82% dos israelitas apoiam a limpeza étnica de Gaza~ 6 min

Por F
As acções genocidas do regime sionista e a fome que avança em Gaza têm sido criticadas por diferentes estados e organizações internacionais, mas a maioria das condenações são focadas em Netanyahu e em alguns dos seus ministros, sem nunca implicar a sociedade israelita no seu conjunto.
Uma nova sondagem da Universidade Estadual da Pensilvânia mostra que a esmagadora maioria da sociedade israelita defende abertamente as políticas genocidas implementadas ou propostas pelo regime sionista. Os resultados da sondagem, conduzida em Março deste ano, foram agora publicados pelo Haaretz – mas apenas na sua versão em hebraico, escondidos atrás de uma paywall [salta a paywall e lê o artigo completo aqui].
Dos mais de 1000 israelitas entrevistados, 82% apoiam a expulsão forçada (limpeza étnica) dos palestinianos de Gaza, e 56% apoiam a expulsão dos “árabes-israelitas” (os palestinianos com cidadania israelita que vivem no território internacionalmente reconhecido como “estado de israel”).
Além disso, 47% são de opinião que as IDF devem matar todos os habitantes das “cidades conquistadas”, “da mesma maneira que os israelitas fizeram quando conquistaram Jericó sob a liderança de Josué”.
65% dos entrevistados acham que existe uma encarnação contemporânea dos amalequitas – desses, 93% consideram que o mandamento sobre “erradicar a memória de Amalec” se aplica aos amalequitas de hoje.



Estas ideias genocidas têm amplo apoio não só entre os sectores mais religiosos da sociedade israelita, mas também entre os seculares, onde se incluem os sionistas liberais – 69% dos israelitas seculares apoiam a expulsão forçada da população de Gaza, e 31% vêem a história bíblica da conquista de Jericó como um exemplo a adoptar pelas IDF.
Apenas 9% dos homens israelitas com menos de 40 anos, que representam a maior parte dos soldados em serviço e na reserva, se opõem totalmente às ideias de expulsão.
53% opõem-se à entrada de ajuda humanitária em Gaza
Isto veio a público meros dias após o Canal 13 da televisão israelita ter revelado os resultados de uma outra sondagem sobre as intenções de voto e as opiniões sobre alguns dos principais temas do momento – entre eles, a Operação Quadrigas de Gedeão, anunciada pela liderança sionista a 16 de Maio, que contou com o apoio de 44% dos inquiridos. Apenas 40% se opõem à operação que tem como objectivo tomar controlo e ocupar toda a Faixa de Gaza.
Outros resultados sobre questões relevantes foram divulgados em directo num noticiário do canal na passada terça-feira, mas foram convenientemente deixados de fora do artigo publicado no site. Entre elas destaca-se a pergunta que diz respeito à ajuda humanitária – 53% apoiam a continuação do cerco total imposto no início de Março, enquanto apenas 34% defendem a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
A amostra da sondagem inclui palestinianos com cidadania israelita, o que torna os resultados ainda mais preocupantes. Ayman Odeh, líder da lista Hadash–Ta’al, uma coligação de vários partidos árabes e de esquerda no Knesset, afirmou na sua conta pessoal no twitter:
Não quero imaginar os resultados sem os cidadãos árabes.
Não quero explicar o resultado da sondagem aos meus filhos.
Ayman Odeh
O sistema judicial, igualmente cúmplice
No final de Março, o Tribunal Constitucional israelita rejeitou por unanimidade uma petição da organização humanitária Gisha para pressionar o governo a permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
O presidente do órgão, Yitzhak Amit, afirmou que “o sofrimento da população civil não constitui, por si só, uma violação de dever por parte do Estado de Israel”. David Mintz, outro dos 3 juízes que analisou a petição, afirmou que esta é uma “guerra de Mandamentos bíblica”, permitindo que seja negada comida, água e medicamentos a milhões de palestinianos.
Mintz é residente do colonato Dolev; Noam Solberg, o terceiro juiz do painel, assim como Yitzhak Amit, vivem no colonato Alon Shuv – ambos na Cisjordânia ocupada. O Tribunal Constitucional tem a reputação de ser um órgão “liberal” que faz um contraponto ao “governo extremista de Netanyahu”, e a defesa da sua autonomia tem sido o ponto principal dos protestos “em defesa da democracia” que têm mobilizado centenas de milhares de israelitas desde Janeiro de 2023.
Não, não é o 7 de Outubro
Como explica o próprio Haaretz, o público israelita não desenvolveu estas opiniões genocidas devido ao trauma causado pela ofensiva de 7 de Outubro, e nem sequer é algo inédito ou exclusivo do projecto sionista, mas um modus operandi do colonialismo ocidental:
Há quem considere que o choque e a ansiedade que se apoderaram do público israelita na sequência dos acontecimentos de 7 de Outubro são a única explicação para esta radicalização. Mas parece que o massacre apenas desencadeou demónios que tinham sido alimentados durante décadas nos meios de comunicação social, nos sistemas jurídicos e na educação. (…)
A utilização da linguagem bíblica para justificar crimes de guerra também não é uma novidade para o sionismo: os colonos puritanos na América, na Irlanda e noutros sítios, baseando-se na Bíblia, compararam as populações indígenas que se lhes opunham aos amalequitas e aos cananeus e, consequentemente, levaram a cabo limpezas étnicas e genocídios contra elas.