Espanha // Gestão desastrosa da saúde em Madrid agrava pandemia~ 5 min

Por Víctor Boaventura

Madrid, uma região que tem 17 166 casos confirmados de Coronavírus, e mais de 2090 mortes, uma taxa de mortalidade de 12,2%, bastante acima do normal. Muitos são os factores que podem ser apontados para a total descontrole da pandemia nesta comunidade. Mas numa crise como esta, o resultado de uma política de cortes e privatizações dos sucessivos governos da Comunidade de Madrid é ainda mais visível.

Nos últimos dias, sindicatos e movimentos sociais têm vindo a criticar a gestão desastrosa do actual governo da Comunidade e a política privatizadora seguida pelos últimos governos.

Estamos a viver uma situação de guerra” diz com desalento um dos pacientes do Hospital Universitário Severo Ochoa (Leganés), depois de estar há já 3 dias à espera dos resultados do teste de Coronavírus sentado numa cadeira de plástico e rodeado de outros 200 pacientes.

Os Hospitais de Madrid estão a rebentar pelas costuras enquanto que ⅔ das camas dos hospitais privados estão vazias. Isto depois do Governo espanhol ter anunciado no passado dia 15 que os recursos dos hospitais privados iriam ficar ao serviço de todas as comunidades autónomas e do Serviço Nacional de Saúde.

Ao mesmo tempo alguns Hospitais privados aproveitaram para colocar trabalhadores em férias forçadas, para poupar custos.

Profissionais da saúde trabalham sem proteção

A Asociación Defensor del Paciente, a Coordinadora Anti–Privatización de la Sanidad de Madrid (CAS Madrid) e o Sindicato Asambleario de Sanidad de Madrid (SAS Madrid) tinham apresentado uma queixa no passado dia 19 de março, a Fiscalía Superior de la Comunidad de Madrid onde denunciavam a  falta de meios de protecção individual.

Ontem, a Inspeção do Trabalho de Madrid exigiu que a Direção Geral de Recursos Humanos e Relações Laborais do Serviço de Saúde de Madrid (SERMAS) adotasse imediatamente medidas com as quais “possa garantir o direito à saúde dos profissionais de saúde da atenção primária.”

Esvaziar centros de saúde – Erro crasso

Profissionais e movimentos sociais criticam que a Comunidade de Madrid esteja a mobilizar profissionais  dos centros de saúde para o novo hospital de campanha instalado no IFEMA.

Segundo a Plataforma de Centros de Saúde, composta por médicos e profissionais de saúde de Madrid, este seria um erro crasso na luta contra a Pandemia. Esvaziar os centros de saúde de profissionais de cuidados primários levaria a uma avalanche de pacientes aos Hospitais centrais. Assim como um desarticular do trabalho efectuado entre centros de saúde e os doentes.

Os centros de saúde funcionam como uma primeira linha de defesa contra a pandemia. Um médico de família pode ligar aos seus pacientes, pode tratar das suas baixas laborais, aconselhar e tranquilizar. Todo este serviço vai ser suprimido com o deslocar profissionais para o IFEMA, segundo Dra. Maribel Giráldez do CS Nuestra Señora de Fátima, de Carabanchel.

Ao esvaziamento da atenção primária é acrescentado o iminente encerramento de 19 serviços de emergência pediátrica para concentrá-los apenas no Hospital Infantil de Niño Jesús e no Hospital La Paz. 

Consequências da privatização e cortes na saúde em Madrid

Segundo dados do Serviço Madrileno de Saúde, entre 2010 e 2018, os serviços de saúde na região perderam cerca de 3300 profissionais, apesar do facto da população com direito a serviços de saúde pública na Comunidade de Madrid ter crescido em quase 500 000 pessoas no mesmo período.

Segundo o catálogo nacional de hospitais, Madrid possui 33 hospitais públicos e 50 privados. Uma das políticas mais importantes do PP no governo da região desde 2010 tem sido a privatização constante de seus centros hospitalares. Chamam a este processo a “livre escolha” dos pacientes, mas apenas servem para encher os bolsos das empresas que os gerem. Dessa forma, dos 33 hospitais públicos, 5 possuem uma gestão privada e, como foi demonstrado, os seus tratamentos são até 6 vezes mais caros para os cofres públicos.

Estes hospitais privados, antes da requisição civil do Estado Espanhol, estavam a dirigir todos os casos de coronavírus para os hospitais públicos. Madrid tem mais hospitais mas teve uma diminuição de 1200 camas entre 2011 e 2018.

Limpeza e manutenção

O problema da saúde não afeta apenas os profissionais de saúde. Os protocolos de limpeza e manutenção da maioria dos hospitais públicos encontram-se externalizados a grandes multinacionais. 

Na última grande re-privatização dos serviços de limpeza de Madrid, a empresa vencedora do contrato de limpeza de 7 hospitais madrilenos foi a Ferrovial. Vários sindicatos criticaram os critérios de escolha da Consejería de Sanidad: 80% a critérios económicos, 20% a execução da desinfecção, serviço de lavandaria e desratização.

Resultado: lençóis com manchas de urina e bolor, pijamas para pacientes sujos e rotos, toalhas em mau estado, etc… O pessoal sanitário de Madrid denunciou, no passado mês de Junho, que o serviço de lavandaria do Serviço de Saúde de Madrid não atende aos padrões mínimos de qualidade e não fornece o material que eles precisam.

Arquitecto da privatização da saúde madrilena à frente da gestão da crise pandémica

A Comunidade de Madrid, presidida por Isabel Díaz Ayuso (PP), procurou aconselhamento externo para gerir a crise do coronavírus e recorreu ao ex-diretor geral de hospitais e arquitecto da privatização da saúde em Madrid, Antonio Burgueño.

Burgueño esteve na origem do modelo de privatização da assistência pública hospitalar no Estado Espanhol.

Gostaste do artigo? Considera subscrever a newsletter. Permite-nos chegar a ti directamente e evitar a censura das redes sociais.

Sigam o nosso trabalho via Facebook, Twitter, Youtube, Instagram ou Telegram; partilhem via os bonitos botões vermelhos abaixo.

Right Menu Icon