Bem-vinda, Extemporânea! Até já, Esquadrão 421!~ 6 min
Por Francisco Norega
Três meses volvidos sobre a chegada do Esquadrão 421 a território europeu, chega a altura de regressarem a casa. É isso que dita o nosso mundo feito de fronteiras e leis migratórias. Hoje cumprem-se exactamente 3 meses desde que esta primeira delegação zapatista pisou terra firme na ilha da Horta, nos Açores – a meio da viagem transatlântica que fizeram a bordo d’A Montanha. E hoje aterram na Cidade do México, para regressar a casa, às suas comunidades maias em Chiapas.
A Extemporânea, por sua vez, já iniciou a sua viagem rumo à Europa. Preparada para partir desde Junho e atrasada várias vezes pelo racismo e os passaportes, pelas vacinas e as leis sanitárias, vai encontrar-se com o Esquadrão na Cidade do México, e não nesta Terra Insubmissa como inicialmente planeado. A Extemporânea saiu a meio da semana da Semeteira da Comandanta Ramona, Caracol Morelia, rumo ao Caracol Jacinto Canek, em San Cristobal de las Casas, onde chegou na noite de quinta-feira. Daí partiu em caravana terrestre rumo à capital dessa geografia a que chamam México, onde se aquartelarão até, a 13 de Setembro, iniciarem a viagem aérea para Viena, com escala em Madrid. Aterram na capital austríaca a 14 de Setembro.
A Extemporânea é a segunda delegação zapatista a pisar o território europeu no marco desta Viagem pela Vida. Dela fazem parte 177 companheiras de raiz maia cuja missão é escutar e conhecer as resistências de baixo e à esquerda do nosso continente e partilhar as suas experiências de luta. Entre as 177, há 37 milicianas da Secção Miliciana Ixchel-Ramona, uma equipa feminina de futebol, à qual se juntam ainda duas menores: Defensa (15 anos) e Esperanza (12 anos). Vem ainda o chamado Comando Palomitas, um comando de crianças zapatistas, da qual fazem parte o amado Amado (10 anos e responsável do comando), o Chinto (10 anos e coordenador operativo), a Cintia (3 anos e médica do grupo), o Chuy (3 anos, demolições controladas) e a Verónica (3 anos, demolições sem controlo nenhum).
Uma semana depois chegará a Viena a delegação do Congreso Nacional Indígena-Concejo Indígena de Gobierno e da Frente de Pueblos en Defensa de la Tierra y el Agua.
Depois de chegados a Viena, dividir-se-ão em 28 grupos que cobrirão todo o território europeu. No território português, prevê-se que comecem por passar pelo Barroso para se encontrar com as populações das aldeias que se debatem contra as várias explorações mineiras projectadas para a região. Depois percorrerão o resto da geografia portuguesa.
O Esquadrão, que agora regressa ao México, deixou por cá as suas sementes de resistência e rebeldia. Nestes três meses, construiram-se redes de solidariedade entre as várias geografias do nosso continente que eram, até há um ano, inexistentes. O caminho não foi simples, houve dificuldades, conflitos e, não poucas vezes, muita desorganização. Mas seguimos confiantes que este caminho que agora começa nos levará rumo à organização, à solidariedade e à esperança de construirmos um mundo onde caibam muitos mundos.
Por fim, deixamos uma carta colectiva de despedida ao Esquadrão 421, desde vários recantos desta Terra Insubmissa:
Nalgum canto de Slumil K´Ajkemk´Op, Setembro de 2021
Estimad@s Marijose, Lupita, Carolina, Yuli, Ximena, Bernal e Felipe,Somos mulheres, homens, companheiroas de todas as idades e de todos os cantos de Slumil K´Ajkemk´Op e mais além que escrevemos estas linhas.
Tradução por uma companheira da Caravana Zapatista em território português
Estivemos presentes em Vigo, Paris, Barcelona, Madrid, na ZAD, Basel, Zürich, enfim, seguimos a vossa Viagem por estas geografias. Apesar de que não nos tenham visto, aí estivemos nós, cuidando, trabalhando nos computadores, gravando vídeos, tirando fotografias, escrevendo, tratando da segurança, organizando e, não poucas vezes, desorganizando a vossa chegada, a vossa visita, a vossa travessia.
Pode ser que não se nos tenham notado, ou seguramente sim, mas cada visita vossa punha-nos nervos@s, motivad@s e muito, muito contentes.
Vocês não sabem, mas antes da vossa Gira, nós não nos conhecíamos. Cada uma de nós estava no seu território, na sua luta, na sua trincheira. A vossa chegada a Slumil K´Ajkemk´Op no dia 22 de Junho de 2021 juntou-nos. Primeiro a conexão foi virtual, depois em pessoa e podem acreditar que quando nos encontrámos em pessoa pela primeira vez em Vigo, foi como se nos conhecêssemos a vida inteira. Trabalhámos, trocámos ideias, rimos e também discutimos. Ou seja, organizámo-nos e pusemos muita força e muito coração em cada fotografia, nos vídeos, nas crónicas, nos cartazes a anunciar a vossa chegada, em tudo.
O grupo, a equipa, não era muito grande ao início, mas foi lindo ver como com cada visita vossa o grupo ia crescendo e tod@s tinhamos uma vontade enorme de ajudar, cooperar e partilhar.
Quando vocês @s Zapatistas disseram “organizem-se”, foi isso que fizemos, e não foi fácil, mas fomos aprendendo umas com as outras. A Gira continua agora com A Extemporânea e também as nossas vontades de continuar com tudo isto que já começámos e não queremos parar.
Pode ser que nos vejamos nos vossos Caracóis, na Europa Insubmissa ou mais além, mas seja como for os nossos corações rebeldes e solidários já estão unidos!
Recebam vocês, Esquadrão 421, um abraço colectivo de tod@s e cada uma de nós!
Um bom regresso ao Caracol!
Aqui já deixaram a semente para o que tiver de vir.
Obrigada!