Nesta Páscoa, EUA oferecem às crianças de Gaza 38,5kg de bombas por cada quilo de comida~ 9 min

Por F

Nas últimas semanas, a administração Biden tem levado a cabo várias manobras mediáticas com o intuito de salvar a sua imagem perante o eleitorado antes das eleições presidenciais que vão ter lugar em Novembro.

Oficiais norte-americanos têm expressado reservas quanto a uma hipotética invasão de Rafah, e os EUA não vetaram, pela primeira vez, uma resolução por um cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU. Além disso, a força aérea norte-americana tem levado a cabo várias operações de entrega de ajuda humanitária no norte da Faixa de Gaza, e foi anunciada a construção de um porto flutuante ao largo da costa de Gaza, que tardará várias semanas.

Enquanto isso, mais de dois milhões de crianças, mulheres e homens palestinianos enfrentam a situação mais catastrófica de fome alguma vez registada, enquanto Israel impede a entrada em Gaza, por via terrestre, de centenas de camiões de ajuda humanitária que aguardam há meses a autorização necessária. 

Apesar de todos os discursos bonitos e a preocupação declarada com a protecção dos civis inocentes, os EUA continuam a fornecer a Israel todo o apoio de que necessita para continuar a sua campanha genocida contra o povo palestiniano.

Presente de Páscoa: quase duas mil toneladas de bombas

O Washington Post revelou esta sexta-feira que foi aprovado um novo pacote de apoio militar a Israel, no valor de milhares de milhões de dólares. O pacote inclui 1800 bombas MK-84, de 900kg, e 500 bombas MK-82, de 225kg, assim como 25 caças F-35.

Estes dois modelos são bombas convencionais que podem ser convertidas em bombas de precisão mas, mesmo com sistemas de precisão, resultam frequentemente em vítimas civis – como tem acontecido repetidamente durante a ofensiva israelita contra Gaza. As MK-84, segundo um oficial norte-americano citado pela NBC, são “bombas que podem destruir edifícios inteiros”.

Ao todo, são 1732 toneladas em bombas.

45 toneladas de ajuda humanitária

Também na sexta-feira, as forças norte-americanas largaram 45 toneladas de ajuda humanitária sobre Gaza, elevando o total de ajuda humanitária lançada sobre Gaza pelos EUA para 453 toneladas.

Nesse dia, por cada quilo de ajuda humanitária que lançaram sobre Gaza, os EUA anunciaram a transferência de 38,5 quilos de bombas para Israel.

O peso total das bombas incluídas neste mais recente pacote (1732 toneladas) é quase quatro vezes superior ao total de ajuda humanitária lançada pela força aérea norte-americana, até hoje, sobre Gaza (453 toneladas).

Mas este pacote é só o mais recente de mais de uma centena de transferências de equipamento militar para Israel levadas a cabo pelos EUA nos últimos 6 meses.

Mais de 100 vendas militares desde 7 de Outubro

De acordo com informações reveladas a 6 de Março pelo Washington Post, os EUA aprovaram mais de 100 vendas de equipamento militar a Israel desde o início da sua campanha genocida contra Gaza. Segundo declarações de oficiais norte-americanos, estas vendas incluem milhares de munições de precisão, bombas convencionais, bombas anti-bunker, armas ligeiras e outros armamentos. Segundo o jornal israelita Haaretz, incluem também mísseis Hellfire, drones, munições para o Iron Dome e dezenas de milhares de projéteis de artilharia.

A grande maioria destas vendas não atingiu os montantes mínimos que tornariam obrigatória a publicação dos seus detalhes. O Arms Export Control Act [Lei do Controlo de Exportação de Armas] estabelece excepções importantes no que toca às vendas de armamento a aliados próximos (close allies) – só têm de ser comunicadas ao Congresso as vendas de “importantes equipamentos de defesa” acima de 25 milhões de dólares, subindo o valor mínimo para 100 milhões quando se trata de outros “artigos de defesa”, como bombas.

Só três grandes vendas militares viram os seus detalhes tornados públicos desde Outubro: 320 milhões de dólares em kits para transformar bombas convencionais em bombas de precisão, 106 milhões em 14 mil munições de tanques e 147,5 milhões em componentes necessários para fabricar munições de artilharia de 155 mm.

A dimensão e o conteúdo detalhado da grande maioria das transferências de equipamento militar são desconhecidos. No entanto, a 25 de Dezembro, o jornal Times of Israel divulgava que os EUA já teriam entregue a Israel 10 mil toneladas de ajuda militar, em 244 voos de carga e 20 navios. Segundo o Ministério da Defesa israelita, essa ajuda incluiu veículos blindados, armamento e munições, entre outros equipamentos militares. De acordo com o Washington Post, no primeiro mês e meio da campanha de bombardeamentos, Israel lançou sobre Gaza 22 mil bombas fornecidas pelos EUA, que no mesmo período transferiram para Israel 15 mil bombas adicionais, bem como 50 mil projécteis de artilharia. 

Estes são números impressionantes, por terem sigo registados durante um período tão curto de tempo e em apoio a um genocídio – em média, durante os últimos 6 meses, os EUA e Israel assinaram uma venda de armamento a cada dia e meio de genocídio; e, nos primeiros três meses, efectuaram três vôos diários carregados de armamento. 

A presente ofensiva israelita contra Gaza é já uma das campanhas de bombardeamentos mais intensas da História.

Overdose de hipocrisia

Esta quantidade astronómica de armamento é enviada para Israel enquanto as suas forças cometem incontáveis crimes de guerra e violações do direito internacional e da Convenção contra o Genocídio, divulgados amplamente por jornalistas no local e organizações internacionais. Isto apesar de leis norte-americanas proibirem o envio de assistência militar a países que estejam a cometer violações de direitos humanos.

Ainda assim, oficiais norte-americanos e porta-vozes da Casa Branca continuam a repetir que acreditam nas garantias dadas por Israel de que o armamento fornecido pelos EUA está a ser usado de acordo com os limites estabelecidos pelas leis da guerra.

Além disso, em Novembro, foi aprovada legislação que entregou a Israel 14,5 mil milhões de dólares adicionais, além dos 3,3 mil milhões que os EUA já dão a Israel anualmente. Muitas das “compras” de material militar por Israel são pagas, precisamente, com dinheiro destes fundos enviados pelos EUA, por sua vez pagos pelos impostos da população norte-americana.

Josh Paul é um ex-funcionário do Departamento de Estado responsável por transferências de armamento que, a 18 de Outubro, se demitiu em protesto contra a política de Biden em relação a Gaza. Em reacção à mais recente transferência de bombas e F-35 a Israel, declarou ao Washington Post:

“Este é um processo de governação fundamentalmente falido e que torna toda a gente, dos governantes aos fabricantes de armas e aos contribuintes dos EUA, cúmplice dos crimes de guerra de Israel”.

Segundo uma sondagem recente da YouGov, 52% do público norte-americano opõe-se à continuação do envio de armamento para Israel enquanto não for posto um fim aos ataques contra Gaza. Apenas 27% se opõe a uma paragem dos envios de armamento para Israel. 

EUA suaviza sanções contra “colonos violentos”

Entre o início de Fevereiro e meados de Março, os Estados Unidos anunciaram sanções contra sete “colonos violentos” por considerarem que o governo israelita está a falhar sistematicamente em conter a violência perpetrada pelos colonos. Como resultado, vários bancos israelitas bloquearam o acesso destes sete indivíduos às suas contas. 

Durante os últimos 50 anos, os governos israelitas apoiaram sistematicamente a expansão dos colonatos israelitas em território palestiniano ocupado, em flagrante violação do direito internacional e de numerosas resoluções da ONU. Hoje, cerca de 750 mil colonos israelitas vivem nos colonatos ilegais na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, e a violência exercida sobre a população palestiniana não é uma excepção praticada por um punhado de colonos radicais, mas uma política sistemática.

Aí, entre o início do ano passado e dia 6 de Outubro, já tinham sido mortos pelas forças de ocupação 199 palestinianos, entre eles 40 crianças. Colonos israelitas levam repetidamente a cabo ataques contra civis indefesos com o objectivo de exercer pressão sobre a população palestiniana para que esta abandone as suas terras, abrindo assim caminho para a expansão dos seus colonatos. Com frequência, soldados das IDF observam estes ataques sem intervir, quando não colaboram activamente com os colonos. A violência e frequência destes ataques tem vindo aumentar nos últimos meses. Desde 7 de Outubro, colonos e forças israelitas já mataram mais de 450 palestinianos e feriram quase 5 mil.

As sanções contra estes sete colonos, já por si, serviam mais como manobra mediática do que qualquer outra coisa. Agora, os EUA conseguiram esvaziá-las ainda mais de efeitos práticos.

Um artigo do jornal Israel Hayom, de 28 de Março, anuncia que “a administração Biden modera as sanções que impôs aos sete colonos e esclarece que estes poderão utilizar as suas contas bancárias”. 

Este novo desenvolvimento vem na sequência de repetidas ameaças de Smotrich, o ministro das finanças israelita, de congelar a actividade económica da Autoridade Palestiniana. Smotrich havia reagido ao anúncio das sanções caracterizando-as como uma “obstrução draconiana à soberania israelita”.

Numa carta entregue nos últimos dias ao gabinete do Ministro das Finanças, um representante do Tesouro dos EUA esclarece que não há razão para os bancos de Israel impedirem os colonos sancionados de fazerem uso rotineiro das suas contas bancárias. Só as operações fora deste âmbito, como as transacções internacionais, continuam bloqueadas.

Segundo o artigo publicado pelo Israel Hayom, este anúncio «esvazia de conteúdo prático o anúncio original do governo de “sanções contra colonos violentos”, uma vez que o congelamento das contas bancárias dos sete foi o único passo que os afectou de forma prática».

Quase 6 meses depois, e apesar de todas as manobras mediáticas, o apoio dos EUA ao genocídio perpetrado por Israel continua inabalável.

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