Jornalistas em Gaza: «Fomos abandonados pela comunidade internacional»~ 3 min
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Por Guilhotina.info
Intervenção feita por Abubaker Abed em inglês, dirigida ao público internacional, durante uma conferência de imprensa de jornalistas palestinianos à entrada do Hospital Mártires de Al-Aqsa, em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, a 9 de Janeiro de 2025:
Estas palavras não são minhas, são as palavras de cada um de nós, a resistir aqui, após 459 dias do genocídio mais bem documentado da História, o primeiro a ser transmitido em directo. Ao longo destes dias, temos relatado este genocídio incansavelmente, extensivamente e meticulosamente. É, de facto, um genocídio contra nós, que temos documentado a partir de locais de trabalho e acampamentos de tendas improvisados. É nestes locais que temos encontrado abrigo desde o primeiro dia.
Já nos viram a derramar lágrimas pelos nossos entes queridos, colegas, amigos e familiares. Viram-nos ser mortos de todas as maneiras possíveis – temos sido imolados, incinerados, desmembrados e esventrados, e recentemente temos literalmente morrido de frio. De quantas maneiras mais têm de nos ver ser mortos para que se mexam e ajam, e ponham fim ao inferno que nos infligem?
Não há palavras para descrever o que temos passado. Vocês viram os nossos corpos, como se tornaram frágeis, magros e cansados. Mas nunca parámos – nunca parámos de vos contar a verdade, de vos narrar as nossas histórias e de vos dizer que estamos a ser genocidados – para comover as vossas consciências mortas para que ajudem uma população que viveu todos os tipos de tortura e provou todos os tipos de morte.
Hoje eis-nos todos aqui, perante a impunidade de israel. E não sabemos quantos jornalistas têm de ser mortos para que vocês possam realmente agir e pôr fim à impunidade de israel. A nossa mensagem é muito clara: somos jornalistas, e somos jornalistas palestinianos. Fomos abandonados pela comunidade internacional, em particular pelas organizações internacionais dos media. Não vimos qualquer tipo de apoio, nem uma única palavra de apoio.
Até os coletes de imprensa que trazemos vestidos neste momento nos marcam como um alvo, não nos protegem de maneira nenhuma – sim, porque somos palestinianos. Talvez se fôssemos ucranianos, ou de qualquer outra nacionalidade, com cabelo loiro e olhos azuis, caísse o carmo e a trindade em todo o mundo.
Mas, como somos palestinianos, temos apenas um direito – o de sermos mortos e mutilados.
Por fim, estamos apenas a documentar um genocídio contra nós. Já chega! Após quase um ano e meio, queremo-vos ao nosso lado, porque nós somos como qualquer outro jornalista, repórter ou trabalhador da comunicação social em qualquer parte do mundo – independentemente da origem, cor ou raça.
Jornalismo não é crime. Nós não somos um alvo.
Abubaker Abed tem 21 anos e o seu sonho é ser jornalista desportivo. Nos últimos 15 meses, no entanto, dedicou-se a documentar o genocídio em curso contra o seu próprio povo.
I had a word to say against the lack of international support for Palestinian journalists pic.twitter.com/9Rdj81bDT3
— Abubaker Abed (@AbubakerAbedW) January 9, 2025
600 jornalistas mortos, feridos e detidos pelo regime sionista
No dia a seguir à conferência de imprensa, Saed Nabhan, fotojornalista da Al Ghad TV, tornou-se o 204° jornalista assassinado em Gaza desde 7 de Outubro.
Saed foi atingido por um sniper israelita enquanto cobria uma evacuação de feridos no campo de refugiados de Nuseirat. O momento foi capturado em vídeo por outro jornalista que acompanhava as equipas médicas.
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Desde 7 de Outubro de 2023, o regime sionista feriu e prendeu outros 400 jornalistas.