Negociações e cessar-fogos: o circo do Império~ 4 min

Por F
- O Hamas anunciou ontem que vai libertar o prisioneiro Edan Alexander após negociações com os EUA como parte de um esforço para conseguir um cessar-fogo e facilitar a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
Netanyahu, no entanto, garantiu hoje que o regime sionista “não está comprometido com nenhum cessar-fogo ou libertação de prisioneiros” – na melhor das hipóteses, segundo fontes israelitas, o cessar-fogo para assegurar a libertação do prisioneiro norte-americano vai durar algumas horas. - A quarta ronda das negociações entre os EUA e o Irão teve ontem lugar em Omã. Dois dias antes, numa entrevista à Breitbart, Witkoff declarou o desmantelamento de centrais nucleares e o fim do enriquecimento de urânio como condições para um acordo, exigências que até agora não tinham sido feitas pela equipa negociadora norte-americana – apesar de o Irão ter afirmado repetidamente que estas questões não estão abertas a discussão. Na entrevista, Witkoff voltou a lembrar o Irão de que terão de optar “pelo outro caminho” caso as negociações “não sejam produtivas”.
- No Líbano, mais de 4 meses após a entrada em vigor do “cessar-fogo” – um acordo alcançado sob os auspícios dos EUA, que ficaram encarregados de garantir a sua implementação –, drones e caças israelitas continuam diariamente a levar a cabo ataques com bombas e outras munições fornecidas pelos EUA e pelas potências ocidentais. Desde que o “cessar-fogo” entrou em vigor, o regime sionista já cometeu mais de 3500 violações.
- No Iémen, menos de uma semana após o anúncio de um cessar-fogo entre os EUA e o Ansar Allah, Tel Aviv emitiu ontem ordens de evacuação para os 3 portos iemenitas no Mar Vermelho (uma ameaça ainda por consumar).
- A Índia e o Paquistão continuaram ontem a acusar-se mutuamente de violar o cessar-fogo, enquanto a Índia continua o seu terrorismo ambiental nos rios que correm para o Paquistão.
- Nos últimos dias, têm circulado notícias de supostas desavenças entre Trump e Netanyahu, incluindo a ruptura de relações entre os dois governos e o cancelamento da visita de Hegseth a israel.
Estas notícias citam sempre “fontes anónimas” na administração norte-americana, mas são desmentidas por pessoas com nomes e caras – Mike Huckabee, o embaixador dos EUA em israel, desmentiu as alegações da imprensa e garantiu que “A relação entre os EUA e israel continua FORTE!” e que “a única ruptura é na credibilidade das fake news“. Sean Parnell, assistente de Hegseth, desmentiu que a sua visita a israel tenha sido cancelada.
Nada disto é novo. Já durante a Presidência Biden, israel ultrapassou todas as linhas vermelhas anunciadas pelos EUA – sem quaisquer consequências – e rasgou acordos depois de estes serem aceites pela resistência em Gaza. O caso da invasão de Rafah é o exemplo mais atroz disto.
Biden, segundo a imprensa, chegou a chamar “bad fucking guy” a Netanyahu – mas as bombas, os tanques e os blindados nunca pararam de ser enviados para o regime sionista.
Qualquer acordo que seja alcançado para aliviar a situação das populações de Gaza e da região seria uma boa notícia – no entanto, o padrão é claro: manter-nos entretidos a consumir uma torrente ininterrupta de notícias que ora nos dão esperança, ora a despedaçam.
Ao mesmo tempo, é um circo que alimenta a ilusão de que talvez alguma mudança possa vir das instituições – de que, se continuarmos a assinar petições e a fazer protestos ordeiros, talvez alguém nos ouça.
Cada hora que passamos a seguir estas notícias, ou a escrever sobre elas (ups…), é uma hora que podiamos usar para fazer algo para apoiar a Palestina, visibilizá-la e impôr um custo às instituições e empresas cúmplices no genocídio em curso.
Se há algo que Gaza, a Cisjordânia, o Líbano e o Iémen nos mostram é que a resistência é o único caminho.