Os 6 meses de genocídio e o princípio do fim de Israel~ 7 min
Por Guilhotina.info
Hoje cumprem-se 6 meses desde o início da Inundação de Al-Aqsa, uma operação lançada pela resistência palestiniana em Gaza em resposta aos 17 anos de cerco imposto sobre Gaza, aos constantes ataques contra a população palestiniana na Cisjordânia e em Jerusalém, às repetidas incursões contra a Mesquita Al Aqsa e aos milhares de palestinianos sequestrados nas prisões militares israelitas.
Durante a ofensiva surpresa, iniciada a 7 de Outubro, a resistência palestiniana desarmou o sistema de vigilância da vedação que rodeia Gaza, supostamente um dos mais complexos e avançados do mundo, rompeu o cerco em vários pontos e lançou ataques bem-sucedidos contra várias bases militares israelitas. Além disso, tomou vários colonatos israelitas em redor de Gaza, colonatos esses que foram construídos sobre terras roubadas e aldeias palestinianas destruídas em 1948, durante a Nakba. Durante a operação, diferentes grupos da resistência palestiniana capturaram mais de duas centenas de israelitas, entre civis e militares, com o objectivo, declarado desde o primeiro momento, de os libertar em troca da libertação dos palestinianos sequestrados em Israel.
Em resposta à humilhação sofrida pelo prestigiado exército da ocupação, Israel lançou uma campanha genocida em Gaza, que dura até hoje. Durante os últimos seis meses, as forças sionistas levaram a cabo uma política sistemática de destruição de todas as infraestruturas essenciais à vida, incluindo centenas de escolas, universidades, hospitais, ambulâncias, infraestruturas da UNRWA e de outras organizações humanitárias, escritórios de meios de comunicação, condutas de água potável, saneamento básico, estradas, padarias, olivais, campos agrícolas e tudo o mais que se possa imaginar. Israel também destruiu ou danificou a esmagadora maioria das habitações e forçou perto de 2 milhões de pessoas a sair dos seus lares.
Durante seis meses, à vista de todo o mundo e com a cumplicidade do Ocidente, Israel cometeu constantes crimes de guerra e violações do direito internacional, colocando a região (e o mundo) à beira de um conflito generalizado. A cada semana que passa, os crimes mais hediondos são suplantados por novas e inimagináveis atrocidades.
Os números oficiais das vítimas desta campanha genocida não fazem jus à realidade – ninguém sabe ao certo quantas dezenas de milhares de crianças, mulheres e homens viram a sua existência aniquilada pelo rebentar das bombas, pelo colapsar dos edifícios em que se encontravam, pela política de fome imposta sobre Gaza e pela destruição sistemática da infraestrutura de saúde. Israel procurou infligir sobre uma população civil desarmada a derrota que nunca conseguiu impôr à resistência palestiniana.
E a ocupação não impôs violência só sobre a Faixa de Gaza. Durante os últimos seis meses, tornaram-se diárias as incursões israelitas nas cidades e vilas palestinianas na Cisjordânia, onde pelo menos 420 palestinianos foram assassinados. Por outro lado, os ataques da Força Aérea israelita já fizeram pelo menos 330 mortos no Líbano, levando regularmente a cabo ataques também na Siria.
No entanto, durante estes 6 meses, Israel sofreu constantes derrotas perante a resistência em Gaza e no Líbano. Apesar das repetidas ofensivas terrestres, as forças israelitas não conseguiram estabelecer controlo total de nenhuma zona da Faixa de Gaza nem destruir as estruturas operacionais do Hamas e das outras organizações palestinianas, que conservam a capacidade de lançar ataques contra a ocupação.
Ao todo, nestes seis meses, morreram oficialmente 604 soldados israelitas, fazendo desta a guerra mais sangrenta para as forças israelitas desde a Guerra do Líbano, que começou em 1982 e durou 3 anos. A maior parte morreu em Gaza, às mãos de combatentes palestinianos de t-shirt e sapatilhas.
Hoje, Israel anunciou a retirada das tropas que se encontravam no sul de Gaza, depois de 4 meses de intensos combates na zona de Khan Younis. Quatro horas depois da retirada, a resistência lançou, a partir de Khan Younis, quatro rockets contra a sede da Divisão de Gaza das IDF. Hoje, uma só brigada israelita permanece em Gaza, encarregada de controlar o corredor de Netzarim, que atravessa o território da zona do kibbutz Be’eri até à costa.
Israel não conseguiu cumprir nenhum dos seus objectivos – as forças israelitas mataram mais reféns do que aqueles que dizem ter resgatado, não conseguiram destruir o Hamas, não conseguiram impedir que a resistência palestiniana continue a disparar rockets contra Israel, não conseguiram provocar um êxodo massivo dos palestinianos para o Egipto e não conseguiram ocupar nenhuma parte de Gaza. E, contra todas as expectativas, a maioria da população de Gaza continua a arranjar maneira de permanecer viva, apesar da destruição, dos constantes ataques, da fome, da falta de água potável, das amputações e dos surtos de doenças contagiosas.
Hoje, Israel parece estar mais longe do que nunca de algo que se assemelhe a uma vitória. Muito pelo contrário.
O regime sionista que ocupa os territórios palestinianos está em péssimo estado, e nada indica que esteja para recuperar. Nos primeiros dois meses depois de 7 de Outubro, quase meio milhão de israelitas abandonaram Israel, parte deles para nunca mais voltar – desde então, nunca mais foram publicados números actualizados. Além disso, existem ainda 120 mil colonos que foram evacuados das zonas em redor a Gaza e junto à fronteira libanesa, que se encontram em alojamentos temporários.
A inderença das autoridades do apartheid pela segurança dos reféns israelitas em Gaza provoca cada vez mais descontentamento, e os protestos massivos contra o governo de Netanyahu tornaram-se quase diários, exigindo um acordo para a libertação dos reféns.
A economia israelita encontra-se também em péssimo estado, com muitas empresas a terem dificuldade em manter a sua actividade graças à mobilização de milhares de pessoas em idade activa para sustentar as operações das IDF em Gaza e na fronteira com o Líbano. O bloqueio do Mar Vermelho pelo Iémen teve também um forte impacto sobre a economia, ao impôr um enorme custo sobre as importações israelitas e paralisar o porto de Eilat, o único fora do Mediterrâneo, obrigando ao lay-off de metade dos trabalhadores do porto. As perspectivas são tão más que a Standard&Poors não só baixou o rating de Israel, como lhe atribui também uma expectativa de progressão negativa.
O dia 7 de Outubro de 2023 vai ficar para a história não só como o dia em que a questão palestiniana voltou a ser colocada no centro da mesa, mas também como o início do colapso do projecto sionista.
Uma data que será lembrada também como um marco que separará duas eras radicalmente distintas no campo das relações internacionais. O Ocidente, ao insistir em dar carta branca a Israel e usar do seu poder para bloquear qualquer tentativa de acção no seio das Nações Unidas, está a pôr em causa a ordem internacional construída após a Segunda Guerra Mundial, e provavelmente a abrir caminho para a Terceira.
O sem fim de atrocidades cometidas por Israel criam perigosos precedentes de impunidade na prática aberta e declarada de genocídio, e estabelecem novos padrões que se vão reflectir na forma de como as guerras vão ser travadas no futuro.
A resiliência da população e da resistência palestinianas, mesmo contra um dos regimes mais atrozes que a História já viu, na posse das mais avançadas tecnologias militares, devia ser fonte de esperança e servir de exemplo para estas nossas sociedades ocidentais, resignadas à ideia de que são impotentes, e de que estão condenadas a viver eternamente na miséria e exploração enquanto pagam com o suor do seu trabalho a destruição e morte do resto do planeta.