do Castelo já tem data: 23 de Outubro, dia em que vários movimentos do distrito se juntam numa manifestação sob o lema “Minho Unido contra as Minas”. O ponto de encontro está marcado para as 10h junto à Pousada da Juventude.