Bruno de Carvalho novamente na mira do ódio por questionar a narrativa imperialista~ 6 min

Por Guilhotina.info

Bruno de Carvalho é uma das poucas vozes dentro do jornalismo português que, depois de Fevereiro de 2022, não sucumbiu à narrativa ocidental que pinta o mundo a preto e branco, e ousou ir ao outro lado da frente de guerra para dar voz a uma população esquecida pelo jornalismo ocidental.

A sua experiência chega agora às livrarias num livro intitulado “A Guerra a Leste: 8 Meses no Donbass”, que vai contar com lançamentos em Lisboa, Coimbra e Porto.

Num texto publicado na passada quinta-feira, Bruno denuncia que está a ser organizado um protesto contra a apresentação do seu livro em Lisboa, que vai acontecer amanhã, dia 9 de Abril, às 18h30 na Livraria Buchholz. Os chamados ao protesto são liderados por Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal que, para além disso, está a apelar “à comunidade ucraniana para pressionar as livrarias a retirarem o meu livro”.

A sessão de lançamento que vai ter lugar em Coimbra, na quinta-feira, às 18h na Casa Municipal da Cultura, também foi alvo de ameaças. A Guilhotina teve acesso a uma conversa no grupo de telegram “Ucranianos em Coimbra”, em que Olga Filipova apela a protestos contra este evento. Filipova também faz parte da Associação dos Ucranianos em Portugal e foi uma das pessoas que esteve na frente da campanha que levou ao despedimento, pela Universidade de Coimbra, de Vladimir Pliassov, então professor de russo na Faculdade de Letras da UC.

Como afirma Bruno de Carvalho:

Na sua visão unilateral e totalitária, esta associação quer impôr em Portugal aquilo que acusa Moscovo de fazer: impôr o pensamento único e acrítico, impedir o pluralismo e instaurar a perseguição e o assédio sobre quem não segue a sua linha.

50 anos depois do fim do Estado Novo, a extrema-direita ucraniana está a tentar silenciar este livro e o seu autor, um cenário que só tem paralelo recente no protesto de elementos de extrema-direita contra o lançamento do livro infantil “No meu bairro”, em Setembro do 2023. Hoje, “há quem queira que regresse o tempo em que se censurava literatura e se prendiam escritores e jornalistas”.

Sadokha e a Associação dos Ucranianos em Portugal

Esta associação é o bastião da extrema-direita ucraniana em Portugal. O seu presidente, Pavlo Sadokha, já foi acessor do partido de extrema-direita Svoboda, que participou no golpe de estado de 2014 e na guerra civil que começou pouco depois, no Donbass.

Sadokha é um admirador confesso de Stepan Bandera, um dos líderes da extrema-direita ucraniana que, durante a Segunda Guerra Mundial, colaborou com as forças nazis. A Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), que liderava, foi responsável por vários massacres contra judeus e polacos.

Enquanto “representante” da comunidade ucraniana em Portugal, Sadokha foi várias vezes à Ucrânia, entre 2014 e 2016, para entregar munições e mantimentos ao Sector Direito (que usa a mesma bandeira que a OUN/UPA) e aos batalhões Azov e Sich, abertamente de extrema-direita. O próprio Sector Direito chegou a publicar um vídeo de agradecimento no seu canal do Youtube, que depois seria divulgado no site da Associação de Ucranianos em Portugal.

No entanto, é importante ressalvar que esta associação não representa a totalidade da comunidade ucraniana que, como o povo ucraniano (e qualquer outro), não é homogénea. No grupo de telegram “Ucranianos em Coimbra”, a ideia de protestar contra o lançamento nem sequer é unânime.

A extrema-direita portuguesa também está de olho

Uma das pessoas que comentou a reacção ao anúncio dos protestos contra a apresentação do livro, publicada por Bruno de Carvalho no twitter, foi Ana Cristina Cardoso, a “kameraden” de Mário Machado que esteve na Ucrânia a combater o exército russo, ombro a ombro com outros neo-nazis. Fez (ou faz) parte do Chega, da Resistência Nacional e da Nova Ordem Social.

Ana Cristina esteve presente este sábado na manifestação do grupo de extrema-direita 1143, ao lado de Mário Machado.

Atacado por ser crítico do imperialismo

Bruno de Carvalho é atacado porque não se verga à narrativa que diz que o Bem está sempre do lado do Ocidente e dos seus aliados, e os seus inimigos são sempre uma horda de selvagens sanguinários. E por não reproduzir a lengalenga de que a invasão russa foi “não-provocada”, e de que este conflito começou quando os tanques russos cruzaram as fronteiras ucranianas. Hoje, é sempre um crime querer falar de contexto.

Bruno de Carvalho ousou fazer aquilo que mais nenhum jornalista português fez – ir para o outro lado da linha da frente, contar a história de quem vive no Donbass, e para quem a guerra faz parte do dia-a-dia há uma década. Como jornalista, reportou os bombardeamentos que, do outro lado da linha da frente, também fazem vítimas civis.

Depois de 2022, o Bruno, como a Guilhotina e alguns outros meios de informação independentes, continuoyu a falar da enorme influência da extrema-direita e das suas forças paramilitares na política e no Estado ucraniano – como alguns grandes media faziam ocasionalmente, antes de 2022.

Bruno de Carvalho, e as outras vozes críticas da narrativa ocidental, são demonizadas porque dificultam o trabalho dos propagandistas na construção da imagem imaculada de um regime ucraniano bastião da liberdade face às trevas da Rússia.

Bruno foi e é um entrave à tentativa de imposição de um regime de verdade única sobre um conflito que está a ser sustentado por um esforço de guerra do Ocidente, cujo peso se abate sobre os povos da Europa na forma de aumentos dos preços da energia e dos combustíveis, inflacção galopante e uma perda generalizada de qualidade de vida.

Por isso, os media e a classe dominante tentam colar o Bruno de Carvalho a posições a favor da invasão russa da Ucrânia e de Vladimir Putin, como também fizeram connosco. Isto apesar de nem ele nem nós escondermos as nossas convicções e posicionamentos políticos. Como o Bruno afirma no texto acima referido, “não só nunca defendi as opções políticas e militares de Moscovo nas minhas reportagens como é público que na minha vida pessoal não me identifico com modelos económicos e políticos como aquele que vigora na Rússia”.

Numa época em que vivemos a ascensão da extrema-direita e a normalização das práticas autoritárias por esse Ocidente fora, é nestes momentos cruciais que se defende a liberdade, praticando-a.

Amanhã, às 18h30, todas e todos à Livraria Buchholz!

Gostaste do artigo? Considera subscrever a newsletter. Permite-nos chegar a ti directamente e evitar a censura das redes sociais.

Sigam o nosso trabalho via Facebook, Twitter, Youtube, Instagram ou Telegram; partilhem via os bonitos botões vermelhos abaixo.

Right Menu Icon