Venezuela // Circo “humanitário” na fronteira colombiana~ 4 min
Por Duarte Guerreiro
Quando Juan Guaidó anunciou que dia 23 de Fevereiro seria entregue “ajuda humanitária” proveniente dos Estados Unidos, era mais que previsível que hoje haveria circo na fronteira. A intenção é muito obviamente gerar um pretexto para mais intervenção directa contra a Venezuela.
Reunimos um apanhado dos principais acontecimentos do dia, tal como visto por jornalistas sérios e organizações no terreno.
Como aconteceu
Juan Guaidó começou o seu dia a atravessar a fronteira para a Colômbia, apesar da proibição do Supremo Tribunal de não poder abandonar o país. Foi recebido pelo Presidente da Colômbia, Ivan Duque, para dar as boas vindas à “ajuda” encomendada por Elliot Abrams, enviado especial dos Estados Unidos para a Venezuela e famoso apoiante de esquadrões de morte de extrema-direita na América Latina.
Guaidó apelou novamente a um levantamento das forças militares o que, barrando meia-dúzia de casos, não teve efeito sobre o grosso das forças. Anunciou que a “ajuda” já teria entrado tanto pela fronteira com o Brasil como pela colombiana. Ambas as declarações viriam a provar-se falsas.
A primeira acção de relevo da manhã foi quando dois carros blindados com três desertores da Guarda Nacional Bolivariana atravessaram uma das pontes em direção à Colômbia, derrubando barreiras.
A fotojornalista chilena Nicole Kramm e uma agente da polícia venezuelana ficaram feridas. Segundo testemunhas, os guardas nacionais foram recebidos do outro lado com as palavras “são dos nossos, não disparem”. Á espera deles estava um deputado da Assembleia Nacional venezuelana, José Manuel Olivares.
Guaidó acusou apoiantes do governo de queimar camiões com a “ajuda humanitária” na ponte Francisco de Paula Santander em Ureña. Outros observadores notaram a prevalência de membros da oposição a dirigir-se para o local com gasolina. É possível observar em imagens de drone que o camião ainda se encontrava do lado colombiano da fronteira, rodeado de apoiantes da oposição.
Este episódio parece estar a ser o foco da propaganda ocidental e está a ser usado para acusar o governo venezuelano (“o regime de Maduro”) de crimes contra a humanidade.
Guaidó apelou então novamente ao apoio da “comunidade internacional”, sem a qual seria uma figura irrelevante. Maduro declarou o romper de relações com a Colômbia e dá 24 horas para o pessoal diplomático sair do país.
Durante toda a tarde foram registados vários eventos de conflito entre grupos da oposição e os militares que bloqueavam a fronteira, com uso de gás lacrimogénio. Num destes episódios, a oposição aparentemente capturou um camião do governo e tentou usá-lo como um ariete em chamas contra a linha de tropas venezuelanas.
As pontes foram sobrevoadas por drones colombianos durante o dia. Vários membros da oposição também usaram coletes da Cruz Vermelha, contra os desejos da organização e à revelia da sua rejeição de participação na pseudo entrega de ajuda humanitária.
As suspeitas da Cruz Vermelha em relação à irrelevância da ajuda vieram a confirmar-se com as declarações de Eduardo González, chefe da Unidade Nacional para a Gestão do Risco de Desastres da Colômbia, que está a coordenar a entrega da ajuda com a USAID e ONGs. Segundo o mesmo, não há medicamentos entre a ajuda, apenas material como luvas e seringas.