Gaza apela ao cerco das embaixadas dos EUA no dia 25 de Abril~ 6 min

Por F

O cerco arrasta-se, a fome aperta e o genocídio avança. Os apelos à acção que saem de Gaza multiplicam-se, tão desesperados quanto a situação do seu povo. São apelos que já não pedem meras manifestações, mas acções concretas e uma escalada da solidariedade com a Palestina.

Até o Projecto Sameer, uma iniciativa cujo foco é fornecer abrigos de emergência e vários tipos de ajuda humanitária a famílias deslocadas em Gaza, está a apelar à disrupção, desobediência civil e acção directa. Esta quarta-feira, numa publicação intitulada «O que fazer para além das doações?», o projecto Sameer afirma que «as doações são importantes, os protestos também, mas nem um nem outro vão pôr fim ao genocídio» e dá uma série de dicas sobre vários tipos de acção directa.

A acção directa através da desobediência civil gera consequências materiais, seja pelo impacto directo nas máquinas que criam armas ou simplesmente pela sinalização dos edifícios de actores cúmplices. Este tipo de acções tem mais visibilidade porque custa dinheiro e tempo às empresas e aos governos.

Sameer Project

No Ocidente, não são só os grupos tidos como “radicais” que ecoam estes apelos – o professor universitário David Miller, por exemplo, está a apelar à “resistência material contra o sionismo”.

O que significa acção material? Significa luta armada, significa o direito à resistência armada – e, claro, isso está a acontecer na Ásia Ocidental (…). No Ocidente, significa confrontar directamente a máquina de guerra. Hoje, a vanguarda do movimento anti-sionista é a Palestine Action.

David Miller

Semana de Mobilizações

Também esta quarta-feira, o Hamas divulgou um comunicado a apelar a uma semana de mobilizações urgentes em apoio a Gaza, sublinhando a necessidade de acção imediata para pôr um fim à “brutalidade sionista e ao genocídio contra o nosso povo palestiniano em Gaza, que é perpetrado com o apoio americano e sob um silêncio internacional ensurdecedor”.

O movimento da resistência palestiniana declarou esta sexta-feira, sábado e domingo (18, 19 e 20 de Abril) “dias mundiais de raiva face à ocupação e contra a cumplicidade americana e a inacção internacional”.

Além disso, o movimento apela a uma Greve Geral Global em universidades e instituições de ensino em todo o mundo na terça-feira, 22 de Abril.

25 de Abril: cerco às embaixadas dos EUA

Por estes dias, a sociedade civil, médicos e jornalistas de Gaza lançaram um outro apelo: cercar as embaixadas dos Estados Unidos em todo o mundo a 25 de Abril, fazendo deste um Dia Global de Acção por Gaza.

Enviamos este apelo desde Gaza, desde o coração do genocídio e da agressão em curso, aos povos do mundo – aos sindicatos, aos movimentos estudantis e às iniciativas populares em todo o lado.

Chegou a hora da acção directa.

Durante mais de 18 meses, mais de dois milhões de pessoas em Gaza foram sujeitas a um ataque sistemático que visa todos os aspectos da vida. Trata-se de um genocídio executado com armas dos EUA, sob a cobertura política dos EUA e perante um silêncio internacional que equivale a uma cumplicidade total.

Os movimentos populares em todo o mundo já provaram a sua capacidade de expor estes crimes e de fazer subir o preço da cumplicidade. Hoje, estes movimentos têm de escalar [as suas acções] clara e directamente contra o coração do sistema internacional que sustém este genocídio – os Estados Unidos.

Fonte

Acções concretas ou sair à rua a horas certas?

Por cá, este 25 de Abril, a solidariedade com a Palestina tem duas opções: sair à rua a horas certas para celebrar uma democracia que já não existe, ou acudir aos apelos de Gaza e traduzir a solidariedade em acções concretas.

Os movimentos pela Palestina em Portugal podem continuar a assinalar datas do calendário, como o Dia da Terra, o aniversário da Nakba ou o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestiniano – mas, se não ouvirem os palestinianos e responderem aos seus apelos, qual é o sentido?

Que sentido faz, após um ano e meio de genocídio, continuar a marcar manifestações ordeiras, com pontos de partida e chegada inócuos, onde nunca podemos encontrar símbolos dos poderes que são responsáveis, mais ou menos directamente, pelo genocídio em curso?

Dia 25 de Abril, o lugar da solidariedade com a Palestina é nas embaixadas dos EUA, cá e em todo o mundo – ou, onde não houver embaixadas norte-americanas, a levar a cabo acções directas contra instituições cúmplices com a ocupação e o genocídio em curso.

Que sentido faz celebrar a liberdade que nos trouxe Abril, quando o silenciamento se tornou prática comum? Que sentido faz celebrar as “conquistas de Abril”, a saúde e a educação gratuitas que nos trouxe a Constituição de Abril, quando estas não são mais do que um conto distante que lemos nos livros de História?

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