Portugal // Em Defesa dos Montes: Verão quente no Barroso~ 10 min
Por Francisco Norega
Este Agosto será um mês de luta contra os projectos extractivistas que pretendem transformar o Barroso num campo de minas. Depois de 3 anos de organização, sensibilização e luta, começa agora uma nova jornada de mobilizações em várias partes desta região com fortes tradições agrícolas e comunitárias. A chegada à fase final de aprovação do projecto de mina da Savannah em Covas do Barroso, agora nas mãos da APA, é o mote para várias aldeias, vilas e cidades voltarem a tomar as ruas, os montes e os campos em defesa do seu território.
A jornada de mobilização começa este fim-de-semana em Dornelas, Salto e Morgade e continua, no próximo, com um acampamento em Covas do Barroso. Durante a semana, vai acontecer também uma bicicletada contra as minas que pedalará de Amarante a Covas. Também são dias em que, no resto do território português, o tema volta ao debate público – ontem em Guimarães e hoje em Coimbra –, depois de nas últimas semanas ter sido falado em várias partes da Península e nos encontros na ZAD de Notre-Dame-des-Landes.
A primeira actividade no Barroso decorre hoje na freguesia de Dornelas onde, desde 2008, já existe uma mina explorada pela Felmicas. Situada junto à aldeia de Lousas, a mina de quartzo, feldspato e, como produto secundário, minerais de lítio (utilizados na indústria cerâmica) cobre neste momento uma área de cerca de 8 hectares. Apesar do seu tamanho “reduzido”, pelo menos quando comparado com outros projectos mineiros na região, tem já um impacto visual inegável. No «passeio contra as minas», as pessoas são convidadas a «conhecer o crime ambiental que, desde 2008, decorre sem qualquer resistência». O passeio será seguido por um lanche e uma sessão de esclarecimento.
Também hoje, em Coimbra, realiza-se um debate com o lema “Lutas pela Vida contra Megaprojectos de Morte”, organizado pela Assembleia da Caravana Zapatista em Coimbra. É simultaneamente presencial e online e conta com a presença da Asamblea Maya Múuch Xíinbal (Yucatán, México), que resiste à construção do Comboio Maya, e da associação Unidos em Defensa de Covas do Barroso.
De um projeto de mineração de lítio nas Covas do Barroso, em Portugal, à exploração de gás em Cabo Delgado, em Moçambique, passando por um empreendimento turístico e industrial ironicamente denominado “Comboio Maia”, que atravessará boa parte do sudeste mexicano, ou ainda pela expansão e construção de gaseodutos ou oleodutos, sejam eles em terras indígenas no continente americano ou no continente africano – o capitalismo predatório quererá sempre penetrar os territórios vulneráveis em busca de lucro.
Quem são as pessoas, os projetos e as instituições que estão ligadas à imposição deste tipo de atividades? Como é que o que se passa no Norte de Portugal tem ligação com o que se passa no sul do México? (…)
Vamos também falar de quem resiste, quotidianamente, a estes “projetos de morte”, sobre quem luta pela criação dos comuns e pela defesa da Vida.
Face a esses projetos de morte, lutamos pela defesa intransigente da vida, não só em algumas partes, mas em todo o planeta.
Da convocatória da Assembleia da Caravana Zapatista em Coimbra
No domingo, na freguesia de Salto, realiza-se uma marcha motorizada de protesto «contra a mina da Borralha e todos os outros projectos vizinhos». Segundo o texto da convocatória, dos 78 km² da freguesia de Salto, 24 km² estão pedidos pela Minerália – Minas Geotecnia e Construções, Lda para a Mina da Borralha, «uma concessão de exploração de volfrâmio, estanho e molibdénio». Para além disso, a freguesia está também abrangida pelo pedido “Viso”, solicitado pela Fortescue Metals Group Ltd, e pelo futuro concurso internacional para o lítio na área Barroso-Alvão.
Esta região encontra-se seriamente ameaçada. Os seus recursos naturais estão ameaçados, assim como o modo de vida e os modelos de subsistência das populações. Poderá estar em causa a extinção de actividades ancestrais sustentáveis, assim como de produtos endógenos de elevada qualidade.
Esta calamidade anunciada é extensiva à região envolvente e até a outras zonas do país.
Do texto de convocatória da Marcha de Protesto em Salto.
O ponto de encontro está marcado para o Carvalhal do Esporão (entre Linharelhos e Lamalonga), no Domingo, 8 de Agosto, às 9h30. Seguir-se-á um percurso pela brecha Santa Helena, na Borralha, até Salto. As pessoas são convidadas a participar «de tractor, de carro, ou em qualquer outro veículo»
Também este domingo, vai realizar-se uma caminhada em Morgade para «dar a conhecer a freguesia de Morgade e, ao mesmo tempo, sensibilizar as pessoas para o perigo ambiental, social e económico decorrente da exploração mineira.»
Um fim-de-semana intenso que é seguido por uma bicicletada chamada pela Cicloficina do Porto. Durante esta viagem de cerca de 135km, que se realizará entre 10 e 13 de Agosto, o tema das minas e da luta do Barroso será levado a várias povoações no percurso entre Amarante e Covas. Detalhes do trajecto e contacto para quem se quiser juntar aqui.
Segue-se então o culminar desta jornada de luta, o acampamento de 5 dias na aldeia de Covas do Barroso, onde a Savannah Resources quer desenvolver esse mega-projecto de mina de lítio a céu aberto, de 593 hectares, cuja aprovação é iminente. A população desta aldeia tem-se mostrado unida e mobilizada contra este projecto de destruição e já deixou claro que não aceitará aquela que seria uma sentença de morte para os seus modos de vida ancestrais. Programação e todos os detalhes sobre o acampamento em barrososemminas.org/
Solidariedade Internacional
Nas duas últimas semanas, o plano de mineração de lítio em Portugal e a luta do Barroso esteve também em discussão em várias partes do norte da Península Ibérica, em Badajoz, na Extremadura, e nos encontros internacionais que aconteceram na ZAD de Notre-Dame-des-Landes, perto de Nantes, na Bretanha.
A 22 de Julho, dia Mundial contra a Mineração a Céu Aberto, realizou-se uma das mais participadas conversas. Em Barma, Touro, uma zona rural do centro da Galiza, quarenta pessoas reuniram-se para falar da luta do Barroso e da sua própria luta. Esta região entre Touro e O Pino teve uma mina de cobre a funcionar de 1977 a 1988, com efeitos desvastadores nos ecossistemas e modos de vida destas populações. Nesse período, muitas das nascentes secaram ou foram apropriadas pela empresa mineira e uma boa parte dos cursos de água foi contaminado, com pesadas consequências para a agricultura. Uma primeira tentativa de reactivação dessa mina, agora através de uma nova empresa “fachada”, com uma imagem verde e sustentável, foi travada recentemente. No entanto, as populações da zona preparam-se para enfrentar uma nova investida da empresa.
As mesmas histórias repetem-se um pouco por todo o lado – cá, na Galiza, na Extremadura, em Leão, nas Astúrias, no País Basco e, enfim, em todo o mundo. A compreensão de que este é um problema comum, e a criação de laços entre populações que enfrentam ataques da mesma lógica utilitarista, extractivista e destruidora do território, são pontos chave para vencer esta batalha comum. Só a solidariedade – a nível local, territorial e internacional –, poderá pôr um travão a esta máquina que nos conduz a todos e todas para o abismo.
Vigo (Galiza) Donostia (Euskal Herria)
Errekaleor, Gasteiz (Euskal Herria)
Recomendamos também a leitura do último artigo do Jornal Mapa, Barroso: o Verão aquece, com informação mais detalhada sobre as participações na consulta pública, terminada no passado dia 16 de Julho, e esta nova onda de mobilizações.