Portugal // Resistência anti-mineração volta a acampar em Covas do Barroso~ 5 min
Por Guilhotina.info
Depois de uma primeira edição em 2021, esta aldeia barrosã – que tem chamado à atenção por estar na linha da frente da resistência contra o Plano de Fomento Mineiro que põe em risco quase um quarto do território português – volta a acolher o Acampamento em Defesa do Barroso.
O recente anúncio da APA de que a Savannah terá de fazer ajustes ao seu estudo de impacte ambiental – apenas para fazer de conta que o Estado está a ter em conta as participações na consulta pública e os repetidos protestos da população local – pode parecer uma vitória. No entanto, durante este ano, no terreno, a população local continuou – e continua – a ter de enfrentar as muitas manobras da empresa, como explica o próprio manifesto do acampamento:
Se no passado achávamos que (apenas) teríamos que enfrentar uma empresa e o governo português para proteger o nosso território e o património, agora sabemos que vale tudo. Fomos confrontados/as com ameaças, com tentativas de intrusão nos processos democráticos do poder local e, inclusive, com as mais básicas táticas de divisão, segundo a famosa máxima “dividir para conquistar”. Aprendemos a não subestimar o quão fundo se consegue descer na busca desenfreada por lucro.
Contra as insidiosas manobras de divisão social orquestradas pelas companhias mineiras, contamos com o apoio, a solidariedade e a camaradagem de outras populações em luta, aqui e mundo afora, assim como com a força da união da nossa comunidade.
Este ano, perante o cenário de guerra e de militarização da sociedade, o mundo vê-se obrigado a refletir sobre o que significa e quanto custa realmente a “transição” energética que se adivinha. Queremos confrontar e desconstruir a ideia de que a transição energética tem de passar, necessariamente, pelo extrativismo desenfreado, pelo esgotamento de todos os recursos naturais segundo o plano de terra arrasada, pela despossessão dos territórios rurais, e pela procura incessante de lucros. Queremos falar-vos de engenharia social e de terrorismo judicial, de como combater o frenesim capitalista que quer crescer à custa das nossas gentes, dos nossos montes e das nossas águas.
Queremos, acima de tudo, evitar que uma empresa gananciosa destrua as nossas serras e reescreva a nossa ancestral história. Queremos impedir este colonialismo modernista, que submete populações e regiões vulneráveis aos piores abusos em nome de um “bem comum” que nunca chega.
Manifesto do Acampamento em Defesa do Barroso ’22
A resistência, em Covas, pratica-se no dia-a-dia e, claro, nas jornadas de luta – como este Acampamento. Se a Savannah a quer reescrever, organizam-se conversas sobre a História de Covas e da região do Barroso. Se a Savannah quer passar uma imagem de uma região morta que precisa de ser dinamizada, dá-se a conhecer a importância dos baldios e das dinâmicas comunitárias ancestrais. Se a Savannah quer dividir para reinar, chamam-se pessoas e organizações de aquém e além fronteiras para construir solidariedade. Durante 4 dias, um programa recheado convida quem estiver interessado a conhecer a realidade, a cultura e a luta do Barroso contra a mineração, mas também as lutas de outras partes do mundo.
Um programa que convida também a construir um olhar crítico sobre as narrativas sobre a transição ecológica que nos são impostas desde cima:
Não nos vamos deixar enganar pelas “Roupas Nova do Rei”, nem ser obrigados a dizer que cinzento é verde, que as minas são sustentáveis, e muito menos iremos acreditar que as empresas de mineração são os nossos salvadores e que nos vão trazer desenvolvimento sustentável.
Estamos cansados de afirmações de que a exploração mineira na UE está sujeita aos mais elevados padrões ambientais e sociais a nível mundial, ficou provado que não é e que estamos vulneráveis a abusos. Em Covas do Barroso temos a prova de que as leis valem pouco ou nada se não forem aplicadas e mais ainda se o governo e as instituições públicas estiverem dispostas a ceder e a curvar-se à vontade das empresas mineiras.
Em Covas do Barroso, nós que sempre vivemos de forma sustentável, recusamos ser sacrificados para que outros possam manter o seu consumismo intensivo.
Gostaríamos muito de contar-vos a nossa história, apresentar-vos as nossas gentes, e mostrar-vos o imenso património histórico e natural que herdámos – e que lutamos para proteger.
A empresa Savannah Resources, sedeada em Londres, pretende abrir em Covas do Barroso uma exploração mineira com uma área total de 593 hectares que destruiria a maior parte das montanhas a sul da aldeia, bem como as fontes de água de certos lugares da freguesia.
Durante o acampamento será também apresentado o documentário “NÃO ÀS MINAS – Barroso: Um Povo em Resistência”, um trabalho colectivo dos Medios Libres con la Gira Zapatista. Este documentário verá agora, pela primeira vez, a luz do dia, mas só em Outubro ou Novembro chegará às cidades e ao mundo virtual.
Sigam todas as informações sobre o acampamento no Facebook, no Instagram e em BarrosoSemMinas.org