Nord Stream // Silêncio, Hersh, foram os “pró-ucranianos”~ 4 min
Por F
Fase 1: O ataque
Acontece o maior acto de sabotagem submarina das últimas não sei quantas décadas. Um acto de sabotagem de infraestrutura aliada, cujo resultado prático foi a substituição do fornecimento de gás russo pelo gás natural liquefeito dos EUA, muito mais caro, em grande parte extraído através de fractura hidráulica e transportado por cargueiro através do Atlântico. Crime ambiental gigantesco, ao cubo, em que os EUA são os grandes vencedores. A Europa da ecologia e da transição energética rejubila.
Fase 2: Silêncio
Abafa-se o caso após meia-dúzia de dias, depois de, claro, deixar no ar que “devem ter sido os russos”. Os resultados preliminares das investigações dinamarquesas, alemãs e suecas são inconclusivas… e não se fala mais do assunto!
Fase 3: Hersh
Até que… Seymour Hersh publica a sua investigação sobre a execução da sabotagem do Nord Stream pelos EUA. Hersh, autor de inúmeras investigações ao longo de mais de meio século, recebeu o prémio Pulitzer, em 1970, pela investigação que rompeu o silêncio sobre os massacres de civis desarmados pelas tropas norte-americanas na Guerra do Vietname. Através das últimas décadas, foi aclamado por diferentes investigações que puseram a nu atrocidades cometidas pelas forças norte-americanas em diferentes guerras. Nos meios de comunicação ocidentais, Hersh vai de “lendário jornalista investigativo” (Spiegel, 2016) a “jornalista controverso” (Spiegel, 2023). O governo norte-americano nega qualquer envolvimento no ataque.
Fase 4: Foram os “pró-ucranianos”
Magicamente, depois de quase meio ano, alguém acorda num escritório qualquer em Washington e lembra-se que é preciso fazer alguma coisa. Puxa uns cordelinhos aqui e ali, e lá faz sair um artigo no New York Times a apontar o dedo para o bode expiatório de turno, e assim sacudir a culpa do capote. Quem será esse bode expiatório? Segundo o New York Times de 7 de Março, “Nova inteligência analisada por oficiais dos EUA sugere que foi um grupo pro-ucraniano a levar a cabo o ataque contra o Nord Stream”. No mesmo dia, o jornal Zeit, em conjunto com outros meios de comunicação alemães, divulga algumas das conclusões da investigação alemã. Segundo esta, a identidade ou proveniência dos sabotadores é desconhecida, mas afirmam que a operação foi levada a cabo com o auxílio de um iate de uma empresa polaca, propriedade de dois cidadãos ucranianos.
Portanto, passado quase meio ano, foi preciso vir um jornalista de renome explicar que foram militares da marinha norte-americana que plantaram explosivos no Nord Stream, a coberto dos exercícios militares Baltops 22, realizados no Mar Báltico, para o chamado “Ocidente” inventar uma explicação em cima o joelho para a maior sabotagem do século. E qual é essa explicação? Uns amigos, como piada de fim de semana, arranjaram 1000 kilos de C4, enfiaram-se no iate dum deles numa das zonas mais vigiadas dos oceanos, e fizeram uns mergulhos para explodir uma pipeline.
Engraçado como os EUA são capazes de atirar os seus aliados mais próximos para a fogueira à primeira oportunidade, quando se trata de salvar a sua própria pele.
E ainda a procissão vai no adro…