Ucrânia // Paz Entre Povos, Guerra aos Poderosos!~ 6 min

Por Guilhotina.info

Os antecedentes que nos trouxeram à actual situação na Ucrânia em 10 pontos:

1) 2014. Extrema-direita lidera protestos para derrubar o governo ucraniano. O ocidente? Apoia o “povo ucraniano” nas suas exigências de “liberdade e democracia” e o golpe que depõe Yanukovich. Dá sempre jeito um governo fantoche, mesmo que apoiado na extrema-direita.

2) Nesse mesmo ano, avança a proibição das línguas minoritárias (russo, grego e húngaro) no Parlamento e, na metade sudeste da Ucrânia, começam campanhas de terror contra a população maioritariamente russófona. No início de Maio de 2014, dá-se o massacre de Odessa, em que 38 pessoas foram mortas quando fascistas pegaram fogo à Casa dos Sindicatos de Odessa [1]. Testemunhas afirmam que aqueles que saltaram do edifício em chamas e sobreviveram foram rodeados e espancados por membros do Pravy Sector, organização paramilitar de extrema-direita que utiliza a bandeira do Exército Insurgente Ucraniano (UPA), uma organização nacionalista paramilitar activa entre 1942 e 1956, que colaborou em diversas ocasiões com a Alemanha nazi em combates contra as forças soviéticas durante a 2ª Guerra Mundial e que levou a cabo processos de limpeza étnica contra populações polacas nas regiões da Volhynia e da Galicia. A UPA e outras organizações de extrema-direita ainda gozam de altas taxas de aceitação nestas mesmas regiões (página 13 deste documento).

Bandeira da UPA avistada no protesto de ontem na Praça do Município,
publicitado pela Câmara Municipal de Lisboa.

Depois veio a proibição do ensino da língua russa e outras línguas minoritárias a partir do 4º ano de escolaridade, ordens executivas para encerrar estações televisivas de língua russa, parlamentos regionais a banir artes de língua russa, desde música a livros e filmes, uma decisão que impede, por exemplo, cafés, restaurantes e transportes públicos de pôr a tocar música em russo, obrigatoriedade de utilização do ucraniano nos meios de comunicação, entre muitas outras leis. [1] [2] [3] [4]

3) O Ocidente e os seus media não acham nada disto digno de menção, muito menos de preocupação, mas ficam escandalizados com a integração da Crimeia na Rússia. Cerca de 60% da população é etnicamente russa e 77% tem o russo como língua materna.

4) O Ocidente canaliza milhões e milhões para “apoiar” um estado controlado pela extrema-direita, que tem toda uma unidade da Guarda Nacional Ucraniana entregue ao Batalhão de Azov, uma organização paramilitar neonazi que chegou a estar na lista de unidades a serem treinadas pelas Forças Especiais norte-americanas e que está conectada com diversos crimes de guerra segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Em 2010, o então Presidente da Ucrânia (não o malvadão Yanukovich, mas Yushchenko, o seu antecessor) reconheceu como herói nacional Stepan Bandera, um dos mais destacados nacionalistas ucraniano que colaborou com a Alemanha nazi. Este processo de lavagem histórica para glorificar nacionalistas colaboradores com os nazis e vilificar o comunismo continuou depois do golpe de 2014, com o governo ucraniano a violar sistematicamente os acordos de Minsk para alimentar sentimentos nacionalistas e de ódio não só à Rússia, mas também às regiões ucranianas de maioria russófona. Em 2015, o governo pós-Maidan de Petro Poroshenko instituiu o feriado do Dia dos Defensores da Ucrânia – a data escolhida? 15 de Outubro, dia da celebração ortodoxa da Intersecção de Teótoco e também o dia escolhido pela UPA para a data oficial da sua fundação.

5) A NATO faz regularmente exercícios militares na Europa, nomeadamente no Báltico, na Escandinávia (2016 e 2018), no Ártico (2020), na Geórgia (2019, 2020) e no Leste europeu (2021). Os exercícios Defender Europe 2020, anunciados como os terceiros maiores exercícios militares desde o fim da Guerra Fria, acabaram por ser reduzidos por causa da pandemia. Ainda assim, em Agosto e Setembro de 2020, 6 bombardeiros nucleares norte-americanos B-52 levaram a cabo pelo menos 18 missões no espaço aéreo europeu. Ao todo, entre 2018 e 2020, os EUA levaram a cabo mais de 200 missões com bombardeiros com os Aliados e parceiros, incluindo nos mares Nórdico, Báltico e Negro (Maio 2020) e no oceano Ártico, um número sem precedentes desde o fim da Guerra Fria. Há apenas 4 dias, os EUA mobilizaram bombardeiros B-52 para a República Checa, onde participaram em manobras com as forças aéreas locais, e para outras posições no Leste da Europa.

O Exercício Defender Europe 21 mobilizou 28 mil tropas de 26 países para operações em 12 países europeus, num exercício militar focado nos Balcãs e no Mar Negro.

Os EUA, através do comando “US Army Europe & Africa”, fazem ainda exercícios anuais na Ucrânia, um exemplo entre muitos os que se encontram na extensa lista de exercícios deste comando norte-americano.

6) A NATO e a UE tentam por todos os meios integrar a Ucrânia nas suas esferas de influência, mesmo sabendo os riscos para a segurança colectiva que isso comporta. Um processo encabeçado pelos EUA há décadas, em desrespeito às promessas que fez à Rússia pós-queda da USSR de não expandir a NATO para as suas fronteiras. Sabemos hoje também que a Rússia chegou a conversar com os EUA, em 2000, sobre a possibilidade desta entrar na NATO. Os EUA, na prática, fecharam-lhe a porta.

7) Rússia cansa-se das brincadeiras e marca as suas linhas vermelhas.

8) Ocidente não cede porque “a Ucrânia tem direito a escolher soberanamente as suas alianças!”

9) “Ai a Rússia malvadona que invadiu a Ucrânia!”
O Ocidente “democrático e livre” fica escandalizado.

10) Milhares de pessoas podem morrer neste conflito? Vejamos o lado positivo: é uma oportunidade para nos libertarmos do malvadão petróleo e gás natural russos e apostar na transição energética! Ainda não estamos prontos para a conversão total da economia? Enquanto isso, viveremos uma das maiores crises energéticas dos nossos tempos, inflação e o diabo a quatro, e vamos importando gás de fracking e petróleo dos EUA, mais caros e transportados através do Atlântico em navios a queimar milhões de litros de combustíveis fósseis!

Um conflito entre superpotências nunca servirá os povos nem de um lado, nem de outro, mas fará alguns capitalistas ainda mais absurdamente ricos. Somos meros peões no cenário geopolítico.

Paz entre os Povos!
Guerra aos poderosos!

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