«O Plano Estratégico do Hezbollah»: compreender a frente norte~ 6 min

Por F

Desde 8 de Outubro, assistimos ao desenrolar de uma guerra de baixa intensidade na frente norte da Palestina ocupada, com o Hezbollah a lançar ataques contra posições israelitas, e Israel a responder com bombardeamentos e disparos de artilharia. Vários outros grupos no sul do Líbano, libaneses e palestinianos, lançaram rockets contra Israel.

Israel tem utilizado munições incendiárias e fósforo branco com o objectivo de queimar a vegetação ao longo da fronteira do Líbano e, assim, impedir que os combatentes palestinianos e libaneses possam movimentar-se junto à fronteira sem ser vistos. Milhares de hectares e cerca de 4000 árvores foram queimadas nestes ataques, entre elas muitas oliveiras centenárias.

Os ataques israelitas já tiraram a vida a 6 civis libaneses e um jornalista. Mais de 50 combatentes do Hezbollah foram mortos, e não se sabe ao certo quantas vítimas mortais sofreu o exército israelita.

Nos últimos dias, os ataques lançados desde o sul do Líbano contra as forças israelitas têm vindo a intensificar-se, e aproxima-se o momento em que Nasrallah, o líder religioso do Hezbollah, vai falar publicamente pela primeira vez desde 7 de Outubro – um discurso que pode determinar o curso do conflito. Para tentar compreender o ponto de situação na frente norte, traduzimos uma análise feita pelo Middle East Spectator sobre o plano estratégico do Hezbollah.

O Plano Estratégico do Hezbollah

Todos os que têm seguido a guerra desde dia 7 de Outubro sabem que todas as partes envolvidas esperam ansiosamente o próximo passo das facções do eixo da resistência, sobretudo o Hezbollah.

O Hezbollah, que expulsou Israel do Líbano nos anos 80 e defendeu o Sul contra outra tentativa de ocupação em 2006, é um muito mais capaz e potente inimigo das forças israelitas do que o Hamas ou a JIP jamais serão.

Desde o início da guerra, têm circulado comunicados não-oficiais e notícias que apontam para uma invasão terrestre de Gaza ser considerada como uma linha vermelha pelo Hezbollah.

Apesar de estes comunicados não serem oficiais, muitos de vocês questionam-se: quando é que o Hezbollah vai mesmo envolver-se?

Desde 8 de Outubro, o Hezbollah atacou posições das IDF ao longo da fronteira libanesa todos os dias, sem excepção. Cerca de 50 mártires foram anunciados, e não se sabe ao certo o número de baixas israelitas. Para além das mortes, muitos veículos e tanques das IDF foram destruídos.

Ainda assim, há indícios de que algo mais está a ser preparado. Algo maior. Algo sem precedentes.

Em cada um dos últimos 24 dias, o Hezbollah atacou, de forma consistente e bem-sucedida, equipamento israelita de vigilância e observação na fronteira libanesa.

Dezenas de estações de radar, câmaras de visão nocturna, sensores de infravermelhos, torres de comunicação de longa distância, telescópios e antenas foram destruídas pelo grupo libanês durante as últimas semanas. 

Estas operações, que desmantelaram a maior parte da rede de observação das IDF, praticamente cegaram os israelitas no norte, especialmente em Metula e nos colonatos circundantes. Só podemos imaginar porque é que o Hezbollah terá posto tanta ênfase neste modus-operandi, em vez de optar por apenas matar soldados ou destruir tanques.

Agora que as IDF mobilizaram a maior parte das suas forças para as operações de combate urbano em Gaza, uma oportunidade única está a abrir-se no norte. Uma oportunidade que pode determinar o futuro da região. O Hezbollah sabe disto, e esperou por este momento durante 17 anos.

O norte é agora um completo ângulo morto e, tendo em conta a informação disponível, é muito possível que o grande evento esteja ainda por vir.

Tudo o que podemos fazer é esperar pelo discurso de Nasrallah esta sexta-feira, mas pode haver algumas surpresas na calha. Os sinais estão todos lá.

Middle East Spectator // 31/10/2023
[original aqui]

Ontem, num ataque sem precedentes na actual escalada do conflito, o Hezbollah atacou simultâneamente 19 posições israelitas junto à fronteira libanesa. Num dos ataques, usou pela primeira vez drones carregados de explosivos. As Brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas, também lançaram rockets contra povoações israelitas junto à fronteira do Líbano.

No Iraque, as Forças de Mobilização Populares, que juntamente com o Hezbollah e outras facções do Eixo da Resistência combateram o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, foram colocadas ontem em alerta máximo. As bases militares norte-americanas em ambos estes países continuam a sofrer ataques diariamente há mais de uma semana, em resposta ao apoio dos EUA ao genocídio em curso na Faixa de Gaza, e a Resistência Islâmica no Iraque promete aumentar a sua intensidade durante a próxima semana.

Durante o dia de ontem, foram divulgados alegados documentos do exército iraquiano com instruções para a preparação das suas forças para um conflito regional. Os exércitos do Egipto e do Irão levaram a cabo, durante a última semana, exercícios e inspecções ao material e às forças militares.

Nasrallah fala publicamente hoje em Beirut, às 3 da tarde locais. Milhares de cadeiras esperam a multidão que aguarda, expectante, as suas palavras. No palco podem ler-se os lemas “O próximo mundo é o mundo da Palestina” e “Mártires no caminho para Al-Quds”. Al-Quds é o nome árabe de Jerusalém.

Ninguém sabe ao certo o que anunciará Nasrallah. Caso vejamos uma escalada regional do conflito, esperamos apenas que os nossos governos, no Ocidente, não nos empurrem para uma guerra mundial cujas repercussões ninguém pode prever.

Recinto (em cima) e palco (em baixo) onde Nasrallah vai discursar, em Beirut

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