Portugal // RTP: chacina de 100 mil polacos e judeus é um “legado polémico”~ 4 min

Por Guilhotina.info

Numa reportagem publicada hoje, a televisão pública lava a cara a Stepan Bandera, líder do Exército Insurgente Ucraniano (UPA), o braço armado da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) que foi responsável por limpezas étnicas de 100 mil polacos e judeus no oeste da Ucrânia durante a 2ª Guerra Mundial.

Nesta reportagem, o jornalista fala com algumas senhoras fofinhas da aldeia natal de Bandera que dizem maravilhas sobre “o líder do povo ucraniano”, “que lutou pela independência, pela sua língua ucraniana nativa e pelo povo ucraniano”, “para que fôssemos uma nação e uma terra livre”.

No oeste da Ucrânia, onde a OUN tinha uma forte implantação, as forças nazis foram acolhidas de braços abertos, e divisões inteiras do exército nazi foram formadas por colaboradores ucranianos – em 1941, por exemplo, 80 mil pessoas da região da Galicia alistaram-se voluntariamente nas SS Galizien, vindo a maior parte delas da OUN, que tinha como objectivo criar uma Ucrânia independente e etnicamente pura. A 29 e 30 de Setembro de 1941 dá-se o massacre de Babi Yar, em Kiev, em que mais de 33 mil judeus foram mortos pelas forças nazis e por colaboradores ucranianos. Entre 1943 e 1944, a UPA e a facção Bandera da OUN mataram mais de 60 mil polacos na Volhynia e na Galicia.

O jornalista diz-nos que Bandera é “para uns, herói nacional, para outros, a fonte de inspiração da extrema-direita ucraniana” e que “os historiadores se dividem em relação ao homem que liderou a organização dos nacionalistas ucranianos”. Como se pudesse houver alguma divisão quando se fala de limpezas étnicas e crimes contra a humanidade.

Podemos ver ainda como a equipa da RTP tem de passar por um “posto de controlo civil” para entrar na aldeia. Nesse posto, vê-se uma bandeira ucraniana ao lado de uma bandeira da UPA, actualmente utilizada pelo Sector Direito, uma das maiores organizações paramilitares da extrema-direita ucraniana. Na aldeia, algumas pessoas foram impedidas de falar por alguns vizinhos que “não gostam de ver jornalistas por ali”.

Estas limpezas étnicas levadas a cabo pela organização de Bandera merecem apenas um breve comentário no final da reportagem, “[a OUN] teve um papel importante no massacre de judeus na ocupação nazi da Ucrânia”.

Imaginem o que seria uma reportagem que dissesse que Hitler tem um legado polémico porque, apesar dos genocídios e de todas as coisas chatas do regime nazi, defendeu a cultura do seu povo e até deu à Alemanha uma rede de auto-estradas bacanas. Ou que Franco é controverso porque, apesar de ter tornado o Estado Espanhol o segundo país do mundo com mais fossas comuns, defendeu a lingua espanhola e construiu muitas barragens.

Não, Stepan Bandera não deixou nenhum legado polémico. Nem Bandera, nem Hitler, nem Pinochet, nem Petain, nem Quisling. Eram fascistas cuja missão principal, em momentos de crise existencial do capitalismo, foi esmagar qualquer movimento organizado dos trabalhadores a mando do capital. E o que são uns milhões de mortos na luta pelo lucro, disfarçado com bandeirinhas nacionais?

Quando o revisionismo histórico está na TV do Estado, fica óbvio que tudo está muito podre.

Com jeitinho, aproveita-se a onda e ilegaliza-se o Partido Comunista, como fez a democrática e pluralista Ucrânia pós-Maidan, e ainda vamos ver bandeiras da UPA nas celebrações do 25 de Abril.

Bandera, a OUN e os crimes de Guerra no oeste da Ucrânia: 
«Ukraine on Fire», documentário de Oliver Stone (minutos 6:50 a 11:30)
https://www.youtube.com/watch?v=pKcmNGvaDUs 

Controvérsia à volta do Massacre de Babi Yar no governo ucraniano de Poroshenko:
https://www.thejc.com/news/world/far-right-role-at-babi-yar-prompts-local-anxiety-1.459389

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