Acampamentos pelo fim do genocídio multiplicam-se em Lisboa~ 8 min

Por F

Estudantes de Lisboa iniciaram hoje uma nova fase do protesto pelo fim do genocídio em Gaza e pelo fim da utilização de combustíveis fósseis. Depois da brutal repressão que marcou o final da semana passada na Faculdade de Psicologia, os e as estudantes em protesto desde terça-feira passada decidiram desmontar o acampamento para “recarregar energias durante o fim-de-semana” e preparar os próximos passos da sua luta.

Hoje, tal como haviam prometido, tiveram início dois novos acampamentos, um na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e outro na Faculdade de Belas Artes. Dezenas de tendas instaladas nas duas faculdades mostram que os e as estudantes estão determinadas a continuar a sua luta e a fazer ouvir as suas reivindicações, começando também a receber manifestações de solidariedade da parte de professores.

Noutras cidades, como Braga, Porto e Coimbra, estudantes também saíram à rua durante a última semana e preparam acções para esta quarta-feira, dia que assinala o 76.º aniversário da Nakba. Recapitulamos os principais acontecimentos da última semana.

Brutal repressão na Faculdade de Psicologia

Na quinta-feira, o Reitor da Universidade de Lisboa chamou a polícia para reprimir os estudantes que estavam desde terça-feira a ocupar a Faculdade de Psicologia para reivindicar o fim do genocídio em Gaza e o fim da utilização de combustíveis fósseis até 2030.

Este é mais um episódio de repressão policial nesta universidade que, desde Novembro de 2022, se vai tornando cada vez mais comum. Durante a noite de repressão, a polícia deteve 8 estudantes que se recusaram a abandonar a Faculdade de Psicologia. No exterior, agrediu dezenas de estudantes e manifestantes solidários que tentavam impedir a saída dos carros em que seguiam as estudantes detidas.

«Não compreendemos como isto continua a acontecer», disse Joana Fraga, estudante de medicina, quando ainda se encontrava dentro da faculdade. E continuou:

Somos apenas estudantes a protestar pacificamente pelo nosso direito à vida e pelo direito à vida dos Palestinianos. A repressão contra os movimentos estudantis está a tomar proporções nunca antes vistas em Democracia…

Apesar da repressão, dezenas de estudantes decidiram não desmobilizar e continuaram o acampamento no exterior do edifício da Faculdade de Psicologia. As estudantes detidas passaram a noite na esquadra e foi-lhes negado o contacto com advogados durante várias horas, facto denunciado por uma das advogadas presente na esquadra.

Assembleia massiva: próximos passos?

Na sexta-feira, a polícia continuou presente na Faculdade de Psicologia, enquanto as actividades do acampamento decorriam normalmente, de forma totalmente pacífica. Ao final da tarde, cerca de uma centena de pessoas acudiram ao chamado do movimento para participar numa Assembleia para discutir os próximos passos.

Num comunicado publicado no dia seguinte, o movimento anunciou que havia desmobilizado o acampamento nessa faculdade para “recarregar energias durante o fim-de-semana” e para se prepararem para “expandir a ocupação”.

É tempo de nos juntarmos e mostrarmos a alto e bom som que não consentimos com o genocídio, com que nos roubem o nosso futuro e com este sistema que coloca o lucro acima da vida.

Comunicado publicado pela Ocupa FPUL

Ainda no sábado, foi dado início a uma recolha de fundos para apoiar as estudantes detidas nos custos legais dos processos judiciais. O movimento aceita também doações materiais, como alimentos, para apoiar os acampamentos. Contribuições podem ser feitas aqui.

FENPROF solidariza-se com estudantes e repudia a repressão

Num comunicado publicado no sábado, a Federação Nacional de Professores expressou a sua solidariedade para com os estudantes “que se encontravam a realizar um protesto pacífico, de solidariedade com o povo da Palestina e pelo fim dos combustíveis fósseis” e foram vítimas de uma intervenção policial que “resultou no uso da força física, com bastonadas, e na detenção de oito estudantes”.

Não é tolerável, 50 anos após o 25 de Abril, que responsáveis de Instituições de Ensino Superior públicas portuguesas recorram à força policial como instrumento de gestão escolar, de relacionamento com os estudantes e de limitação da liberdade de discussão, quando da ação estudantil não resulta qualquer violência ou perigo.

Declaração da FENPROF na íntegra aqui.

A FENPROF «apela igualmente aos trabalhadores docentes e de investigação das Universidades e Institutos Politécnicos a apoiarem as manifestações pacíficas dos estudantes», bem como a documentar eventuais abusos policiais em contexto académico e «a intervir nos órgãos de gestão das suas instituições de modo a nelas impedir a instauração e banalização de práticas autocráticas de governo».

FCSH e FBAUL

Como já haviam anunciado, estudantes iniciaram esta manhã acampamentos em duas novas faculdades da Universidade de Lisboa – a de Ciências Sociais e Humanas e a de Belas Artes.

“Todos os olhos em Rafah – cessar fogo já!”, “Fim ao Fóssil até 2030” e “Caminhos trilhados na Europa de coração em África” são algumas das mensagens que podem ser lidas em faixas e cartazes que decoram o acampamento na FCSH, que conta já com cerca de duas dezenas de tendas. Esta é uma faculdade onde, durante os últimos meses, estudantes têm levado a cabo vários debates e acções de protesto em solidariedade com a Palestina, tendo sido também palco de várias tentativas de silenciamento.

O movimento Estudantes por Justiça na Palestina-FCSH já tinha entregue à direcção e aos conselhos da faculdade, na passada sexta-feira, uma carta aberta em que exige que a faculdade quebre o silêncio «sobre o massacre que, há sete meses, horroriza a sua comunidade estudantil» e crie «espaços de debate honesto e rigoroso sobre o sistema de dominação colonial que oprime o povo palestiniano».

Nas palavras de Desmond Tutu, a quem devemos um legado de resistência contra o regime de apartheid na África do Sul, “ser neutro em situações de injustiça é escolher o lado do opressor”. Reivindicamos uma academia crítica, que recuse a cumplicidade na manutenção de sistemas de opressão, onde quer que eles surjam.

A carta aberta conta já com 230 assinaturas de estudantes, investigadoras, funcionários e professores da faculdade, e continua aberta a subscrições.

Estudantes manifestam-se de norte a sul

Embora ainda não tenham sido iniciados acampamentos em nenhuma outra parte do território português, estudantes têm começado a organizar-se e a sair à rua em várias outras cidades.

Na passada quarta-feira, cerca de meia centena de estudantes realizaram uma assentada em frente à Reitoria da Universidade do Porto para exigir posicionamentos por parte da universidade e de outras instituições, bem como o fim da colaboração com empresas e instituições de investigação israelitas.

Em Coimbra, estudantes também realizaram assentadas no Largo D. Dinis, no Pólo I da Universidade de Coimbra.

76.º aniversário da Nakba

Esta quarta-feira assinalam-se 76 anos desde a Nakba, o processo de limpeza étnica sobre o qual foi fundado o Estado de Israel. Em 1948, durante a Nakba, que significa Catástrofe em árabe, milícias sionistas destruíram e despovoaram centenas de cidades e povoações da Palestina, expulsando pelo menos 750 mil palestinianos das suas terras.

Para assinalar esta data, movimentos de estudantes e da sociedade civil estão a convocar várias acções para Braga, Porto, Coimbra e Lisboa.

Em Braga, está convocada uma greve estudantil que tem início às 17h com uma concentração, seguida de assembleia estudantil, jantar comunitário e sessão de cinema.

No Porto, às 18h na Praça dos Poveiros, realiza-se uma concentração pela libertação da Palestina e pelo direito ao retorno dos refugiados da Nakba, seguida de uma Assembleia Estudantil e Popular na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com início às 19h.

Em Coimbra, nova assentada vai ter lugar no Largo D. Dinis, das 10h às 17h.

Em Lisboa, uma vigília vai ter lugar no Jardim Amélia Carvalheira (junto à FCSH) a partir das 20h. Antes disso, às 16h, vai ter lugar no ISCTE a projecção do filme “O Sonho”, composto por uma série de entrevistas a refugiados palestinianos no Líbano, seguida de discussão.

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