Estado Espanhol // Neonazis homenageiam Divisão Azul em Madrid~ 4 min

Por Víctor Boaventura

Artigo Original por La Marea

Cerca de 300 pessoas marcharam por Madrid, no sábado passado, até ao cemitério da Almudena para homenagear a Divisão Azul – divisão fascista espanhola sob o comando de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. O evento foi convocado pela Juventude Patriota, uma organização neonazi de Madrid, e foi apoiado por diferentes grupos nazis e fascistas, como o partido España2000 ou La Falange, cujo líder nacional, Manuel Andrino, participou da marcha.

Todos os anos, por esta altura, grupos nazis de toda a Espanha reúnem-se em Madrid para realizar este acto. Esta marcha coincide com o aniversário da Batalha de Krasny Bor, na qual participou a divisão de espanhóis ao serviço do nazismo.

A marcha fascista percorreu várias ruas de Madrid transportando uma faixa onde se podia ver o escudo da Divisão Azul e que dizia “Honra e glória aos caídos”. Os assistentes formaram um corredor no cemitério até o monólito que homenageia a Divisão Azul. Fizeram a saudação nazi e cantaram canções de temática fascista.

Sacerdote dá uma missa e apoia a manifestação

Como pode ser visto no video da lamarea.com, uma das oradoras dirigiu-se ao público vestido com uma camisa azul, rodeado por bandeiras espanholas e a poucos metros de um sacerdote da igreja católica: “É nossa obrigação suprema de lutar pela Espanha, de lutar pela Europa, agora débil e liquidada pelo inimigo. O inimigo será sempre o mesmo, embora com máscaras diferentes: o judeu. […] O judeu é o culpado e a Divisão Azul lutou contra ele”. 

O evento contou com um serviço religioso em frente ao monólito que lembra a Divisão Azul no cemitério de Almudena, no qual foi colocada uma coroa de flores com uma suástica nazi. O sacerdote dirigiu-se também aos presentes da seguinte forma: “O marxismo, tal como ontem […] continua a tentar perturbar a paz da nossa sociedade, perturbar a paz dos espíritos e, sobretudo, remover o príncipe da paz, nosso Senhor Jesus Cristo ”.

Negacionismo “porque fascismo é alegria”

Outro dos oradores foi Ignacio Menéndez, advogado do militante de extrema direita Carlos García Juliá – co-autor dos assassinatos dos advogados de Atocha em 1977, recentemente libertado da prisão. Com microfone na mão, pediu aos presentes que não cumprissem as medidas sanitárias contra a COVID-19: “É necessário que violem o confinamento, que se reúnam com sua família e amigos, que se juntem mais de seis como estamos aqui hoje, que se abraçem, que cantem e que vivam com alegria. Porque fascismo é alegria ”.

Como pode ser visto nas imagens, muitos dos participantes não usaram a máscara obrigatória ou mantiveram a distância de segurança regulamentar. A Delegação do Governo não impediu este acto, nem houve qualquer presença policial durante a marcha até ao cemitério de Almudena.

Hino Fascista escutado em vários quartéis do exército espanhol

Uma das canções cantadas no cemitério era uma versão falangista da canção russa Katiusha, conhecida como Primavera, que era um hino para os soldados espanhóis que participaram da Segunda Guerra Mundial sob as ordens do Terceiro Reich.

Como o lamarea.com revelou, a canção tornou-se popular em certos sectores das Forças Armadas espanholas. Uma versão rock deste hino soou no quartel Paracuellos del Jarama, onde se encontra a Brigada de Pára-quedas (BRIPAC) do Exército Espanhol, durante a celebração do Dia da Imaculada Conceição em 2019, padroeira das tropas de infantaria. Nas imagens veiculadas por La marea, pode-se ver como alguns dos jovens presentes na festa levantam os braços fazendo a saudação nazi enquanto a música toca.

Algo semelhante aconteceu em 2018 durante a tradicional Fiesta de Ciento, na Escola Militar Naval de Marín, em Pontevedra. Como em Paracuellos, quando o hino toca nos alto-falantes, muitos dos jovens cantam em uníssono um famoso hino fascista e levantam os braços.