Porto // Censura com assinatura~ 3 min

Fotos do antes e depois do mural censurado no Porto.

Por Guilhotina.info

No passado dia 12 de Junho, o Desentoca, um encontro de espaços autónomos do Porto, oferecia um muro para a expressão artística de quem quisesse problematizar as questões de gentrificação, racismo e liberdade num território de periferia pobre que se prepara para ser mais um foco da fúria imobiliária. Desse desafio resultaram cinco obras para usufruto e questionamento locais.

No próprio dia, a Polícia de Segurança Pública, alegadamente por causa de uma queixa, passou por lá, identificou uma ou duas pessoas, mas, na falta de base legal, foi-se embora sem causar mais problemas. Os vários agentes das duas viaturas que se deslocaram propositadamente ao local limitaram-se a avisar que havia uma pintura que poderia ser encarada como insultuosa. No entanto, toda a gente concordou que, no caso improvável de alguém a considerar dessa forma, a última palavra caberia sempre a um juiz e nunca a uma força policial ou camarária. Como despedida, informaram que a coisa deveria ser tratada pela Polícia Municipal, que iam passar-lhe toda a informação relevante e que, se caso fosse, seria essa força policial a contactar as pessoas que tinham sido identificadas.

Tudo assim se manteve até que o sol se pôs sobre o dia 14, terça-feira. Entre essa hora e a do regresso desse astro no dia seguinte, alguém decidiu substituir duas das cinco pinturas pelo cinza-cimento que lhes servia de base. Talvez por não conseguirmos compreender o critério estético que presidiu a esta decisão, somos levadas a pensar que se trata, afinal, de mais um acto de censura cirurgicamente orientada para que não se sintam as vozes dissonantes da cidade. Um acto que é uma repetição da forma de governar que já nos persegue há décadas, que se intensificou com Rui Rio e com Rui Moreira, mas que – não tenhamos dúvidas – seria basicamente a mesma com qualquer outra gestão das que vão a votos nas próximas autárquicas. Faz parte das instituições políticas tradicionais resolverem os problemas com a oposição através da integração ou, quando não possível, do silenciamento.

Não é, portanto, um ódio particular ao actual presidente da Câmara que nos move. Muito menos o intuito de usar este episódio como arma de arremesso eleitoral. Move-nos um amor à liberdade que nos impede de ficar quietas sempre que a face da censura se atreve a mostrar-se. E move-nos ainda um combate pela nossa dignidade – nossa, de todos os humanos sem pretensões de poder nem vontade de submissão – que nos faz rejeitar uma forma de governação que permita que alguém, do alto da sua discricionariedade, decida o que é arte e discurso legais e arte e discurso proibidos, executando essas sentenças de forma altiva. Resulte essa decisão da visão pessoal de Rui Moreira, da da sua polícia, ou da de qualquer outra pessoa que pretenda representar-nos.

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