Portugal // Conselho das Escolas Médicas defende o encerramento de fábricas, da construção civil e de todas as actividades não essenciais~ 5 min

Por Francisco Norega

O Conselho das Escolas Médicas Portuguesas (CEMP) emitiu esta quarta-feira um comunicado com várias recomendações, das quais destacamos:

  • Encerramento de todas as actividades não essenciais, incluindo fábricas e actividades da construção civil; 
  • Quarentena obrigatória de todas as pessoas que entram no país; 
  • Realização maciça de testes; 
  • Reforço do financiamento do SNS;
  • Uso generalizado de material protector. 

O CEMP considera “ter um dever cívico de intervenção” e que goza “duma independência total do poder político”, fazendo estas recomendações “tendo como único propósito o Bem Público”. E a verdade é que, até agora, é a única instituição a defender certas medidas que, apesar de irem contra os grandes interesses económicos, podem ser determinantes para a nossa saúde colectiva e para conseguir um desfecho menos trágico para esta pandemia.

O encerramento de todas as actividades não essenciais

“Recomenda-se o encerramento de toda a actividade não essencial, incluindo o encerramento de fábricas, actividade da construção civil e outras que ainda permanecem praticamente em actividade normal.” Esta é a estratégia proposta para tornar o isolamento social mais eficaz. O facto de ainda existir um número muito significativo de pessoas a circular, apontam, constitui um dos vectores de propagação da doença.

O CEMP já tinha tornado pública a 12 de Março uma carta aberta ao primeiro-ministro em que afirmava serem necessárias medidas mais restritivas para controlar esta epidemia. Apontava a necessidade de replicar práticas que demonstraram bons resultados na China, Macau e Coreia do Sul (como a limitação da circulação entre províncias e o encerramento de cidades afectadas), ouvindo se necessário peritos internacionais com experiência bem sucedida.

Nesta data não era feita qualquer referência ao encerramento de todas as actividades não essenciais, defendendo-se que as medidas fossem decididas numa óptica de prevenção e não numa óptica de reacção à evolução da crise, alertando que que não era altura “de deixar questões ideológicas ou receios relativos ao inevitável impacto económico condicionar as decisões em tempo útil”.

Agora, com casos confirmados em largas dezenas de concelhos e a transmissão local a começar a ser registada em vários sítios, são necessárias medidas ainda mais drásticas, como o encerramento de todas as actividades não essenciais. Como já vínhamos a defender, não faz sentido que a classe trabalhadora continue a arriscar a sua saúde e a das suas comunidades para que sectores não essenciais da economia continuem a funcionar. A nossa saúde colectiva tem que estar à frente do lucro.

Quarentena obrigatória para quem chegue ao país

O CEMP recomenda “tornar obrigatória a quarentena de 15 dias para todas as pessoas que entram no país, nomeadamente os nossos emigrantes”. Embora possa parecer uma medida drástica, é cada vez mais evidente que é necessária. Durante a última semana começaram a surgir casos confirmados em regiões do interior, alguns deles tratando-se de emigrantes recém-chegados. Embora muitos estejam cientes da gravidade da situação e tomem as devidas precauções, são conhecidas situações completamente irresponsáveis especialmente considerando que estas são regiões com populações bastante envelhecidas.

O primeiro caso confirmado no Distrito de Beja, por exemplo, é um homem, construtor civil e emigrante em França, regressado recentemente ao concelho de Almodôvar. O caso gerou uma grande preocupação nos serviços hospitalares de Beja, depois de se ter constatado que o indivíduo manteve um intenso relacionamento social na semana que antecedeu a confirmação do seu diagnóstico médico.

É precisamente o facto destas zonas terem populações muito envelhecidas que motivou Bragança, Guarda e Castelo Branco a ir mais longe e decretar quarentena obrigatória a quem chegue aos distritos vindos de outras partes do território português.

Realização maciça de testes

O CEMP segue a linha da OMS e afirma que esta estratégia permite detectar mais casos, identificando e isolando fontes de contágio e, assim, retardar a epidemia. Aponta que países como a Coreia do Sul têm demonstrado que esta é uma medida que tem bons resultados. Estima que triplicando o número de testes diários em Portugal será possível, nos dez dias subsequentes, reduzir os internamentos em cerca de 900, com os respectivos impactos na disseminação da doença, bem como na sobrecarga das instituições de saúde. Recomenda ainda o teste de rotina em algumas profissões de risco, em particular os profissionais de saúde.

Reforço do financiamento do SNS

É pedido um “reforço significativo do orçamento do Ministério da Saúde” para proceder a um reequipamento adequado das estruturas de saúde e garantir material suficiente de proteção para os profissionais de saúde.

Uso generalizado de material protector

O CEMP recomenda à população o uso generalizado de proteção individual, como o uso de máscaras, a fim de reduzir o risco de contaminação. “Está demonstrado que cada 4 em 5 dos indivíduos contaminadores desconheciam que estavam infectados no momento em que infectaram terceiros. A experiência de Países como China, Macau, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul, é muito consistente.”


O comunicado do CEMP pode ser lido na integra em aqui.

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