Os 13 dias entre o ataque israelita e a retaliação do Irão~ 9 min

Por F

No dia 1 de Abril, as forças israelitas bombardeiam um edifício entre as embaixadas do Irão e do Canadá na capital síria. O edifício, que albergava os serviços consulares iranianos,  fica totalmente reduzido a escombros. Pelo menos 16 pessoas são mortas no ataque, incluindo 7 altos cargos das IRGC, entre eles Mohammad Reza Zahedi, que dirigia as Forças Quds na Síria e no Líbano.

Sendo parte da embaixada iraniana, o edifício bombardeado é considerado território soberano iraniano – o ataque é, portanto, um acto de guerra, e o direito internacional concede ao Irão o direito de retaliar.

O ataque à embaixada iraniana, levado a cabo pela força aérea israelita, só tem como precedente o ataque à embaixada chinesa em Belgrado, durante a guerra da Jugoslávia. Nessa ocasião, os EUA pediram desculpas, disseram que foi um erro e pagaram uma compensação; neste caso, Israel não só não pede desculpas, como se vangloria pelo ataque.

As autoridades iranianas condenam o ataque e afirmam que a resposta chegará, num momento e forma à sua escolha. O Conselho de Segurança da ONU, graças ao poder das potencias ocidentais, não reage nem condena o ataque, reforçando a impunidade de que goza Israel.

Resultado do bombardeamento israelita em Damasco [Fonte: CNN]

Embaixada canadiana danificada

Segundo a CBC News, o edifício da embaixada candiana é danificado pelo bombardeamento israelita, que provoca uma forte onda de choque que atinge os edifícios circundantes. Várias janelas são destruídas, não tendo sido ainda possível avaliar os danos estruturais ao edifício.

A embaixada canadiana cessou operações em 2012, após o início da Guerra na Síria, pelo que não se encontra ninguém no local e não são registadas vítimas. No entanto, o edifício continua a ser propriedade do governo canadiano, que apesar disso se mantém em (quase) absoluto silêncio sobre os danos causados.

É incrível como os danos a uma embaixada ocidental passam despercebidos quando são infligidos por Israel. Não é difícil imaginar o circo a que estaríamos a assistir se, na madrugada de ontem, uns pequenos destroços de um drone iraniano tivessem caído sobre uma embaixada ocidental em Tel Aviv, e feito um risco na fachada.

Guerra Psicológica

A partir de 3 de Abril, o Irão leva a cabo uma série de acções que espalham o pânico no seio da sociedade israelita. As transmissões de canais de televisão iranianos são interrompidas para exibir mensagens de vingança e outdoors com frases ameaçadoras são colocados nas ruas de Teerão.

Outdoor na Praça Valiasr, em Teerão, com a mensagem “Tempestade dos Livres”, a 4 de Abril

A 7 de Abril, surgem nos media informações de que o Irão havia comunicado aos Estados Unidos que tinha intenções de atacar directamente Israel, a menos que os EUA garantissem um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza e o cancelamento da invasão terrestre de Rafah.

O Irão está, portanto, disposto a abdicar do seu direito a retaliar contra Israel caso seja posto um fim ao genocídio em curso na Faixa de Gaza.

Israel paralisada pelo pânico

A 4 de Abril, o pânico começa a instalar-se em Israel. As IDF chamam todas as reservas, cancelam férias e fins-de-semana ao pessoal do exército e desactivam os serviços de GPS para dificultar um possível ataque iraniano. As forças aeroespaciais iranianas, no entanto, afirmam que todos os seus mísseis “produzidos nos últimos 12 anos não usam sinais de GPS”.

Desde esse dia, a um ritmo quase diário, os media israelitas e ocidentais afirmam que a retaliação do Irão é iminente e vai ter lugar nas 48 horas seguintes.

Não havendo certezas de como a retaliação se iria materializar – se num ataque contra Israel propriamente dita, ou contra uma embaixada – 28 embaixadas israelitas em todo o mundo são encerradas e o pessoal evacuado.

A 6 de Abril, o Home Front Command das IDF emite instruções de emergência que aconselham a população a ter mantimentos para sobreviver pelo menos 3 dias, fotocopiar documentos importantes, ter os depósitos dos veículos cheios e ter à mão dinheiro físico, um rádio e uma lanterna.

Nos dias seguintes, um grande número de países pede aos seus cidadãos para não viajarem para o Irão e Israel, para abandonarem estes territórios ou para limitarem as suas deslocações. Vários países evacuam pessoal diplomático e as suas famílias, e várias companhias aéreas suspendem os seus voos para Israel ou o Irão, ou para ambos.

No dia 13 de Abril, algumas horas antes do ataque, o Home Front Command anuncia o encerramento de todas as escolas em Israel a partir do dia seguinte, e ordena que os ajuntamentos públicos não excedam as 1000 pessoas. Os abrigos anti-bomba na região de Tel Aviv-Yafo são abertos, e todas as praias públicas no Mar Mediterrâneo e no Mar da Galileia são encerradas.

Retaliação podia ter sido evitada pela acção do Conselho de Segurança

No dia 11 de Abril, a Missão permanente do Irão nas Nações Unidas emite as seguintes declarações:

Se o Conselho de Segurança da ONU tivesse condenado o repreensível acto de agressão do regime sionista contra as nossas instalações diplomáticas em Damasco, e subsequentemente levado à justiça os seus perpetradores, o imperativo de o Irão punir este regime criminoso poderia ter sido evitado.

Fonte

No mesmo dia, o Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano reage ao enorme volume de chamadas de líderes recebidas nas últimas horas, rejeitando quaisquer tentativas de mediação e afirmando que os países “deviam ter condenado a agressão israelita quando tiveram oportunidade”, e que uma punição era necessária.

Os Estados Unidos pedem à China para pressionar o Irão a mostrar contenção relativamente a Israel, mas a China recusa. Vários países da região, como o Qatar, a Turquia e o Kuwait, notificam os Estados Unidos de que não permitirão a utilização de bases no seu território para lançar ataques contra o Irão.

Navio israelita capturado no Estreito de Ormuz

Na manhã de dia 13, horas antes da retaliação iraniana, as IRGC abordam e apreendem o navio MSC Aries, enquanto este navegava no Estreito de Ormuz. Apesar de navegar com a bandeira portuguesa, o navio pertence a uma empresa que, por sua vez, pertence ao grupo Zodiac do bilionário Israelita Eyal Ofer.

Momento em que forças especiais das IRGC abordam o MSC Aries

Algumas horas depois, o embaixador israelita em Portugal tenta envolver o governo português numa disputa com o Irão, dando a entender que Portugal deveria responder ao Irão pelo navio que este apreendeu quando, como aponta o canal de telegram Sófia Smirnov, “a única relação que tem com Portugal é o facto de estar registado na zona franca da Madeira”.  

Eyal Ofer é um dos israelitas mais ricos de Israel e o seu pai, também envolvido no negócio dos navios de carga até falecer em 2011, transportava forças de elite israelitas para ataques dentro do Irão. 

O cerco aperta

Esta é a primeira acção levada a cabo pelo Irão desde o ataque contra a embaixada iraniana. Desde o primeiro momento, está claro que não seria a resposta ao ataque israelita, mas relembra Israel e o Ocidente do poder que o Irão tem, ao controlar o acesso ao Golfo Pérsico.

Um eventual bloqueio do Estreito de Ormuz comprometeria o corredor terrestre que abastece Israel a partir de portos nos Emirados Árabes Unidos e no Bahrein, através da Arábia Saudita e da Jordânia.

Neste momento, com o porto de Eilat parado devido ao bloqueio do Mar Vermelho, este corredor é usado para todo o comércio de Israel com o continente asiático. Se o Irão iniciar um bloqueio ao transporte marítimo ligado a Israel com origem ou destino nos portos do Golfo Pérsico, Israel ficará efectivamente excluída de qualquer comércio com a Ásia e terá de importar tudo através dos seus portos de Haifa e Ashdod, no Mar Mediterrâneo.

Corredor usado para transportar mercadorias de e para Israel

Além disso, se for bloqueado o Estreito de Omuz, fica comprometido o acesso marítimo do Ocidente à Arábia Saudita e aos restantes estados do Golfo.

Um bloqueio deste estreito, a par com o bloqueio do Mar Vermelho pelo Iémen, teria consequências catastróficas para o sistema global de produção e distribuição – afinal, por estas duas massas de água passa 40% do petróleo comercializado no mundo.

O poder do Irão

Vemos, assim, como as promessas do Irão, mesmo antes de serem postas em prática, espalharam o pânico na sociedade israelita e paralisam o regime sionista. Israel, habituada a não sofrer consequências pelas suas acções, vê a sua imagem de invulnerabilidade e invencibilidade ser destroçada.

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