Gaza // Hospitais à beira do colapso, milhares à beira da morte~ 6 min

Por Víctor Boaventura

Cerca de 7.000 palestinianos doentes e feridos enfrentam morte iminente, com os hospitais de Gaza prestes a entrar em colapso devido à falta de combustível, disse o porta-voz do Ministério da Saúde palestiniano à Al-Jazeera.

Médicos e autoridades de saúde alertam há dias que o combustível deverá acabar completamente até quinta-feira (amanhã). Dizem que isto levará à morte instantânea de milhares de pessoas, incluindo bebés recém-nascidos em incubadoras, feridos em unidades de cuidados intensivos e doentes em diálise renal, entre outros.

Organização Mundial da Saúde avisa e a “comunidade internacional” não ouve

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também disse na terça-feira: “A menos que o combustível vital e suprimentos adicionais de saúde sejam entregues urgentemente a Gaza, milhares de pacientes vulneráveis correm o risco de morte ou complicações médicas graves, pois os serviços essenciais serão encerrados devido à falta de energia”.

Alguns desses pacientes vulneráveis incluem cerca de 1.000 pessoas dependentes de diálise e pelo menos 130 bebés prematuros, afirmou a organização no comunicado. Outras pessoas nos cuidados intensivos ou que necessitam de cirurgia também “dependem de um fornecimento estável e ininterrupto de eletricidade para permanecerem vivas”, acrescentou.

Pelo menos seis hospitais em Gaza foram forçados a fechar devido à falta de combustível, disse a OMS. A estes números temos de somar os hospitais que tiveram de fechar devido a danos causados por ataques aéreos, afirmou em comunicado.

UNICEF diz que terá de suspender a sua actividade devido à falta de combustível

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também sublinhou a necessidade urgente de permitir a entrada de combustível na Faixa de Gaza e fez eco à OMS no apelo a um cessar-fogo imediato.

“O combustível é de suma importância para o funcionamento de instalações essenciais, como hospitais, estações de dessalinização e estações de bombeamento de água”, afirmou a UNICEF num comunicado, esta terça-feira.

“As unidades de terapia intensiva neonatal abrigam mais de 100 recém-nascidos, alguns dos quais estão em incubadoras e dependem de ventilação mecânica, tornando o fornecimento ininterrupto de energia uma questão de vida ou morte”, afirmou.

UNRWA acolhe 600 mil pessoas em mais de 160 instalações subterrâneas

Entretanto, Juliette Touma, directora de comunicações da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), disse à Al-Jazeera que a organização enfrenta a perspectiva de ter de suspender a sua assistência humanitária em Gaza devido à falta de combustível.

“Se não conseguirmos um fornecimento urgente de combustível nas próximas 24 horas, poderemos ser forçados a suspender as nossas operações humanitárias – uma das maiores da história desta agência da ONU”, acrescentou Touma.

“Estamos a acolher 600 mil pessoas em mais de 160 instalações subterrâneas, incluindo de escolas, instalações médicas e outros edifícios como armazéns… Estamos tão sobrecarregados que temos de abrir armazéns para receber os deslocados”, disse Touma.

“Os suprimentos também estão a acabar, então não poderemos fornecer nenhum suprimento [aos palestinianos em Gaza]. Não poderemos fazer coisas muito simples como pôr a trabalhar a nossa frota de carros ou os camiões e ir buscar os mantimentos que chegam das fronteiras”, disse ela.

“Temos apoiado, por exemplo, padarias na Faixa de Gaza com farinha de trigo que precisam de carros para entregar essa farinha de trigo. É apenas o básico das nossas operações humanitárias, não seremos capazes de continuar a fazer isso… Precisamos de combustível e precisamos dele com urgência”, acrescentou.

Mais de 6000 palestinianos mortos, incluindo 2360 crianças

Israel lançou a guerra contra Gaza em 7 de Outubro, depois de a resistência palestiniana ter levado a cabo uma operação surpresa contra a entidade ocupante, a operação Inundação de Al-Aqsa. Até agora, mais de 6.000 palestinianos foram mortos em ataques aéreos israelitas, incluindo mais de 2.360 crianças e 1.290 mulheres. Israel também ordenou o bloqueio total da Faixa de Gaza, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, cortando o fornecimento de água, alimentos e combustível.

“As crianças estão todas doentes”

Nos abrigos temporários onde os palestinianos deslocados se aglomeram com as suas famílias na esperança de se protegerem das bombas, as pessoas começam a sofrer de problemas estomacais, infecções pulmonares e erupções cutâneas, disse Abu Taaema, do Hospital Nasser.

“Faz calor na tenda sob o sol do meio-dia e há insectos e moscas… À noite faz frio e não há cobertores suficientes para todos. As crianças estão todas doentes”, disse Sojood Najm, uma mulher hospedada num centro da ONU.

Ela fugiu de casa na Cidade de Gaza com o marido e três filhos e vivem numa tenda há nove dias, sem poder tomar banho. “Todos os dias choro pela minha mãe”, disse Najm.

Numa farmácia, o proprietário disse que restavam poucas lojas. As pessoas tinham armazenado medicamentos vendidos sem receita, mas existe a preocupação de que os tratamentos para doenças crónicas possam acabar.

Embora as preocupações com a saúde cresçam, é ainda a intensificação dos bombardeamentos que está a causar mais sofrimento em Gaza.

Após um ataque aéreo em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, Abdallah Tabash segurou a sua filha morta, Sidra, recusando-se a soltá-la enquanto segurava o seu rosto e cabelo manchados de sangue. “Quero olhar para ela o máximo que puder”, disse ele.

Os gémeos Wateen e Ahmed perderam a mãe num ataque aéreo israelita em Khan Younis e os bebés de 14 meses estão agora separados, um no hospital e o outro desconsolado a chorar pela irmã, disse a tia.

A mãe deles, Amal Abu Mkheimar, foi morta enquanto cuidava de Ahmed, o seu corpo protegeu-o do pior da explosão, enquanto Wateen sofreu queimaduras em todo o corpo.

Ahmed, com os cortes soturados por médicos, foi colocado aos cuidados da sua tia, mas Wateen permanece no hospital, aparentemente incapaz de reconhecer até mesmo o seu pai, segundo familiares.

“Ahmed está em casa, sentindo falta da irmã. Ele chora o tempo todo. Dizem que os gémeos sentem um pelo outro”, disse a sua tia, Alaa Abu Mkheimar.

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