“Samir é Semente”: 200 organizações assinalam os 3 anos da morte de Samir Flores~ 7 min

No terceiro aniversário do assassinato de Samir Flores, a tradução portuguesa do comunicado contra «os contínuos ataques às e aos guardiães da terra no México», publicado hoje «desde Slumil K’ajxemk’op – Terra Insubmissa (antes Europa)» e assinado por mais de 200 organizações da Europa e do México. Comunicado publicado originalmente em ViajeZapatista.eu


Desde Slumil K’ajxemk’op – Terra Insubmissa (antes Europa), juntamo-nos às exigências de verdade e justiça para o nosso companheiro Samir Flores, neste terceiro aniversário do seu assassinato e gritamos “Basta!” à repressão sistemática contra xs que levantam a voz.

Há 3 anos, a 20 de fevereiro de 2019, Samir Flores Soberanes, incansável defensor da terra e dos direitos do seu povo, camponês nahuatl, comunicador e fundador da «Radio Comunitaria Amiltzinko», integrante do Congresso Nacional Indígena (CNI), firme opositor do Proyecto Integral Morelos (PIM) e impulsionador da formação da Frente de Pueblos en Defensa de la Tierra y el Agua-Morelos Puebla Tlaxcala (FPDTA-MPT), foi assassinado a tiro em frente à sua casa. Uns dias antes, Samir Flores tinha denunciado publicamente, num fórum organizado pelo governo ao qual assistiu Andrés Manuel López Obrador (AMLO), a demagogia e a manipulação das supostas «consultas populares» que só servem para impôr megaprojectos, simulando um acordo com as comunidades afectadas. A Frente de Pueblos en Defensa de la Tierra y del Agua (FPDTA) tinha proposto ao governo regional e federal um diálogo mediante uma carta pública dirigida a López Obrador, mas o governo respondeu com balas.

São as mesmas balas as que, na passada sexta-feira 11 de fevereiro mataram Francisco Vázquez, presidente do Consejo de Vigilancia de la Asociación de Usuarios del Río Cuautla (ASURCO). O Companheiro Francisco foi assassinado quando se encontrava a trabalhar o seu pedaço de terra no ejido [terrenos comunitários] de Abelardo, município de Ayala, no estado de Morelos. Desde 2019, Francisco Vazquez já havia interposto vários recursos judiciais contra o roubo da água na sua comunidade. A água ia ser destinada à termoeléctrica. A 10 de fevereiro de 2022, durante uma reunião para travar a destituição de Rogelio Plascencia Barreto como Presidente da ASURCO, Francisco declarou temer pela sua vida e fez responsável este último por qualquer coisa que lhe passasse. No dia seguinte, Francisco foi assassinado e, apesar de este já ter tornado públicas as ameaças de morte contra si, o governo do estado de Morelos declarou descartar uma relação entre o seu assassinato e o conflito gerado pelo mau uso da água na termoeléctrica de Huexca, que também é parte do chamado Proyecto Integral Morelos (PIM), uma iniciativa energética e hidro-extractivista, constituída por duas centrais termoeléctricas, um gasoduto e um aqueduto que atravessam os estados de Morelos, Puebla e Tlaxcala. É impulsionada pelo Estado mexicano em associação com empresas espanholas como Abengoa, Elecnor e Enagás, a francesa Saint-Gobain e a italiana Bonatti. Numerosas recomendações científicas pronunciaram-se contra este projecto já que atravessa uma zona sísmica onde se localizam vulcões activos.

Durante a sua campanha eleitoral, López Obrador prometeu cancelar este projecto, razão que levou muitos habitantes da zona a dar-lhe o seu voto. Depois de eleito, anunciou rapidamente a «consulta popular» com fim de legitimar a continuidade do projecto, sendo perfeitamente consciente das graves consequências que isto provocaria: destruição do tecido social, migrações, contaminação e violência. O PIM é um elemento chave do plano do suposto «desenvolvimento» do México, já que conectaria o norte com o sul do país, e conectaria outros megaprojectos como o mal chamado Tren Maya e o corredor transístmico; este último conectaria os dois oceanos através de uma rede de auto-estradas e linhas de comboio, que serviriam de condutas e produção de energia, criando assim as zonas francas ao serviços das grandes empresas multinacionais. Este plano de “desenvolvimento” está sendo impulsionado fortemente e a qualquer preço pelo governo de López Obrador.

«A termoeléctrica leva-nos a nossa água e devolve-nos sangue», gritaram os compartes do ejido do movimiento Ayala en Defensa del Agua no momento em que receberam a notícia do assassinato do companheiro Francisco. Eles e elas, assim como a FPDTA, responsabilizam Rogelio Plascencia, a Comisión Federal de Electricidad (CFE) e o governo mexicano por qualquer coisa que lhes aconteça. Se este assassinato, assim como o de Samir Flores, não se investiga no contexto de uma luta contra um megaprojecto, demonstra-se a impunidade e a violência contra todos xs defensores do território.

Como colectivo temos sofrido desde sempre o injusto castigo que cai sobre as e os defensores da terra e activistas sociais. A isto somam-se detenções ilegais, desaparecimentos forçados e assassinatos de jornalistas – seis foram assassinados só nestas primeiras semanas de 2022.

E como se tudo isto não fosse suficiente, a 15 de fevereiro foi despejada com uma massiva e desproporcional presencia policial e da Guardia Nacional, a Casa de los Pueblos, Altepelmecalli, no município de Juan C. Bonilla no estado de Puebla. O que era uma fábrica engarrafadora de água pertencente ao consórcio transnacional Danone-Bonafont foi ocupada pelos habitantes indígenas nahuas como protesto pelos milhões de litros de água que a empresa roubava à comunidade, secando os rios e poços da região. Neste lugar os habitantes semearam vida e puseram em marcha projectos de saúde comunitária, agricultura, gado e organizaram cooperativas, tudo para o bem colectivo. A tomada da fábrica engarrafadora foi sem dúvida uma provocação para o governo regional e federal, assim como para o capitalismo. Por isso mesmo, a ordem de despejo de Altepelmecalli veio das altas esferas do governo.

E porque a luta continua, foi anunciado o trajecto da Caravana contra os megaprojectos mineiros, gasodutos, hidroeléctricas, parques eólicos, entre outros, que sairá de Altepelmecalli a 22 de março de 2022 e terminará na região do Istmo a 22 de abril do mesmo ano, depois de ter percorrido os territórios afectados.

Basta de projectos de morte que atentam contra a vida e a liberdade dos povos!

Basta de capitalismo que assassina impunemente jornalistas e defensores da terra!

Desde a Europa Insubmissa – Slumil K’ajxemk’op repudiamos:
– O cobarde despejo da Altepelmecalli, a Casa de los Pueblos
– Que se investiguem em profundidade os assassinatos de Francisco Vázquez e de Samir Flores e que sejam julgados os assassinos.

Desde a Europa Insubmissa – Slumil K’ajxemk’op exigimos:
– Que se investiguem em profundidade os assassinatos de Francisco Vázquez e de Samir Flores e que sejam julgados os assassinos.
– Que se investiguem em profundidade os assassinatos dxs jornalistas e que sejam julgados os assassinos.
– A saída da Guardia Nacional e da Polícia Federal da Casa de los Pueblos.

Desde a Europa insubmissa – Slumil K’ajxemk’op, solidarizamo-nos com a Caravana de los Pueblos por la Vida y Contra los Megaproyectos!

Verdade e justiça para Samir Flores e Francisco Vázquez!
Solidariedade com a FPDTA-MPT!

SAMIR VIVE, FRANCISCO VIVE! A LUTA SEGUE! VIVA AMILCINGO!

Todxs somos Samir, todxs somos Francisco:
eles são semente e a sua luta floresce em outros continentes!

VIVA A LUTA DOS POVOS!
JUSTIÇA, TERRA, ÁGUA E LIBERDADE!

Não se mata a verdade matando jornalistas!

Comunicado assinado por mais de 200 organizações dos dois lados do oceano
[lista completa aqui]

Algumas imagens das acções em solidariedade com Samir Flores Soberanes

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