A Viagem pela Vida começa com Chiapas à beira da guerra civil~ 6 min

Por Francisco Norega

A primeira semana d’A Extemporânea na Europa foi marcada por várias agressões e provocações a comunidades zapatistas em Chiapas, um estado já de si numa situação delicada por toda a violência, ataques, sequestros e assassinatos de grupos paramilitares e do narcotráfico contra a população urbana e rural, ao serviço dos interesses do estado mexicano e das multinacionais.

José Antonio Sánchez Juárez e Sebastián Núñez Pérez, integrantes da Junta de Bom Governo “Nuevo Amanecer en Resistencia y Rebeldía por la Vida y la Humanidad” do Caracol 10 “Floreciendo la Semilla Rebelde”, situado em Patria Nueva, foram sequestrados dia 11 de setembro na comunidade 7 de Febrero, no município de Ocosingo, Chiapas. Esta localidade é a sede da ORCAO, uma organização paramilitar que, desde há vários meses, tem vindo a perpetrar uma série de acções criminais contra as Bases de Apoio do EZLN na comunidade autónoma Moisés-Gandhi.

No dia 17 de Setembro, cerca de 20 mulheres e 30 homens zapatistas reforçaram o contingente internacionalista que se concentrou em frente à embaixada do México, no centro histórico luxuoso da ex-capital do império dos Habsburgo. Este protesto inaugurou uma campanha internacional para denunciar o paramilitarismo e exigir o aparecimento com vida de José Antonio Sánchez Juárez e Sebastián Núñez Pérez.

Apesar de se apresentar como progressista “de esquerda”, ambos os governos continuam a ser coniventes com grupos paramilitares como a ORCAO, quando não colabora directamente com eles. A consulta “popular” por justiça para as vítimas da violência por parte do estado, realizada no mês passado por iniciativa do presidente López Obrador, não passa de uma jogada hipócrita para lavar a sua imagem. Os desaparecimentos forçados continuam a ser uma realidade diária no México, sem que as autoridades estatais e federais actuem para a mudar.

Um comunicado da Red AJMAQ, assinada por organizações da sociedade civil e meios de comunicação independentes, denuncia o paramilitarismo que volta neste mês de setembro a insistir nas suas acções delinquentes. «Esta escalada de violência orquestada desde os altos poderes do governo federal enquadra-se na ‘Travessia pela Vida, Capítulo Europa’, uma iniciativa organizativa que busca expandir, de forma pacífica e criativa, a semente de resistência e rebeldia pela humanidade e a Mãe Terra, ou seja, pela Vida.»

Nos dias seguintes, foram realizados protestos e acções em mais de uma dúzia de cidades europeias para exigir que os companheiros aparecessem com vida.

De cima para baixo, acções em Londres (Inglaterra), Gera (Alemanha), Keratsini (Grécia) e Donostia (País Basco). Houve também protestos em Berlin, Thüringen e Frankfurt (Alemanha), Tessalónica (Grécia), na Marcha campesina pela Tierra em Florencia (Itália), em Barcelona (Catalunha) e em Madrid, Valladolid e na Sierra de Gredos (Estado Espanhol) [Fotos]

No último comunicado publicado no enlacezapatista a 19 de Setembro, intitulado “Chiapas à Beira da Guerra Civil”, o EZLN anuncia que os esforços de ambos os lados do atlântico, aliados à intervenção de organizações de defesa dos direitos humanos e aos párocos de San Cristóbal de las Casas e de Oxchuc, deram frutos. Depois de 8 dias sequestrados, os dois companheiros haviam sido devolvidos com vida às suas comunidades.

O problema, no entanto, não deixa de existir. Nesta mesma semana, um companheiro de Aldama, uma zona com presença zapatista, foi brutalmente assassinado. O EZLN denuncia as alianças do governo de Chiapas com o narcotráfico que provoca as comunidades originárias, sem que Rutilio Escandón “nada faça para preservar a vida, liberdade e bens das populações”. «O Governo de Chiapas não só encobre as bandas de narcotraficantes, também alenta, promove e financia grupos paramilitarres como os que atacam continuamente comunidades em Aldama e Santa Marta.»

O EZLN denuncia que estas acções têm como objectivo «provocar uma reacção do EZLN com o fim de destabilizar um estado cuja governabilidade pende por um fio». E acrescenta que, «ante à acção e à omissão das autoridades estatais e federais frente ao crime actual e aos anteriores, tomaremos medidas pertinentes para que se aplique justiça aos criminosos da ORCAO e aos funcionários que os apadrinham.»

Para impedir a guerra civil, faz um chamado a uma mobilização internacional no dia 24 de Setembro em frente às embaixadas e consulados mexicanos. Apela à Europa de baixo e à esquerda para exigir um fim às provocações por parte dos paramilitares e dos governantes e que se ponha um ponto final “no culto à morte que professam”.

E terminam: «Deixem já de jugar com a vida e a liberdade dos Chiapanecos. (…) Noutra ocasião já não haverá comunicado. Ou seja, não haverá palavras, mas feitos.»

Face à repressão, sequestros e violência, solidariedade internacional!

Basta de provocações dos paramilitares! Não à guerra em Chiapas!

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