A guerra sionista contra as oliveiras no Líbano e na Palestina~ 7 min

Por F
Um novo relatório da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) da ONU revela que, entre Outubro de 2023 e Novembro de 2024, só nas províncias do sul do Líbano, a agressão israelita destruiu mais de 2 mil hectares de árvores de fruto – incluindo mais de 800 hectares de olivais, 600 hectares de pomares de citrinos e 400 hectares de plantações de bananas. Além disso, os ataques israelitas destruíram quase 5 mil hectares de florestas.
A maioria destas florestas e pomares foi consumida por incêndios, provocados por bombardeamentos com fósforo branco ou outras munições incendiárias, ou destruída por bulldozers israelitas desde que entrou em vigor o “cessar-fogo” no Líbano no final de Novembro. O projecto libanês WhitePhosphorus.info documentou, entre Outubro de 2023 e Outubro de 2024, pelo menos 195 ataques com fósforo branco no sul do Líbano.

60 mil oliveiras e 2 milhões de animais vítimas da agressão israelita no Líbano
Segundo o relatório da FAO, a agressão israelita provocou ainda a perda de cerca de 2,3 milhões de animais, incluindo 2,2 milhões de aves, 55 mil ovelhas e cabras, 3 mil cabeças de gado bovino e quase 50 mil colmeias. No que toca aos sectores da aquacultura e pesca, o relatório regista 14 viveiros de peixes danificados por ataques israelitas, 11 barcos pesqueiros destruídos e 15 parcialmente danificados.
Segundo outro relatório publicado no âmbito do IPC, um sistema de análise e classificação dos níveis de insegurança alimentar estabelecido pela FAO, pelo menos 60 mil oliveiras foram destruídas no Líbano desde Outubro de 2023 – representando 20% da produção nacional de azeitonas. Muitas delas eram oliveiras centenárias.
Tendo em conta que este é um número que se mantém estável desde pelo menos Março de 2024, antes da espiral de violência imposta sobre o Líbano a partir de Setembro, é provável que o número real seja muito superior.

Dois milhões de oliveiras destruídas em Gaza
Como parte do genocídio em curso na Faixa de Gaza, além dos ataques contra civis indefesos, hospitais, escolas e todo o tipo de infraestruturas, o regime sionista também destruiu de forma sistemática campos agrícolas, estufas e olivais.
Segundo Mahmoud Fatafta, porta-voz do Ministério da Agricultura Palestiniano, citado pelo portal conservacionista norte-americano Mongabay:
Cerca de 74% da área cultivada com oliveiras foi destruída… equivalente à perda de aproximadamente 2 290 000 oliveiras.
Em 2024, devido ao genocídio, a maioria dos agricultores de Gaza não conseguiu aceder às suas terras durante o normal período de colheita da azeitona, em Outubro-Novembro.
Com a entrada em vigor do “cessar-fogo”, a 18 de janeiro, agricultores de Rafah e Khan Younis voltaram ao que resta dos seus olivais e levaram a cabo uma colheita sem precedentes, possível graças aos baixos níveis de precipitação durante os dois meses de espera, o que preservou a qualidade do azeite. Apesar de pequena em comparação com colheitas anteriores, os agricultores de Gaza colheram este ano 50 toneladas de azeitona.

Os olivais representam quase metade das terras agrícolas da Cisjordânia e de Gaza, e são parte integrante da economia e da cultura palestinianas.
«Estas árvores conhecem os nossos antepassados», disse Aya Gazawi Faour, co-fundadora da Olive Odyssey, que trabalha com olivicultores na Cisjordânia, em declarações à Mongabay. «Elas são mais velhas do que a ocupação e mais velhas do que a maioria de nós.»
50 mil árvores na Cisjordânia
Entretanto, na Cisjordânia ocupada, os ataques de colonos israelitas contra agricultores palestinianos triplicaram durante a colheita de 2024, em comparação com os três anos anteriores.
O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU registou 260 incidentes violentos relacionados com a colheita da azeitona na Cisjordânia entre Outubro e Novembro de 2024, com impacto em 89 comunidades palestinianas. Nestes ataques, de acordo com o OCHA, pelo menos 68 pessoas foram feridas por colonos e soldados israelitas e mais de 3 mil árvores, na sua maioria oliveiras, foram queimadas, cortadas ou danificadas.
Desde 7 de outubro de 2023, mais de 52 mil árvores foram destruídas na Cisjordânia

A organização israelita de defesa dos direitos humanos B’Tselem documentou, num mapa interactivo, mais de 50 casos de roubo, impedimento de acesso e ataques aos agricultores e às suas terras durante a colheita de 2024.
A Cisjordânia resiste
Apesar da violência e das restrições, e contra todas as probabilidades, a Cisjordânia produziu 27 300 toneladas de azeite em 2024 – excedendo em muito as previsões do Ministério da Agricultura, que estimavam uma produção de 18,000 toneladas de azeite no ano passado.
Apesar dos desafios crescentes dos últimos 17 meses, «a nossa determinação só ficou mais forte», garantiu à Mongabay Lisa Shahin, da iniciativa Million Tree Campaign, que plantou quase 100 mil árvores de fruto, nogueiras e oliveiras na Cisjordânia desde Outubro de 2023.
O nosso trabalho não tem que ver apenas com árvores ou terra – tem que ver com existência, com dignidade e com resistência verde contra a ocupação.
Lisa Shahin

Nada disto é novo
Os ataques contra agricultores, a queima de campos e oliveiras, o roubo de azeitonas e as descargas de águas residuais e lixo em terrenos agrícolas têm-se intensificado no último ano e meio, mas são prática comum desde há décadas.

À direita: Tuqu, Belém, 2022 [Fonte: Wafa]
Entre 1967 e 2015, o regime sionista destruiu mais de 800 mil oliveiras na Palestina.
A título de exemplo, um mês antes de 7 de Outubro de 2023, colonos israelitas queimaram três oliveiras milenares de Issa Amro, um agricultor e activista palestiniano em Hebron – apenas um de muitos ataques nos meses que antecederam a Inundação de Al-Aqsa.
