Incêndios // Enquanto Lisboa não arder, nada mudará no Eucaliptugal~ 4 min

Por Guilhotina.info

Portugal arde, mais uma vez. As fotos, os vídeos e os relatos sucedem-se a um ritmo alucinante, e ainda assim são incapazes de refletir a dimensão real da brutalidade vivida por quem está na linha da frente, dos bombeiros às populações, que fazem de tudo para salvar o seu sustento, os seus lares e, acima de tudo, as suas vidas.

Durante o Verão e o Outono de 2017, morreram mais de 100 pessoas na região centro e meio milhão de hectares foram consumidos pelas chamas, assim como quase mil casas de habitação permanente, de norte a sul do território. Muitas famílias continuam, 5 anos depois, sem casa. Os acontecimentos de 17 de Junho e 15 e 16 de Outubro desse ano são tragédias à espera de voltar a acontecer.

Hoje, a região centro é, mais uma vez, a mais fustigada. A região centro, que curiosamente é a região com maior concentração de eucaliptos.

Enquanto isto acontece, o jornalismo sensacionalista produz ininterruptamente reportagens alarmistas sobre as ondas de calor e apela à responsabilidade individual. E, no entanto, falha uma e outra vez em referir o elefante na sala: a transformação de grande parte do território numa manta de eucalipto ininterrupta. As populações do interior centro e norte (mas também de cada vez mais zonas do litoral e sul) vivem completamente rodeadas de um “ecossistema” que está algures entre um armazém de fósforos e um barril de explosivos.

Sim, as alterações climáticas são um factor que vai agravar cada vez mais o problema. E a sua aceleração, para a qual muitos cientistas já vinham alertando há várias décadas, é uma realidade inegável que tudo indica estar apenas no início. Com o recente regresso da UE ao carvão, o poder político agrava a sua responsabilidade no problema, enquanto exige da parte das pessoas comuns acções individuais para combater um problema que eles próprios criam.

Sim, temos de nos preparar para vagas de incêndios cada vez mais agressivas. E sim, devemos ter cuidado, beber muita água e evitar churrascadas com os amigos em zonas florestais, mas não vai ser isso que nos vai salvar da repetição destas tragédias.

Tudo o que tem vindo a acontecer, ano após ano, é resultado directo de décadas de uma política florestal negligente e criminosa. Abandonados pelos nossos governantes, a sobrevivência no interior depende, a cada verão, mais da sorte e da fé do que de qualquer outra coisa.

Ser o país com mais área plantada de eucaliptos de toda a União Europeia (sim, em termos absolutos, não em área relativa) tem consequências. Pode ser bom para o PIB e para as contas bancárias de meia dúzia de oligarcas do papel e dos aviões de combate a incêndios, mas vem com o pesado custo da destruição e da perda de vidas humanas. 

Os acontecimentos de 2017 são tragédias à espera de voltar a acontecer. E tanto a inacção da nossa classe governante instalada nos palácios em Lisboa como a cumplicidade dos media são criminosas.

Tudo indica que nada podemos esperar dos senhores de colarinho branco sentados no conforto da capital, que estes continuarão a nada fazer e a fingir preocupação enquanto ignoram o problema. Enquanto o fogo não for levado até Belém ou São Bento, para que estes criminosos compreendam na pele o inferno em que vive o resto do território, nada vai mudar no Eucaliptugal.

Haverá por aí, infelizmente, muitos madeireiros que viram a sua região ser consumida pelas chamas ou perderam familiares ou amigos nos incêndios, e terão assim acordado para o problema dos eucaliptos. Se souberem de algum disponível para levar um carregamento de eucalipto para a capital, e dar aos nossos governantes uma amostra daquilo que o resto do território vive ano após ano, passem-lhe a mensagem. As populações agradecem.

Portugal é um país com 35% de área florestal mas não tem serviços florestais nem corpos de guardas. Sobre as consequências da monocultura de eucalipto, o “Simplex do Eucalipto”, os negócios milionários com os meios aéreos de combate a incêndios e as falhas do sistema de Proteção Civil, republicaremos nos próximos dias um artigo que publicámos em 2017, na altura apenas na nossa antiga página do Facebook, hackeada em Março deste ano. Como a equipa técnica do Zuckerberg “não conseguiu” resolver este “hack”, desta vez ficará para a posteridade no nosso site, longe do alcance dos Meta-censores.

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