Israel colapsa cessar-fogo e retoma bombardeamentos contra Gaza~ 8 min

Por F
Depois de dois meses de suposto “cessar-fogo”, durante os quais o regime sionista violou os termos do acordo centenas de vezes e matou mais de 150 palestinianos, o genocídio em curso na Faixa de Gaza voltou hoje ao seu ritmo habitual.
O colapso do cessar-fogo foi anunciado pelo gabinete do primeiro-ministro israelita pelas duas da madrugada, hora em que a força aérea sionista deu início a uma intensa e massiva onda de bombardeamentos que atingiram o território de norte a sul.
Esta decisão surge depois de o Hamas se ter recusado repetidamente a libertar os nossos reféns e de ter rejeitado todas as propostas [apresentadas por] Steve Witkoff e os mediadores.
As IDF estão atualmente a atacar alvos terroristas do Hamas em toda a Faixa de Gaza, com o objectivo de atingir os objectivos de guerra estabelecidos pela liderança política, incluindo a libertação de todos os nossos reféns – tanto os vivos como os mortos.
A partir de agora, Israel actuará contra o Hamas com uma intensidade militar crescente.
Comunicado completo aqui.
A liderança sionista presenteia-nos com mais uma tentativa de colocar as responsabilidades na resistência palestiniana, quando foi o próprio regime sionista que sabotou as negociações sobre a segunda fase do acordo de cessar-fogo, que previa a retirada completa das forças da ocupação da Faixa de Gaza, e as últimas propostas de Witkoff fugiam aos mais básicos princípios do que havia sido acordado em Doha. Também foi o regime sionista que, depois de impedir a entrada de tendas, caravanas e ajuda humanitária nas quantidades estipuladas pelo acordo, impôs um cerco completo ao território que dura há já 16 dias.
Mais de 400 mortos
Nas primeiras 12 horas após o início dos bombardeamentos, o Ministério da Saúde de Gaza registou 404 mortes e mais de 560 feridos. Como habitual, estes números dizem respeito às mortes confirmadas por autoridades médicas, com muitas mais vítimas debaixo dos escombros e em zonas fora do alcance dos serviços de emergência médica.
Ainda segundo o Ministério da Saúde de Gaza, destas 404 vítimas mortais, 174 são crianças, 89 são mulheres e 32 são pessoas idosas.

A jornalista palestiniana Hind Khoudary afirma que “os ataques israelitas foram uma surpresa e choque” para a população de Gaza. “A maioria das pessoas estava a dormir e acordou com o som dos bombardeamentos massivos.”
A intensidade dos bombardeamentos no oeste da Cidade de Gaza foi tão violento que muitas das pessoas mortas foram atiradas para fora dos seus edifícios – a sua carne foi recolhida das ruas e dos pátios de outras casas.
Hani Mahmoud, jornalista palestiniano
Hamas apela à solidariedade internacional
O Hamas denunciou o “vergonhoso silêncio internacional” e a aprovação tácita por parte dos EUA do curso escolhido pelo regime sionista, afirmando que isso “confirma a complicidade directa [dos EUA] no crime de genocídio contra o nosso povo”.
O movimento da resistência palestiniana apelou “aos filhos da nossa nação árabe e islâmica e aos povos livres do mundo para que saiam às ruas e praças públicas, erguendo bem alto a sua voz em rejeição do retomar do genocídio sionista contra o nosso povo na Faixa de Gaza”.
«Palestina ou Barbárie»
Num texto publicado hoje nas suas redes sociais, a jornalista libanesa-norte-americana Rania Khalek afirma que “esta é a questão decisiva do nosso tempo”.
Há estados, instituições e indivíduos neste mundo que observam o sanguinário, fascista e colonial estado de israel a demolir continuamente o seu próprio historial de depravação e barbárie, e não fazem nada.
Pensam que podem ignorá-lo ou manter-se neutros. Mantêm os seus acordos comerciais e programas de intercâmbio cultural. Aceitaram um mundo de campos de morte onde centenas de pessoas são deliberadamente assassinadas em poucas horas. (…)
As nossas opções são um mundo distópico, onde os poderosos tratam qualquer pessoa mais fraca da mesma forma que Israel trata os palestinianos, ou podemos lutar por um mundo justo e libertado, onde as pessoas vivam com dignidade e onde ninguém se atreva a assassinar dezenas de milhares de bebés por causa das consequências.
É literalmente a libertação da Palestina ou a barbárie em toda a parte.
A cobardia e a cumplicidade têm consequências. As pessoas não vão aceitar isto de braços cruzados. Mas se aqueles que se mantêm em silêncio continuarem a permitir que israel eleve a fasquia dos horrores, isto tornar-se-á a norma em todo o lado. E ninguém estará a salvo.
Iémen e Gaza, um elo inquebrável
O colapso do cessar-fogo em Gaza acontece apenas dois dias após os EUA darem início a operações militares contra o Iémen, que já fizeram mais de 50 vítimas mortais e uma centena de feridos, entre os quais muitas mulheres e crianças, em diferentes províncias controladas pelo Ansar Allah.
Na terça-feira passada, o Iémen voltou a impôr um bloqueio naval ao regime sionista, depois de expirar o ultimato que a liderança iemenita tinha feito ao regime sionista para levantar o cerco a Gaza e permitir a entrada de ajuda humanitária.
Na noite de sábado, Donald Trump anunciou o início de operações militares contra o Iémen, dando início a uma campanha de bombardeamentos que já atingiu posições militares e edifícios governamentais, um centro de tratamento de cancro e outras instalações médicas, infraestruturas económicas e bairros residenciais.
Esta campanha, a pretexto da “defesa da liberdade de navegação” e do comércio internacional, tem como objectivo pressionar a resistência iemenita a parar as suas acções de apoio a Gaza, executadas ao abrigo da Convenção para a Prevenção do Crime de Genocídio, de 1948. Estas acções de um dos países mais pobres do mundo – sob pesadas sanções, há mais de uma década sujeito a uma guerra imposta pelo Império, e com um governo que não é reconhecido pela “comunidade internacional” – são frequentemente ignoradas pelos media ocidentais, mas tiveram impactos gigantescos que o próprio Donald Trump reconheceu no texto que publicou a anunciar o início dos ataques:
Estes ataques implacáveis custaram aos EUA e à economia global muitos biliões de dólares e, ao mesmo tempo, puseram em risco vidas inocentes. (…) Os Houthis bloquearam a navegação numa das mais importantes vias navegáveis do mundo, paralisando vastas áreas do comércio global, atacando o princípio fundamental da liberdade de navegação de que depende o comércio internacional.
Donald Trump
Tal como aconteceu com as operações lançadas pelo Império há um ano atrás, é pouco provável que os bombardeamentos norte-americanos dissuadam a resistência iemenita de continuar a apoiar Gaza. Pelo contrário, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Iémen garantiu que “a agressão só fortalecerá a nossa determinação em apoiar e defender o povo palestiniano”. No domingo, Abdul Malik Al-Houthi, líder do Ansar Allah, afirmou durante um comunicado ao país e ao mundo que o embargo passava a incluir também embarcações norte-americanas:
Confrontaremos a escalada com escalada. Responderemos ao inimigo norte-americano, aos seus ataques e à sua agressão, com ataques de mísseis [e drones] visando os seus porta-aviões, navios de guerra e navios, que ficarão agora sujeitos à decisão de embargo. (…)
Quanto à nossa decisão [de embargo], fomos claros, dizia respeito apenas ao inimigo israelita, mas os americanos serão agora sujeitos ao embargo. O facto de os Estados Unidos transformarem o mar num teatro de guerra é que afectará verdadeiramente a navegação internacional. Todos os Estados têm o dever de saber quem representa uma ameaça à navegação.
Abdul Malik Al-Houthi
As enormes marés humanas, que ontem voltaram a encher as ruas de Sanaa e de centenas de outras cidades e vilas iemenitas, mostram o enorme apoio popular à continuação das operações em apoio a Gaza.
(Re)começa a Escalada
Hoje, em resposta à escalada da agressão contra Gaza, o Iémen lançou um míssil balístico contra território controlado pelo regime sionista. O míssil foi interceptado, mas, pela primeira vez em quase dois meses, as sirenes voltaram a soar no sul da Palestina ocupada e fizeram os colonos correr para os abrigos.
Os acontecimentos das últimas 24 horas – a par com as crescentes ameaças ao Irão, renovadas ontem por Donald Trump –, colocam de novo a região mais perto de uma escalada cujas consequências são difíceis de prever.