Gaza // Israel bombardeia um hospital e mata mais de 800 palestinianos~ 9 min
Por F
Israel bombardeou esta tarde o hospital baptista Al Ahli, no centro da cidade de Gaza, onde milhares de pessoas procuravam cuidados médicos ou abrigo dos bombardeamentos israelitas. As vítimas mortais do ataque são já mais de 800.
Para além de ser um hospital, cujo bombardeamento constitui um crime de guerra à luz do direito internacional, este é o único hospital cristão em Gaza, o que suporia um maior grau de protecção. O hospital é administrado pela Diocese de Jerusalém da Comunhão Anglicana, e foi escolhido por muitos como local para se abrigarem. Na altura do ataque, que ocorreu sem qualquer aviso prévio, estima-se que cerca de 5 mil pessoas se encontravam no local.
Este é um dos mais mortíferos massacres da história palestiniana. As cenas são aterrorizantes. Se estas imagens que chegam do terreno não são prova de que está em curso um genocídio, não sabemos o que será.
“Foi a Jihad Islâmica!”: as narrativas israelitas
Meia hora após o ataque, segundo informações publicadas pela Al Jazeera, um porta-voz do exército israelita confirmou a sua autoria e disse que tinham avisado para evacuarem o hospital Al Ahli, bem como outros cinco hospitais, para que o Hamas não os utilizasse como refúgio.
Mais tarde, algumas fontes israelitas foram afirmando, ora que o Hospital Al Ahli teria sido atacado por estar a ser usado como base pelo Hamas, ora que teria sido um míssil palestiniano com defeito que teria atingido o hospital por engano. A narrativa da propaganda israelita acabou por consolidar-se em torno de uma outra versão.
Por volta das 21h, a conta oficial do Estado de Israel no twitter declarou que, segundo um porta-voz do exército israelita, terá sido um rocket da Jihad Islâmica da Palestina que terá sido interceptado por Israel quando se encontrava nas imediações do hospital.
Na sua conta do twitter, Benjamin Netanyahu afirmou, depois de repetir a versão oficial publicada minutos antes: “O mundo todo tem de saber: foram terroristas bárbaros em Gaza que atacaram o hospital em Gaza, não as FDI [Forças de Defesa de Israel]. Aqueles que mataram as nossas crianças também matam as suas crianças.”
Vamos ao Fact-check
Não nos surpreenderia que esta versão começasse, nas próximas horas, a ser dada como verdade pelos meios de comunicação ocidentais. Deixamos este vídeo que compara registos de impactos de rockets usados pelo Hamas, de uma JDAM de produção norte-americana e do impacto de hoje no hospital.
É esclarecedor.
Hamas liberta reféns se os bombardeamentos pararem
Após o ataque ao hospital Al Ahli, o Hamas anunciou que estava pronto a libertar os reféns civis que se encontram em Gaza, na condição de Israel parar de bombardear Gaza.
As declarações do Ministro da Segurança Nacional, pelo contrário, foram bastante mais incendiárias. Apenas uma hora após o ataque, Itamar Ben Gvir afirmou que «a única coisa que deve entrar em Gaza até que os reféns sejam libertados são centenas de toneladas de explosivos da Força Aérea [israelita], nem uma grama de ajuda humanitária».
Até ao dia de hoje, a condição imposta pelo Hamas para libertar os reféns era a libertação dos mais de 6000 palestinianos presos em prisões israelitas. Segundo Israel, serão 199 os reféns israelitas que estão em Gaza. Fontes palestinianas apontam para entre 200 e 250 reféns nas mãos dos diferentes grupos que participam na Operação Inundação de Al Aqsa. Desconhece-se qual o número de reféns civis.
Regressando ao hospital Al Ahli…
Segundo o site da Diocese de Jerusalém, o hospital foi fundado em 1882 e, com 80 camas, realizava todos os meses cerca de 3500 consultas, 300 cirurgias e 600 sessões de radioterapia. Operava um programa gratuito de rastreio do cancro da mama e fornecia comida e cuidados médicos gratuitos às populações das cidades e aldeias circundantes.
De acordo com o serviço de notícias da Comunhão Anglicana, o hospital tinha já sido atingido no sábado por um rocket israelita, que atingiu o centro de tratamento de cancro, provocando danos graves em dois andares onde se encontravam as alas de ultra-som e mamografia. Quatro trabalhadores ficaram feridos.
Estava programada a abertura de um novo centro de quimioterapia no próximo mês. Neste momento, ainda não se sabe quanto do hospital terá sobrevivido ao ataque. Depois do ataque de hoje, a Diocese de Jerusalém, que abarca a Síria, o Líbano, a Jordânia e a Palestina, declarou um dia de luto para esta quarta-feira.
A devastação testemunhada, junto com o ataque sacrílego à igreja, desfere um golpe no âmago da decência humana. Afirmamos inequivocamente que isto merece condenação internacional e retaliação. Ressoa um apelo urgente a que a comunidade internacional cumpra o seu dever de proteger civis e garantir que tais actos horríficos e desumanos não sejam replicados.
Comunicado da Diocese de Jerusalém
O hospital é uma de 20 instalações médicas no norte de Gaza que estão a enfrentar ordens de evacuação da parte das forças israelitas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Repercussão na Cisjordânia e no mundo árabe
À medida que foram sendo emitidas condenações pela grande maioria dos países árabes, enormes manifestações tomaram as ruas da Cisjordânia. Em vários cidades, deram-se confrontos com as forças de ocupação israelitas, que em várias ocasiões dispararam balas reais.
Em Ramallah, foram entoados cânticos a exigir a deposição de Mahmoud Abbas e uma insurgência armada contra Israel. Um jovem palestiniano foi morto a tiro pelas forças israelitas.
Milhares de pessoas saíram também à rua no Líbano, na Jordânia, na Turquia, em Marrocos, na Tunísia, no Egipto, na Líbia e no Irão.
Em Beirut, milhares de veículos entupiram as ruas em direcção à embaixada dos EUA, onde milhares de pessoas se manifestavam, mas o exército libanês cortou-lhes o passo. As bandeiras da Palestina e do Hamas foram hasteadas na vedação do complexo da embaixada norte-americana. Do outro lado da capital libanesa, a mais de 10km, centenas de manifestantes juntaram-se em frente à embaixada de França e atiraram pedras ao edifício.
Em Istambul, manifestantes tentaram invadir a embaixada de Israel. Em Amman, a capital da Jordânia, manifestantes tentaram incendiar a embaixada de Israel antes de serem reprimidos pela polícia.
Também hoje…
Antes do ataque ao hospital Al Ahli, a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) tinha já anunciado que 6 pessoas tinham sido mortas e várias feridas numa escola que foi alvo de um bombardeamento israelita. Nesta escola encontravam-se várias famílias que haviam fugido de zonas atingidas por ataques israelitas. A escola encontra-se no campo de refugiados de Maghazi, na província de Deir al-Balah, fora da área a que Israel deu ordem de evacuação há poucos dias. As forças israelitas tinham as suas coordenadas.
Durante o dia de hoje, já foram mortos na Faixa de Gaza pelo menos 15 membros da UNRWA e 5 membros da Cruz Vermelha.
O silêncio não pode continuar
O regime de apartheid israelita faz prego a fundo no genocídio do povo palestiniano, em completa violação das mais básicas leis da guerra e regras do direito internacional, enquanto o mundo assiste, em directo.
Não há palavras para o macabro silêncio da chamada “comunidade internacional” face às infinitas atrocidades que o povo palestiniano tem vindo a sofrer durante os últimos 75 anos. O apartheid israelita tem de acabar, o genocídio tem de ser travado.
Manifestações em solidariedade com o povo palestiniano amanhã, quarta-feira, em Lisboa, às 18h no Martim Moniz, e na quinta-feira em Évora, às 18h no Largo Camões.