Guerra na Ucrânia: Propaganda anti-comunista começa a dar frutos~ 7 min

Por Víctor Boaventura e Francisco Norega

A campanha de desinformação sobre a suposta “não-condenação da guerra na Ucrânia” pelo PCP começou, ao 4º dia, a dar resultados – a sede do partido em Beja foi ontem vandalizada com mensagens anti-comunistas. Ser anti-guerra é a nova desculpa para ser anti-comunista.

E desengane-se quem achar que aventuras que dêem espaço ao “anti-comunismo” só vão sobrar para o PCP. Depois de solta, a besta não distinguirá comunistas de bloquistas, anarquistas ou quaisquer outras pessoas ou organizações que, na cabeça de um grunho, caibam nesse rótulo de “comunista”.

Sede do PCP em Beja

Também ontem, durante um protesto em frente à embaixada russa em Lisboa, foi atacada uma banca da Esquerda Revolucionária, onde alguns militantes distribuíam panfletos contra a “guerra imperialista na Ucrânia” e pela saída das tropas de Putin e da NATO. Durante as duas horas em que permaneceram nessa manifestação, os militantes foram sendo assediados e atacados verbalmente com frases exaltadas anti-comunistas. Até que, quando começaram a chegar em massa os contingentes de betos de pólo e camisa vindos da Lapa, Estrela, Avenida de Roma e Telheiras, de Cascais e do Estoril, as coisas começaram a subir de tom. Face às crescentes ameaças, os militantes começaram a recuar no sentido de arrumar os materiais, quando foram rodeados por elementos mais agressivos e ameaçadores que soltavam soltavam frases como «Comunismo é merda» e «Morram comunistas», atirando a propaganda ao chão e pontapeando a banca.

Francisco Raposo, o histórico militante da Esquerda Revolucionária, diz que se avizinham tempos em que, «quem estiver contra a NATO, vai ter dificuldade na intervenção. A nossa organização continuará a intervir».

À direita, panfleto distribuido pela Esquerda Revolucionária;
à esquerda, fotos da banca na manifestação de ontem, depois de atacada (Fonte)

Esses sentimentos e discursos anti-comunistas terão na guerra na Ucrânia terreno fértil para florescer sempre que a análise da invasão russa e da situação trágica vivida pela população ucraniana seja desprovida de contextualização e compreensão da quota parte de responsabilidade do Ocidente em termos chegado onde chegámos. A Rússia é responsável pela invasão da Ucrânia, mas não fez o caminho até lá sozinha.

PCP, um amigo de Putin? Rússia comunista?
Em que ano estamos?

Quando lemos o jornal e ouvimos os comentadores a falar na televisão, ficamos a perguntar-nos se voltámos aos anos 80. A União Soviética não acabou em 1991? Não será a Rússia um estado perfeitamente integrado no sistema capitalista? Não critica Putin os bolcheviques, a União Soviética e os seus vários líderes nos seus longos discursos? Putin é um líder autocrático de uma das potências mundiais, mas comunista não é certamente.

Mas vamos aos factos – o PCP condenou ou não condenou?

No debate de anteontem na CNN Portugal, o histórico militante do PCP, António Filipe, condenou a invasão russa: «Há uma invasão e todos condenamos, isso é evidente», apelando em seguida a procurar uma via diplomática para solucionar o conflito. 

Logo na quinta-feira, dia de início da invasão, já o tinha dito Bernardino Soares, também na CNN: «O que está a acontecer é uma tragédia. O que se exige neste momento é um cessar fogo imediato e o desescalar da ofensiva militar, das presenças militares, para criar condições para uma via diplomática para a solução do conflito, isso é a questão essencial. O povo ucraniano sofre com esta situação, isto pode alastrar a outros povos e outras zonas daquela região, e portanto esse é o ponto fundamental.»

Também na quinta-feira, no Parlamento, João Oliveira tinha afirmado que «A guerra não é solução seja para que problema for e é preciso todos os esforços para a evitar. Por isso, consideramos que a situação que se vive no leste europeu exige de Portugal e do governo português uma intervenção que contrarie essa escalada de confrontação política, económica e militar, que contribua para o desanuviamento da situação e para uma solução negociada que garanta a paz». Às insinuações do Ministro dos Negócios Estrangeiros de que não estavam a condenar a invasão russa, João Oliveira respondeu: «Os senhores pedem-nos que nós condenemos apenas uma circunstância, nós condenamos todo o caminho que nos trouxe até aqui, porque a escalada de confrontação política, económica e militar não é um acto nem uma circunstância isolada».

Bernardino Soares, na CNN, disse ainda: «O que o PCP faz é não condenar apenas uma parte do problema, porque é verdade que esta ofensiva militar russa é uma escalada profundamente negativa nesta situação, mas a história não começou ontem à noite. Há, por um lado, uma tentativa de Putin com os seus tiques czaristas com a sua linha anti-comunista, de criar determinadas situações, em particular na Ucrânia, mas há também o percurso que vem desde a queda da União Soviética em que se convencionaram determinadas linhas político-diplomáticas, uma delas era que a NATO não alargaria as suas fronteiras (…) em direcção da fronteira da Rússia. (…) Não podemos ignorar que este cerco estratégico, militar e político à Rússia com toda a probabilidade poderia gerar esta reacção, como gerou, e isso não significa que a reacção seja correcta.»

Extrema-direita esfrega as mãos

A extrema-direita está sempre ansiosa por se atirar aos comunistas a quem, claro, atribuem as culpas de todos os males do mundo. Ontem soubemos ainda, através de uma reportagem da Visão, que Mário Machado terá avisado nas redes sociais que «vários membros da extrema-direita portuguesa manifestaram a intenção de “preparar a invasão e destruição das sedes” do PCP». Este neonazi desaconselha os “camaradas”, mas apenas “devido à vigilância apertada das forças de informação e segurança nacionais”, fazendo eco da mentira que os media quiseram tornar verdade de que há um  “total apoio do PCP à Invasão da Europa”. Não fosse por esse risco de irem parar à prisão, a extrema-direita já teria certamente limpado a sociedade da “praga comunista”.

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