Portugal // Lutas anti-mineração, Zapatistas e CNI irmanam as suas lutas pela Vida~ 8 min

Delegações zapatistas e do Congresso Nacional Indígena visitaram diferentes lutas contra a mineração no centro e norte de Portugal.
Desde as montanhas do sudeste mexicano até aos vales brumosos de Portugal, diferentes povos irmanam-se em luta.
Juntos, dizem sim à vida e não aos projectos de morte.

Por Medios Libres/Gira por la Vida – Portugal
Fotos de Mauricio Centurion e Guilhotina.info

Movimentos e gentes de diferentes aldeias do Barroso receberam os e as representantes indígenas e zapatistas num ambiente de resistência, rebeldia e esperança. Neste lugar, olharam-se ao espelho lutas contra projetos extractivistas que os maus governos alegam serem pelo bem do povo.

Minas de lítio a céu aberto, termoeléctricas, parques eólicos, barragens, gasodutos, agro-indústria e agropecuária intensiva, fracking, empreendimentos e comboios turísticos, todos estes projectos chegam com promessas de reduzir emissões, acelerar o desenvolvimento económico e trazer prosperidade. Mas, na realidade, ditam uma sentença de contaminação do ar, da água e da terra nas povoações onde se estabelecem, destruindo não só os meios de subsistência locais mas também o acesso a recursos naturais básicos.

«No nosso país, terra e água também são saqueadas. Hoje estamos aqui para dizer que as lutas não devem caminhar sozinhas nem ter um só protagonista. Deixemos de lado o individualismo, que é o fracasso das lutas. Não mais lutas isoladas, agora lutas irmanadas. Não estão sozinhos, não estamos sozinhos.»

Palavras do Congresso Nacional Indígena (CNI) no Barroso.

A delegação do CNI alerta: «A Mãe Terra pede-nos, aos gritos, que nos levantemos de uma vez e travemos a destruição que a vai matar, e que vai levar-nos a todos com ela.»

Escutámos os gritos que irrompem das cicatrizes deixadas pela extracção de estanho em Cerdedo, das feridas abertas pela antiga mina de volfrâmio na Borralha e a exploração de quartzo e feldspato em Couto de Dornelas. Também são ensurdecedores os gritos que saem dos terrenos comunais que cobrem as montanhas de Covas do Barroso, agora ameaçadas pela mineira britânica Savannah Resources, onde ressoa também o clamor vindo dos cumes de Morgade, na mira da Lusorecursos.

Na Caravana pela Vida, os povos indígenas de México uniram a sua força com os povos de diferentes zonas de Portugal que estão em luta contra a chegada das “mineiras verdes” aos seus vales. Estes vales tricolores, os cumes brumosos e o horizonte de montanhas azuis fazem os visitantes sentirem-se em casa.

Barroso e os seus habitantes lutam por preservar a vida numa região repleta de cultura e tradições ancestrais. A biodiversidade tinge de cores estas montanhas que estão em risco de se tornarem cinza escuro com estes megaprojectos.

A luta pela água é um dos principais laços que unem todos estes povos. A água está ameaçada por megaprojectos e também pelas multinacionais que, com as suas fábricas, a saqueiam e depois, dizem, “salvam” o povo, vendendo-lhe água engarrafada que as próprias empresas contaminaram.

«Esse rio formoso que aí vem já não vai estar formoso, compas, se se instala a mina. Vai ser contaminado e vai ir contaminando os rios a que se unir. A água que hoje se bebe já não vai poder beber-se.»

Palavras do Congresso Nacional Indígena no Barroso

Ao passo que as multinacionais recorrem às redes sociais e aos mass media para anunciar os seus encontros com importantes personalidades e manter a sua imagem, os povos encontram-se de forma discreta, olham-se e reconhecem-se uns nos outros, tecendo laços de força e esperança para enfrentar o inimigo comum: o capitalismo.

Barroso já está do outro lado do mundo também, com os povos do México. E, como dizem as companheiras do CNI, já não somos só a voz e os olhos de todos os povos do México, mas de todos os povos do mundo.

Barroso já não luta só.

★★★

«Aqui, como estão a fazer-vos, lá nos fizeram»

O caminhar do Congresso Nacional Indígena também as levou até à Serra da Argemela, outra zona montanhosa ameaçada pela mineração de lítio, agora no interior centro do território português. Uma vez mais, a delegação do CNI olhou-se ao espelho, partilhando com movimentos e população local as suas dores, os seus problemas, os ataques que enfrentam, que são os mesmos e um só. Sobre a necessidade de responder ao chamado da Mãe Terra e organizarmo-nos desde baixo, desde cada comunidade, para defender os nossos modos, as nossas culturas, as nossas povoações, o nosso território, a nossa água, a nossa Vida.

Irmãos e irmãs, a melhor maneira, a melhor receita, o melhor remédio, é organizarmo-nos. Deixemos de lado as nossas diferenças. Que não haja lideranças, que não haja políticos, que não haja caudilhismo. Porque onde há caudilhos, protagonistas, um político numa organização, fracassam. Porquê? Porque essa pessoa, líder ou dirigente, vende-se, compram-na, e a organização vai por água abaixo. Isto deve ser comunitário, colectivo. A colectividade é o que nos leva ao triunfo das nossas lutas.

Palavras do CNI na aldeia de Barco, na Serra da Argemela.

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