Ucrânia // Mentiras põem em perigo jornalista a fazer cobertura da guerra~ 3 min

Por Valdemar Gomes e Víctor Boaventura

Começou a circular no Twitter um vídeo, partilhado por alguém que se identifica como Nelson Pereira, que interpela a CNN sobre o jornalista Bruno Carvalho, que se encontra a fazer cobertura na região de Donbass, seguindo o vergonhoso método de Ana Gomes de o apresentar como um “infiltrado das forças russas”. Só que, neste vídeo, onde aparece o número dois de Kadyrov (líder checheno a combater na Ucrânia), partilhado dezenas e dezenas de vezes, não está Bruno. 

Decidimos partilhar em solidariedade o comunicado deste jornalista que arrisca a sua pele para dar-nos uma fonte legítima do que se passa no território em conflito. Alguém que, por contrastar com a propaganda oficial e cronometrada pelos relógios do imperialismo, da NATO e do mundo ocidental, sofre tentativas de censura e ataques insensatos de jornalistas ditos defensores da liberdade de imprensa.

Segue o comunicado publicado pelo Bruno Carvalho no seu canal de Telegram:

Eu não vim para Donbass para receber medalhas ou palmadinhas nas costas. Vim para fazer jornalismo. Contribuir com o meu trabalho para que as pessoas tenham mais elementos para acompanhar esta guerra.

Naturalmente, não posso informar sobre aquilo que não vejo nem sobre lugares onde não estou mas acredito que, a par de outros jornalistas do outro lado da linha da frente, possa fazer a minha parte para que haja uma compreensão mais geral do conflito.

Há muitos jornalistas, incluindo ocidentais, que trabalham sob a protecção das forças russas como acontece do outro lado com as forças ucranianas. Respeito essa decisão porque não sou ninguém para julgar quem prefere trabalhar com mais condições de segurança e com acesso privilegiado a certas zonas.

Assumo o risco de fazer jornalismo sem cobertura militar. Até ao momento, em quase um mês na região, só participei em duas visitas organizadas por militares, devidamente referidas como tal nos meus trabalhos. A forma mal intencionada como procuraram apresentar-me como sendo um dos jornalistas que aparecem num vídeo divulgado por Ramzan Kadirov tem o objectivo de pôr em causa o meu trabalho e de me colar a um dos lados do conflito deixando-me exposto a maiores perigos.

Naturalmente, se tivesse participado nesta visita não só tê-lo-ia assumido como teria tentado uma entrevista com o braço direito de Kadirov. O facto é que não estive entre os jornalistas desse grupo. Sabendo-me na linha da frente, quem o faz, tem a perfeita noção de que está a pôr em risco a minha integridade física no caso de entrar em áreas controladas pela Ucrânia.

Sei que a minha presença aqui suscita alguns ódios e paixões e tenho evitado entrar em debate sobre tudo o que seja paralelo ao meu trabalho. É esse e só esse que deve ser julgado e escrutinado porque é na qualidade de jornalista que aqui estou.

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